A primeira palestra foi proferida por André Sorio, engenheiro agrônomo e consultor em sistemas pecuários e estudos de competitividade agroindustrial. Ele disse que o sistema agroindustrial precisa ser forte não só no campo, mas sim, como um todo, pois o Brasil tem vários problemas de competitividade. De acordo com ele, o maior paradoxo da ovinocultura é os produtores reclamarem que não têm para quem vender ao mesmo tempo que a indústria está ociosa e os consumidores estão ávidos pelo produto. “Nas gôndolas dos supermercados há uma pequena parcela de carne de cordeiro formal nacional e a outra grande parte é composta por carne importada de má qualidade. Hoje os preços das importações uruguaias são muito altos, pois eles sabem da nossa deficiência em atendermos nossa demanda interna. O preço para o consumidor fica altíssimo, pois o varejo ainda coloca uma margem grande no valor do produto já que há pessoas que pagam por isso”, completou ele.
Sorio frisou algumas considerações a favor da ovinocultura no país, como: mercado em constante crescimento, tradição brasileira de criar animais a pasto, base industrial já instalada e organizações estabelecidas. Como dificuldades, apontou o crescimento de um mercado exigente, ausência de uma seleção genética que busque produção, falta de larga escala, pouco treinamento de criadores e carência mão de obra. “Alguns desses problemas podem ser solucionados com o estabelecimento de contratos de longo prazo, aumento de escala da produção primária, parcerias indústria-produtor e parcerias varejo-indústria. Devemos combater a carne clandestina, facilitar o abate legalizado e fiscalizar os pontos de venda”, finalizou ele.
A segunda palestra foi ministrada por Fernando Miranda de Vargas Júnior, zootecnista e professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que iniciou dizendo que ao invés de buscarmos incessantemente novas técnicas, devemos primeiro aprender a usar aquelas já estão disponíveis, pois muitas vezes nem o básico estamos fazendo. “O objetivo é produzir mais com menos. Para o produtor ter êxito nos negócios ele primeiro tem que se perguntar: Como começar? O que produzir? Como produzir? Onde quero chegar? Para quem produzir? Temos que ter foco para atingirmos as metas e sempre ficarmos atentos aos índices zootécnicos como: taxa de fertilidade, número de crias, intervalo entre partos”.
Sobre o manejo dos animais, Fernando lembrou que quanto mais adaptada no ambiente de criação estiver a matriz, menos custos terá o produtor. Além disso, ele citou que, nutricionalmente, precisamos pensar em todas as categorias animais, pois as exigências são diferentes. “Otimizar o ritmo de crescimento dos cordeiros por meio de uma boa alimentação láctea com a utilização do creep feeding resulta em uma desmama precoce, menos estresse na separação mãe e filho, menos desgaste das fêmeas, diminuição do intervalo entre partos, maior ganho de peso das crias, peso de abate precoce, melhor qualidade da carcaça e menos infestação por vermes. Por fim, há um retorno rápido do capital investido. A terminação ainda no desmame reduz os custos com a alimentação e a nutrição é o melhor vermífugo”. Miranda ainda destacou que a nutrição das matrizes representa os maiores custos, porém, a ineficiência delas onera todo o sistema.
Camila Raineri, zootecnista, produtora de ovinos e mestre e doutora pela Universidade de São Paulo (USP) falou sobre “Características técnicas e econômicas de sistemas de criação de ovinos” e abriu o tema comentando que o produtor não inclui nos seus custos de produção vários itens, como por exemplo, a depreciação da terra. “Ele tem medo de colocar na conta. Há uma ideia errada na cabeça do produtor de quanto custa o produto dele, mas, posso afirmar que com o aumento da eficiência técnica, os custos entram em processo de redução. Os custos caem por aprendizado, pois alguns gastos estratégicos como a aquisição de um reprodutor produtivo ou uma suplementação planejada reduzem as despesas lá na frente”.
A palestrante lembrou sobre importância da escrituração zootécnica e da informação, pois os criadores precisam dos dados da sua propriedade para tomar decisões. “O ovinocultor tem que controlar sua produção anotando tudo da forma mais prática que ele achar, independendo do tipo de identificação dos animais”. Ela também falou que hoje a maior parte das ovelhas e cordeiros no Brasil passa fome. “Se o pasto não dá conta, precisamos pensar em alternativas, principalmente na seca. Temos que dar alimentos para as matrizes, pois o cordeiro que desmama pesado consegue até ganhar 300g/dia”. A técnica de separar lotes de animais também foi abordada na palestra. “Quando separamos os animais em lotes, evitamos que as cordeiras sejam cobertas pelos seus irmãos e ocorra a endogamia, conseguimos suplementar os animais adequadamente e controlamos a prenhez. Temos que aprender a vender as outras categorias (ovelha de descarte, borregas, etc) não só os cordeiros, pois esses valores no final fazem a diferença”.
Cristiane Rabaioli, zootecnista e diretora da Estância Celeiro, falou da importância de um mercado nacional reformulado, uma vez que este ainda é abastecido com carne ovina de animais velhos com baixa qualidade da carcaça, o que exerce uma influência negativa. “O cordeiro é a categoria animal que oferece carne de maior aceitabilidade no mercado consumidor. Hoje, tudo o que eu tenho eu vendo, porém, em Mato Grosso estamos tendo muita dificuldade em encontrar animais. O frigorífico inclusive ficou um mês inteiro sem abater cordeiros. Um dos grandes problemas que enfrentamos, além disso, é a despadronização das carcaças e a falta de técnica dos criadores visto que não temos a cultura de nos comprometermos tanto no associativismo e no cooperativismo”.
Cristiane disse que atualmente não consegue comprar todos os animais de descarte, pois os consumidores do estado não tem o hábito de consumir produtos feitos com esse tipo de carne, como carne de sol e linguiça. Segundo ela, a Estância Celeiro terá que achar uma solução para isso já que sabem da importância da viabilização desse negócio. “Estamos presos em paradigmas: preços, parasitas, predadores, seleção no olho, abate informal, etc. Assim os resultados ficam difíceis de serem alcançados. A Estância Celeiro sempre estará à disposição. Somos transparentes e não vamos prometer algo que não conseguimos cumprir”.
A última palestra foi de Paulo de Tarso dos Santos Martins, zootecnista e responsável pela Planner em Cuiabá/MT, empresa de consultoria para investimentos e empreendimentos nos principais segmentos do agronegócio. Na opinião do zootecnista, os principais desafios da ovinocultura no Centro-Oeste são: seca e chuva (que também são aliadas porque são estações bem definidas, fato que favorece o planejamento), extensão rural e assistência técnica. Segundo ele, nós precisamos aprender a sustentar a agricultura por meio da pecuária e vice e versa. “Quando o preço do milho está baixo, uma opção é fornecê-lo aos animais, valorizando o grão”, disse Martins. Paulo encerrou a apresentação comentando que a ovinocultura pode se desenvolver em áreas que não estão sendo utilizadas pela agricultura e que conseguimos ter rentabilidade com a atividade.
Raquel Maria Cury Rodrigues, coordenadora do FarmPoint.
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