Para começar o que é sustentabilidade?
"A sustentabilidade não é algo a ser atingido, mas um constante processo" Proops et. al. (1996)
"Sustentabilidade é a capacidade de criar, testar, e manter capacidade adaptativa"
"Desenvolvimento é o processo de criação, teste, e manutenção de oportunidades"
"O desenvolvimento sustentável refere-se ao objetivo de promover capacidades adaptativas e criar oportunidades" Holling (2000)
"O desenvolvimento sustentável satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras poderem também satisfazer as suas." Relatório da Comissão Brundtland
Pode-se dizer que sustentabilidade é conseguir explorar recursos de modo a gerar menos impacto no meio ambiente, na sociedade e na biosfera como um todo. Muitas práticas sustentáveis também são economicamente viáveis.
Nesse contexto, este artigo objetiva reunir as principais ideias apresentadas e discutidas no II Simpósio de Sustentabilidade & Ciência animal (SISCA) que foi promovido pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) por meio do Programa de Pós Graduação em Nutrição e Produção Animal, do laboratório de Análises Socioeconômicas (LAE) e Centro Acadêmico Moacyr Rossi Nilsson (CAMRN) conforme já relatado em SISCA/FMVZ: a sustentabilidade em pauta (18/06/2010).
O Professor Ricardo Abramovay, um importante pensador da sustentabilidade, discutiu temas muito relevantes para reflexão. Algumas das questões levantadas pelo pesquisador foram:
- Como se mede a riqueza?
- Crescer para que? Qual o sentido do sistema econômico?
- O aumento do consumo promove bem estar á sociedade?
Em meio à esses questionamentos apontou que devemos contestar a forma como organizamos a vida, contestar o modelo de produção e consumo da sociedade contemporânea. É nítido que o progresso não pode ser mantido sem alterar as relações entre sociedade e natureza que ocorrem hoje. E, para isso, temos muitos desafios a enfrentar tais como a Racionalização para aumentar o uso inteligente dos recursos dos quais dependem o processo produtivo e Tomada de decisão além dos interesses imediatos dos indivíduos. Ainda lembrou que a degradação não ocorre linearmente conforme o uso dos recursos, e as mudanças que estão ocorrendo gradualmente podem rapidamente tornarem-se catastróficas sem nenhum aviso, não há como prever o ponto de virada.
Devemos buscar, portanto, o uso sustentado dos recursos dos quais dependemos; não significa com isso buscar a intocabilidade, e sim, manter intactos os principais serviços que os ecossistemas prestam à sociedade humana. Para isso devemos contar com orientação estratégica governamental e social para o desenvolvimento sustentável.
Além disso, apontou a importância da geração de energia. Enfocou que apesar de toda evolução tecnológica, até hoje não se conseguiu mudar a fonte energética principal. E que hoje em dia os parâmetros de crescimento econômico estão ligados á capacidade de usar energia.
Por fim o Professor Abramovay questionou: para que fazer Ciência Animal? A pesquisa deve ser racional de modo que o crescimento da produção animal cresça com sistema econômico. Há possibilidade de aproveitamento da especificidade de produtos locais e da biodiversidade em regiões como Amazônia, ao invés de explorar a pecuária com desmatamento. Nesse ponto a pesquisa tem muito a acrescentar no sentido de trazer elementos decisivos para organizar a relação sociedade-natureza. Dessa forma, deixou um desafio aos pesquisadores da Ciência Animal enfocando sua importância na busca da sustentabilidade.
Na sua palestra sobre "O papel da agroindústria da produção animal na promoção da sustentabilidade" Ocimar Villela comentou que considera o Brasil um dos país mais sustentáveis na produção pecuária a caminho da insustentabilidade. Demonstrou com mapas a relação direta do desmatamento com a construção das plantas frigoríficas e a pecuária. Para ele a integração lavoura pecuária e sistemas agrossilvopastoris são ferramentas de sustentabilidade. Segundo Ocimar Villela, para a sustentabilidade das unidades produtivas há necessidade de:
- diagnóstico sócio-ambiental das propriedade;
- gestão social, ambiental e segurança do trabalho;
- certificação;
- publicidade das informações (georeferenciamento);
- incentivos de órgãos financiadores;
- benefícios adicionais para quem faz preservação.
Destaca-se ainda que o palestrante é presidente do GTPS, Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, com o objetivo de:
- Contribuir e participar do monitoramento do desmatamento;
- Desenvolver critérios socioambientais de produção, compra e financiamento;
- Desenvolver um sistema de rastreamento da pecuária bovina;
- Desenvolver projetos piloto de pecuária sustentável.
Para isso o grupo conta com a participação de diversos elos da cadeia produtiva: produtor, frigorífico, processador, varejista, bancos, sociedade civil, unidades de pesquisa e universidades.
Dessa forma, percebemos que algumas ações no sentido de alinhar o desenvolvimento da produção animal com sustentabilidade ambiental começam a surgir com objetivos e metas estabelecidos.
O palestrante Ricardo José Frugis, da Milenia Agrociências, mostrou que a empresa adota ações no âmbito da sustentabilidade com projetos na área ambiental, social e econômica. Além disso, salientou que práticas como:
- reforma quando necessário;
- pastejo rotacionado;
- adubação;
- cumprimento de legislação ambientalmente;
- controle de plantas daninhas têm potencial para melhorar as pastagens e a produtividade de forma sustentável.
Outras discussões muito interessantes vieram da palestra de Marcelo Carvalho, do portal Milk Point, que destacou o papel da informação na sustentabilidade mostrando a pressão exercida por ONGs e a reação das empresas à essas iniciativas que interferem economicamente. Ficou evidente a importância da organização, comunicação e relações públicas. Segundo Marcelo, não adianta ignorar os problemas ou culpar terceiros, a prática a ser adotada é admitir o problema, responder a sociedade, ter porta voz preparado para isso, dialogar com todo o setor, mostrar que há convergência de interesses e ter iniciativa. Algumas iniciativas importantes a serem adotadas foram comentadas, tais como:
- acompanhar marco legal e mercado;
- reunir informações disponíveis;
- implantar linhas de pesquisa aplicadas;
- necessidade de representatividade política;
- participação em fóruns internacionais que estabelecem marcos legais;
- relações públicas;
- esclarecimento à sociedade.
E dessa forma a pecuária pode passar de "vilã a mocinha" pelo seu potencial de mitigação que é fundamental para sustentar a população.
Nesse contexto podemo perceber que sustentabilidade é uma questão que deve ser cada vez mais praticada e não somente discutida.
No próximo artigo serão apresentados alguns dados envolvendo a produção de ruminantes e a sustentabilidade, já que muitas críticas vem sendo feita nesse sentido.
Referências bibliográficas
PROOPS, J. L. R., FABER, M., MANSTETTEN, R. e JÖST, F., 1996. Achieving a sustainable world. Ecological Economics, 17:133-135.
HOLLING, C.S., 2000. Theories for Sustainable Futures. Conservation Ecology 4(2):7 (disponível na Internet: http://www.consecol.org/vol4/iss2/art7/, acessado em 24/02/2007).
Jonas Rodrigues
Dourado - Mato Grosso do Sul - Trader
postado em 06/07/2010
Ótimos comentários Carina. A sustentabilidade está muito em alta mesmo, não adianta alguém querer começar a produzir sem esse conhecimento, não é atoa que as discussões sobre o código florestal estão rolando a meses, espero que daquilo ali saia algo de útil.