Na semana passada, o FarmPoint realizou uma nova enquete com o objetivo de conhecer qual é o método mais utilizado pelos produtores de ovinos e/ou caprinos para controlar a verminose (OPG e/ou Famacha). Além de produtores, o FarmPoint entrou em contato com vários especialistas do setor para a concessão de opiniões sobre o assunto. A enquete teve a participação de 13 estados brasileiros (MS, SC, SP, PA, RS, PR, BA, MG, SE, CE, RJ, PB e ES).
A maioria (39,1%) dos produtores de ovinos e/ou caprinos que participaram da enquete responderam que utilizam o método FAMACHA para controlar a verminose. Em seguida, ficaram empatados em segundo lugar o exame de OPG (ovos por grama) conciliado com o método FAMACHA (26,1%) e apenas o exame de OPG (26,1%). E em último lugar, o uso de homeopatia e fitoterápicos (8,7%).
Gráfico 1 - Métodos utilizados pelos produtores.
Destaques e comentários dos leitores
Método FAMACHA
Estéfano da Mora Pereira, produtor de ovinos de Curaça/BA, comentou que utiliza o método FAMACHA. "O nosso maior gargalo é a falta de um laboratório para a realização de OPG, que acredito ser mais eficaz". Na mesma linha, Thiago Alves de Oliveira, zootecnista de Registro/SP, comentou que usa FAMACHA, porém a resistência tem sido um grande problema. "Quanto ao OPG, é impossível para nós do Vale do Ribeira, pois o único lugar que faz análise (CATI) cobra R$10,00 por amostra".
De acordo com José Alexandre Evangelista Pedrosa, produtor de ovinos de Nova Russas/CE e agente rural da Ematerce, o método FAMACHA se mostrou bastante eficaz e de fácil entendimento em relação ao OPG. "Nossa região é carente de laboratórios de análise. A nossa região, por ser bastante seca, faz com que a ocorrência de vermes ocorra no período de chuvas". Paulo Sérgio Martins Santos, produtor de ovinos e médico veterinário de Ribeirão Pires/SP, citou que também utiliza o método FAMACHA. "Vermifugo os animais que apresentam mucosa rósea bem clara, monitoro e identifico os animais sensíveis a verminose para futuro descarte. Só tenho mantido no plantel os animais mais resistentes a verminose e tenho obtido bons resultados controlando a população de vermes de forma eficiente e barata nas propriedades que atendo".
De acordo com Cecília José Veríssimo, pesquisadora do Instituto de Zootecnia (IZ) de Nova Odessa/SP "a maior vantagem no meu ponto de vista que eu pude perceber no dia-a-dia de uma ovinocultura com cerca de 300 - 500 animais foi que com o uso do FAMACHA a cada 15 dias houve uma redução significativa da mortalidade geral. Primeiro que com o uso constante do FAMACHA você trata antes do animal apresentar aquela anemia de difícil reversão (grau FAMACHA 5), então, o animal tratado ou aqueles separados do rebanho e incluídos na baia de tratamento por causa de anemia (FAMACHA 4) dificilmente morrem e têm uma rápida recuperação só com reforço na alimentação (isso é muito importante em propriedades onde não há vermífugo eficaz, o que, hoje em dia, é muito frequente). O segundo ponto positivo (e extremamente positivo!) foi a reversão da resistência observada em relação a dois grupos de vermífugo (levamisole, em 3 anos passou de 0% de eficácia para mais de 90% e moxidectina, que em 6 anos passou de 0% a 86%). Verificou-se, mais tarde, que, enquanto o FAMACHA foi usado, o levamisole permaneceu com alta eficácia, mas, assim que todo o rebanho foi vermifugado de uma só vez a eficácia do levamisole já caiu para 50%, indicando que, quando se trata de uma cepa de vermes com resistência múltipla (resistente a tudo quanto é grupo de vermífugo), uma vez FAMACHA, sempre FAMACHA!
OPG (exame de ovos por grama)
Thales dos Anjos de Faria Vechiato, médico veterinário e coordenador técnico de Grandes Animais da Agener União Saúde Animal, de São Bernardo do Campo/SP, destaca que tanto o OPG quanto o FAMACHA auxiliam no controle da verminose. "Não acho interessante utilizar o método FAMACHA, pois é muito trabalhoso e em muitos casos inviável na prática, já que temos que mobilizar boa parte dos funcionários. Uma vez me deparei com um problema de resistência num rebanho de elite e realizei além do exame de OPG, o método FAMACHA. Por se tratar de um rebanho elite, a nutrição era fantástica no quesito proteína, e com isso o FAMACHA foi 100% negativo, mas quando fiz o OPG me deparei com quadros acima de 2 mil ovos, na maioria do rebanho. O método FAMACHA deve ser utilizado, no meu ponto de vista, como critério de seleção dos reprodutores e em rebanho pequenos, entretanto, quando se trata de animais comerciais o exame de OPG é fundamental para melhor a visão do que realmente se passa no seu rebanho".
Marcelo Spinola Vianna, produtor de ovinos e diretor de operações da Green Lamb do Brasil de Araruama/RJ, citou que realiza exame de OPG regularmente. "O FAMACHA é um termômetro interessante para alguns casos, mas nada substitui a lâmina do microscópio".
Para Carlito Nóbrega, produtor de ovinos de Presidente Prudente/SP, apesar de o exame de OPG ser caro e trabalhoso, a confiança nos resultados é maior. "Com o OPG, evito a resistência dos animais aos vermífugos. Acho importante sim sempre estar dando uma olhada na mucosa ocular dos animais quando passam pelo tronco, não custa nada e dá para compararmos com os exames laboratoriais para ver se os resultados batem". Carlos Vagas, produtor de ovinos de Santana do Livramento/RS, comentou que faz exame de OPG a cada 30 dias, pois tem lutado bastante contra o verme Haemonchus contortus. "Principalmente nesta época do ano que a quantidade de ovos aumenta muito, fiz uma coleta e o número de ovos aumentou (1900-4400) nas ovelhas prenhas com menos de 30 dias por causa da grande quantidade de chuvas nas região. Depois que comecei a fazer OPG, reduzi o custo com remédios".
OPG e FAMACHA
Segundo Marcelo Beltrão Molento, professor e pesquisador de doenças parasitárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR) de Curitiba/PR, vale usar todas as ferramentas para tentar controlar os parasitas e uma delas é abrir a cabeça dos produtores para o problema da resistência. "Um ponto que deve ficar claro é que se o método FAMACHA é "parcialmente ineficiente" é bom, pois ele obviamente será "parcialmente eficiente" e olha que não conheço um só método que prometa 100% de eficiência. Outro assunto que merece esclarecimento é que jamais seremos capazes de selecionar animais resistentes com zero de OPG e se não tivermos animais tolerantes, nunca sairemos desta sinuca. Eles são fundamentais no dia-a-dia de todas as fazendas. São os sensíveis que devem sair o quanto antes. Então, quem faz OPG nunca deve fazer média e decidir tratar o rebanho pela média e sim iniciar um programa de descarte para aquela categoria de OPG's altos. Pergunta: Quanto altos? Acima de mil, 2 mil, 3 mil, 10 mil. Resposta: tá no olho! Este é o momento de associar as duas ferramentas. Se um animal tem OPG de 2 mil e está bem, ele não sai do grupo e se um outro tem 1 mil e apresenta anemia ou papeira ele entra na lista. Ponto, já estamos ganhando do verme".
William Delaqua, médico veterinário de São Miguel Arcanjo/SP, adota nas propriedades que atende, FAMACHA de 15 em 15 dias e exame de OPG mensal, testando inclusive a eficiência dos vermífugos utilizados em cada tratamento. "Em rebanhos grandes trabalho com amostragem, salvo em surtos, onde há a necessidade de tentar individualizar os animais susceptíveis e/ou tolerantes".
Felipe Benedini, produtor de ovinos e técnico de ovinos e caprinos da Alta genetics, de Uberaba/MG, disse que com o serviço laboratorial com certeza obtém-se resultados mais precisos. Em contra partida, o custo torna-se mais alto e a viabilidade em rebanhos comerciais torna-se um limitante. "O FAMACHA é uma ferramente na qual utilizamos para reduzir custos com laboratório e consequentemente mão-de-obra. Inúmeros selecionadores o utilizam com grande sucesso e outros têm um ponto de vista que é uma técnica vaga em relação aos resultados obtidos." Na mesma linha, Denis Sabin, produtor de ovinos de Pinhão/SE citou que utiliza FAMACHA e quando os gastos com sanidade dos mês são baixos, separa animais de vários lotes, coleta as fezes e faz o exame de OPG. "Infelizmente ainda é caro para nós produtores que não temos laboratórios e dependemos de terceiros."
Cecília José Veríssimo comenta que o grau FAMACHA não tem boa correlação com o OPG. "Isto acontece porque quando se utiliza o método FAMACHA, ou seja, o controle seletivo dos animais, vermífuga-se geralmente, a cada passagem no tronco, no máximo, em torno de 30% de animais do lote. Isso resulta na possibilidade de sobrevivência de outros vermes que somem quando se vermifuga os animais frequentemente, tais como Cooperia, Oesophagostomum e Trichostrongylus. Esses vermes são menos patogênicos do que Haemonchus e produzem ovos como Haemonchus, então, no resultado do OPG, é muito difícil identificar pelos ovos esses gêneros, necessitando então do exame da coprocultura (a cultura das fezes para poder haver a eclosão das larvas que podem ser identificadas por um técnico treinado, pois as diferenças entre elas são extremamente sutis). Resumindo, OPG alto não necessariamente é sinal de perigo, pois o OPG pode estar elevado devido à presença de ovos de outros vermes que não Haemonchus, e que não são tão perigosos. Os sintomas que esses outros vermes podem apresentar é diarreia e perda de peso, pêlos arrepiados e sem brilho, sintomas facilmente identificáveis em uma ida dos animais ao tronco. Por causa disso, recomendo que, ao examinar os animais no tronco, outras condições sejam verificadas para a tomada de decisão para a vermifugação, além da mucosa, tais como: baixa condição corporal, pêlos arrepiados e sem brilho (deslanados) ou lã caindo (lanados), presença de diarreia (bunda suja!).
Homeopatia/Fitoterapia
Fábio Bitti Loureiro, médico veterinário de Aracruz/ES, acredita firmemente que o Brasil e o mundo vêm desperdiçando a oportunidade de utilizar sistematicamente a homeopatia populacional e a fitoterapia no controle de parasitoses em geral. "Hoje temos diversos laboratórios credenciados pelo MAPA com produtos que trabalham o sistema imunológico do rebanho contra endo e ectoparasitos, além de resultados de campo e teses de mestrado e doutorado demonstrando a eficiência destes medicamentos. A diferença entre o tratamento convencional e os alternativos é que a possibilidade de resistência dos parasitos aos medicamentos utilizados é praticamente inexistente. Considerando-se que segundo a Associação de Médicos Veterinários Homeopatas do Brasil (www.amvh.org.br) 11% do rebanho brasileiro bovino é tratado com homeopatias, está na hora de se dar atenção a esta tecnologia de uma forma séria e sem preconceitos".
De acordo com Lucia Mabel Saavedra Bousses, produtora de ovinos de Campo Alegre/SC, o uso do método FAMACHA + OPG + alho, neem, araçá e araucária tem sido excelentes ferramentas no criatório orgânico. "Por não utilizarmos vermífugos convencionais, ovinos com FAMACHA 2-3 são submetidos a tratamento homeopático/fitoterápico visando evitar maiores complicações".
Outras opiniões
Pedro Nacib Jorge Neto, produtor de ovinos e médico veterinário da AllStock do Brasil Genética Ltda., aposta no melhoramento genético e biotecnologias. "O método FAMACHA é parcialmente ineficiente, pois o mesmo avalia o animal individualmente e um animal que estiver ok não significa que não possua vermes e pior, pode ser um animal tolerante à verminose e esteja contaminando o ambiente e, consequentemente, outros animais. Este método deve ser usado com certa precaução, pois podemos estar selecionando animais tolerantes à verminose, o que no ponto de vista zootécnico não é interessante. O correto é selecionarmos animais resistentes. Além disso, este método pode dar falso negativo, pois o método FAMACHA pontua a coloração da conjuntiva, que dá em pontuação o grau de anemia, que está associada entre outras causas ao Haemonchus contortus. Porém anemia pode ser causada por diversos outros fatores como Fasciola hepatica, infecção por Mycoplasma ovis, deficiência de cobre ou molibdênio. Ou seja, para ter certeza do diagnóstico via FAMACHA, devemos desconsiderar todas outras possíveis causas de anemia. Lembrando também que FAMACHA é ineficiente para Ostertagia circumcincta e Trichostrongylus. Para o futuro bem próximo acredito no melhoramento genético + biotecnologias.
Melhoramento Genético: seleção de animais resistentes (e não tolerantes) a verminose. Já fazem isso na Austrália e os resultados são ótimos.
Biotecnologias: Atualmente, a mais próxima da realidade é a utilização de fungos nematófagos que são administrados via oral e saem nas fezes, parasitando então as larvas no pasto. Não existe até hoje no mercado pela dificuldade de produção em larga escala, porém recentemente, a BIOCAMP, laboratório hoje líder no mercado nacional de exclusor competitivo de flora múltipla para avicultura, já conseguiu eficiência na produção em larga escala, já possuindo partidas em testes a campo para liberação do produto junto ao MAPA. Em teste in vitro com partidas produzidas obteve-se em 7 dias de tratamento, redução de 72,5% de larvas em relação ao controle.
Equipe FarmPoint
Marcelo Spinola Vianna
Araruama - Rio de Janeiro - Produção de ovinos
postado em 12/08/2010
Ótima abordagem de como avaliarmos todas as faces do grande vilão das produções ovinas! Parabéns a equipe que idealizou a enquete!