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Uruguai: relatório semestral da produção ovina

postado em 19/08/2009

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Após a forte redução dos preços internacionais da lã ocorridos no segundo semestre de 2008, esses têm começado a se recuperar levemente a partir do mês de março de 2009, ainda que se mantenham muito abaixo das últimas safras. Essa situação derivou em redução do valor das exportações de lã e produtos de lã, produtos que seguem perdendo importância relativa em relação aos outros produtos do setor agropecuário.

Os níveis de abate de ovinos mantêm registros altos em comparação com os históricos e também em relação ao número de animais. Embora isso contribua para gerar uma boa oferta exportável e volumes de exportação superiores aos do ano anterior, prognosticam a continuidade da tendência de diminuição do número de animais, que teriam ficado, segundo estimativas preliminares, abaixo dos 9 milhões de cabeças em 30 de junho de 2009.

A crise financeira internacional afetou em maior medida a lã que a carne ovina, mas a seca ocorrida no país durante os últimos meses não teria tido efeitos prejudiciais significativo sobre o setor. No ano de 2009, os nascimentos poderiam alcançar níveis excepcionalmente altos, o que, se for confirmado, poderá contribuir para evitar ou diminuir a queda do estoque em 2010.

1. Cenário internacional

1.1. Lãs

O último relatório do Australian Wool Innovation Limited (AWI) mostra que se mantém a tendência de queda no estoque na Austrália, projetando-se também para o exercício de 2009/2010 a manutenção da tendência. No exercício de 2008/2009, foram tosquiados 9% a menos de ovinos e, para a safra de 2009/2010, projeta-se uma nova queda de 6%, para chegar aos 77 milhões de cabeças. A produção de lã tosquiada mostra a mesma tendência; em 2008/2009, a redução da produção foi de 10% e, para a próxima safra, voltará a cair em torno de 6%. Para a próxima safra, espera-se que a produção fique em torno de 335 milhões de quilos base suja.

O preço teve uma importante queda no segundo semestre de 2008, alcançando os valores mais baixos no mês de novembro. Após um período de relativa estabilização, o preço começou a se recuperar a partir de março de 2009 como consequência de uma recuperação da demanda, especialmente na China. Dessa forma, entre março e maio desse ano, o Indicador de Mercados Orientais (IME) se recuperou em 15% em dólares australianos e em 39% em dólares americanos, diferença motivada por uma valorização da moeda australiana durante esse período. O IME fecharia na safra de 2008/2009 com um valor médio estimado pela Agência Australiana de Agricultura e Recursos Econômicos (Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics - ABARE) em 793 centavos de dólar australiano, 16% a menos que na safra anterior. O preço projetado para a safra de 2009/2010 é de 820 centavos de dólar australiano, um aumento de apenas 3%. No entanto, como a ABARE estima que se fortalecerá a moeda australiana, cabe esperar que o aumento na moeda norte-americana seja levemente maior (aproximadamente 8%).

1.2. Carne ovina

A demanda de carne ovina australiana não ficou muito afetada pela crise internacional e isso se refletiu através de um aumento sustentado dos preços. Segundo a ABARE, a produção de carne ovina parece ser uma oportunidade muito boa para os produtores de ovinos, que embora disponham do menor rebanho dos últimos 120 anos (73 milhões de cabeças para 2010), projetam um abate de 20 milhões de cordeiros e uma produção de 418 mil toneladas de carne (aumento na produção de carne de quase 3%). Segundo a ABARE, a oferta exportável cresceria somente de forma marginal no exercício de 2009/2010, estimando uma exportação de carne de cordeiro de 156 mil toneladas, volume que se manteria na safra de 2010/2011.

2. A produção nacional

2.1. Rebanho e composição

O aumento de 7% nos abates durante o exercício de 2008/2009 com relação ao exercício anterior, associado com um aumento na taxa de extração estimada em 35% para o exercício, leva à previsão de que o rebanho ovino do Uruguai cairia novamente em junho desse ano, nesta oportunidade em aproximadamente 6%.

Quadro 1. Rebanho em 30 de junho de cada ano



2.2. Produção

2.2.1. Lã

A produção de lã cairia para a safra de 2009/2010, seguindo a tendência de queda no rebanho, somado a uma leve diminuição estimada para a produtividade por cabeça. A produção esperada total de lã tosquiada para a safra de 2009/2010 seria de cerca de 34 mil toneladas, 8,2% menor que na safra anterior.

Quadro 2. Produção de lã (em toneladas base suja)



2.2.2. Carne ovina

A produção de carne cairia apenas em 1% no fechamento do exercício de 2008/2009, apesar da redução do rebanho. Isso se explica pelo maior abate, já que os animais que vão aos frigoríficos têm um maior peso do que os que saem do rebanho.

Quadro 3. Abate e produção de carne ovina



Os abates dos primeiros seis meses de 2009 aumentaram em quase 10% com relação ao mesmo período do ano anterior, situação que se explica basicamente por um maior abate de cordeiros (31%) e de borregos (35%). Por outro lado, o abate de ovelhas vem sendo 11% menor que no primeiro semestre de 2008.

2.3. Comércio exterior

2.3.1. Lã

O valor das exportações de lã e produtos de lã caiu em 3% na safra laneira de 2008/2009 com relação à anterior (SUL). O volume de lã equivalente base suja exportada caiu em 28% nesse período. Do total, 73% foram exportadas cardadas, 18% sujas e 9% lavadas. As exportações de lã suja baixaram em 39%, as de lã lavada, 62% e as de tops, 14%.

As exportações de lã do Uruguai seguem concentradas na China, país que comprou 51% das exportações (em valor) de lãs sujas, lavadas e cardadas. Apesar de as vendas terem caído em 25%, a China foi o destino de 94% das exportações de lãs sujas do Uruguai e 42% das lãs de tops. Em seguida estão, em importância, Alemanha e Itália, com 16% e 11% do total, respectivamente.

Quadro 4. Exportações de lã e produtos de lã em US$ 1.000
Safras completas julho/junho



2.3.2. Carne ovina

As exportações de carne ovina tiveram um importante crescimento em 2008, alcançando o valor recorde de US$ 70,8 milhões, consequência de um aumento no volume das exportações de 14% e de preço de 27%. Nos primeiros seis meses de 2009, manteve-se a tendência com relação ao crescimento em volume, mas o valor caiu levemente como consequência de uma redução de 17% nos preços de exportação.

Embora continue a concentração das exportações nos dois mercados tradicionais, União Europeia (UE) e Brasil, no caso do Brasil, a porcentagem baixou de 60% para 44% como consequência das menores compras (27% a menos em volume). Por outro lado, crescem fortemente novos mercados, como China, que passou de 170 para 1.300 toneladas no período, e Jordânia, que passou de 550 a 1.350 toneladas.

Quadro 5. Exportações de carne ovina



2.4. Preços

2.4.1. Lã

Os preços ao produtor na safra de 2007/2008 mostraram um importante aumento com relação à safra anterior. Para o segundo semestre de 2008, os preços internos começaram a mostrar sinais de debilidade, inclusive antes de se instalar a crise financeira internacional. Uma vez confirmada a mesma, os preços internos de lã (assim como os internacionais) mostraram uma queda muito importante, perdendo inclusive tudo o que tinha se recuperado na última safra.

As maiores reduções nos preços foram verificadas nas lãs de menor finura (Merino, Ideal e Merilín), que caíram em torno de 45% com relação à safra anterior, para ficar entre 20% e 25% abaixo da safra de 2006/2007. Para o caso da lã Corriedale, a redução no preço foi menor, em torno de 25% menor que na safra passada; 10% mais baixo que a média de duas safras atrás. Dessa forma, a diferença de preços entre as finuras voltou a se reduzir após sua ampliação na safra de 2007/2008. Os níveis de preços mais baixos foram observados em outubro e novembro de 2008, coincidindo com a crise financeira. A partir de março de 2009, os preços da lã começaram a mostrar algum sinal de recuperação, de acordo com o mercado internacional. Em junho de 2009, obtiveram-se valores de US$ 2 a US$ 2,1 por quilo, valor ainda menor ao da safra de 2007/2008, mas igual ao de dois anos atrás e maior que a média de 2008/2009.

Quadro 6. Preço médio ao produtor (US$ por quilo)



2.4.2. Carne ovina

Os preços ao produtor da carne ovina também mostraram uma redução nos valores, mas esses foram de muito menor magnitude do que no caso da lã, pelo menos para os cordeiros pesados. Atualmente, o preço pago pela categoria de cordeiros pesados está entre US$ 1,95 e US$ 2 por quilo de carne, valores 11% mais baixos que um ano atrás. As categorias de ovelha e capão, que estão bem menos demandadas, mostram reduções maiores nos preços.


Relatório elaborado pelo Engenheiro Agrônomo, Adrián Tambler, da Oficina de Programação e Políticas Agropecuárias (Opypa), que faz parte do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai

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