Pela Europa, Ásia e Norte da África, regiões onde havia confrontos entre rebanhos versus predadores, as populações locais desenvolveram as suas raças próprias de cães para a proteção do rebanho e para auxiliar os pastores na condução dos animais. Hoje, a utilização de cães poupa mão-de-obra e contribui com o bem-estar das criações.
A utilização de cães de guarda de rebanho é indicada oficialmente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e por organizações de proteção da fauna na Europa e África e países da União Europeia, sendo considerada como método tradicional e na maior parte das vezes, não-letal, de controle de predadores que pode ajudar na conservação de carnívoros silvestres. Há vários estudos que demonstram o alto sucesso na redução de mortes no rebanho por ataque de predadores, sendo os cães de guarda de rebanho amplamente utilizados em pastos abertos, pastos cercados e instalações de ovinos na Europa, Ásia, África, Américas e Austrália protegendo os rebanhos e consequentemente, os canídeos, felídeos, ursídeos, hyaenídeos e primatas.
Há dezenas de raças para esta função no mundo, mas no Brasil, a maior parte dos animais que atuam são das raças: Maremano, Abruzes, Komondor, Kuvasz e Cão Pastor dos Pirineus.
Os cães de pastoreio se dividem em duas categorias: arrebanhadores (Border Collie e Australian Kelpie) e empurradores (Blue Heeler e Australian Shepherd). Os arrebanhadores são indicados para circular o rebanho e levá-lo para um determinado local, recolhendo e conduzindo o rebanho e os empurradores trabalham na parte de trás dos animais, conduzindo-os para frente.
No dia 24/11, o FarmPoint perguntou aos leitores: você utiliza cães na sua propriedade? Confira abaixo os comentários de destaque.
Roberto Amaral Rodrigues Alves, produtor de leite de Boa Vista/DF citou que lamentavelmente no Brasil as coisas não são levadas muito a sério. "A implantação de auxílio canino nos rebanhos em geral, notadamente ovinos e caprinos, já é praticada em larga escala em regiões europeias e americanas que respeitam "os pedigrees" como fonte de segurança e aptidão dos cães. Por aqui triste e lamentavelmente a coisa é vergonhosa. O fulano obtém (por compra, presente ou importação) um cão de excelente linhagem e origem (com pedigree). Inicia seu uso no plantel e confirma a excelência da atividade do cão no auxílio das funções próprias. Em seguida arranja uma "cadela sem papel e sem pedigree" e logo põe a venda "filhotes de tal e qual raça". O leigo cai na prosa e se lasca com cães agressivos e violentos que ao invés de ajudar, dizimam rebanhos e atormentam os proprietários, até vizinhos e não tem lei que assegure autenticidade da raça e punição aos violadores dos pedigrees com cruzamentos inconsequentes".
Cães de guarda
Pedro Nacib Jorge Neto, médico veterinário da NOVAGEN Genética Ltda e produtor de ovinos, comentou que desde 2006 estuda profundamente o tema cães de guarda de rebanho. "Implantei cães de guarda na Fazenda Talisman, localizada no município de Itapira/SP. A propriedade possui grande área de reflorestamento e também grande área de reservas, totalizando cerca de 210 hectares entre reflorestamento e matas. Além disso, fazendo divisa da fazenda, há mais de 100 hectares de reservas de fazendas vizinhas, além de culturas que permitem a presença de grandes felídeos, numa área de mais de 500 hectares propícios. Na propriedade, existe comprovadamente a presença de onça-parda (avistada 3 vezes, diversas documentações de rastros) e jaguatirica, além da presença de cães errantes devido a proximidade da cidade (menos de 3km em linha reta). Também, ocorreram ataques de onça parda causando morte de dezenas de ovinos em propriedade distante a 1,5 km do núcleo de criação de ovinos da fazenda. Em 2006, devido a perda de alguns cordeiros por ataque de cães errantes, adotou-se a utilização de Pastores Maremano Abruzês. No mesmo momento que os cães iniciaram o trabalho, cessou os ataques ao rebanho. Com quase quatro anos utilizando estes cães, podemos com alegria dizer que nunca houve perda de nenhum animal do rebanho após a adoção do Pastor Maremano Abruzês".
Na mesma linha, Carlos Otavio Lacerda, produtor de ovinos de São Paulo/SP, destacou que possui um casal de pastor Maremano, fato que vem impedindo a morte de ovelhas. "Uma vez o cão impediu a morte das ovelhas devido à invasão de um Pit Bull e outras vezes, por outros animais selvagens como cachorros do mato ou felinos pequenos". Wallace Amorim, produtor de ovinos de São Paulos/SP, também utiliza cães da raça Maremano. "Já tive uma perda na minha criação de 28 ovelhas de uma só vez por ataque de cães vadios, depois que colocar dois Maremanos na propriedade, nunca mais tive problemas".
De acordo com Marcelo Spinola Vianna, produtor de ovinos de Araruama/RJ e diretor de operações da Green Lamb do Brasil, a raça Kuvasz é perfeita. "Desde os 30 dias de vida, o cão é colocado em contato permanente com os ovinos de forma que passe a tê-los como sua família. O carinho e a atenção dadas a um cão de guarda de rebanhos devem ser ministrados de forma diferente, pois ele deve ter nos ovinos o seu amparo de relacionamento, e não no ser humano. Nada de ficar tratando o filhote como uma "bicho de pelúcia", nem como um cão doméstico. Com esses cuidados, qualquer produtor terá uma ótima ferramenta de trabalho e proteção, seja dentro dos apriscos ou a campo".
Cães de pastoreio
De acordo com Daniel José Bortolini, estudante e agricultor de Ipiranga do Norte/MT, o investimento em cães é uma ótima decisão. "Adotamos o uso de Australian Cattle Dog (Red Heller) para o trabalho com bovinos na fazenda e é ótimo, facilita muito o trabalho".
Igor Vaz, produtor de ovinos de Pelotas/RS, comentou que possui oito cães que são utilizados para pastoreio de ovinos e bovinos (6 SRD e 2 Border Collies). "Nossos cães são muito obedientes e educados, respeitam a nossa ordem e são ótimos caçadores de javali". Quirino de Freitas, produtor de ovinos de Fernandópolis/SP também utiliza Border Collie. "O cachorro atua muito bem e substitui grande parte da mão-de-obra. Estou muito contente com o trabalho do cão e impressionado com a inteligência do animal".
Outros
Ivan Saul, produtor de ovinos de São José dos Pinhas/PR - Granja Po'A Porã, comentou que utiliza cães da raça Rotweillers. "Minha experiência com Rotweillers diz que eles são ótimos para qualquer função que um canino possa assumir, porém, é uma raça extremamente dependente dos humanos e por ser muito dominante, testa seus próprios limites diariamente. Ovinos são muito atraentes, por sua movimentação e porte físico e, potencialmente, são vítimas de lesões muito graves. Se os cães são bem adestrados e não têm sua agressividade (natural) estimulada, podem revelar-se ótimos guardiães de rebanho; como pastores, simplesmente pela sua presença, já impõe respeito aos ovinos. Confiar em cachorro cuidando do rebanho, por conta própria, aí é uma decisão particular de cada um. Cadelas no cio aparecem em toda vizinhança. Lembre-se sempre, pastorear é uma das atividades humanas mais antigas, enobrece e dá muito tempo para reflexão. Se o rebanho e/ou a propriedade são pequenos, esqueça os cachorros de qualquer raça, pois são causa de pânico no rebanho, cujo bem estar deve vir em primeiro lugar. Se eu recomendo a utilização de Rotweillers, não".
Já Rosilene Rodriguez Lopez, produtora de leite de Silva Jardim/RJ, está usando um cão da raça Rotweiller para lidar com o gado de leite. "O que importa é o tratamento que se dá ao cão e não a raça".
Equipe FarmPoint
Participe e deixe o seu comentário no box abaixo:
Jerônimo Alves de O. Neto
Goiânia - Goiás - Estudante
postado em 13/12/2010
Tenho acesso à muitas propriedades que utilizam o Blue Heeler nas atividades com gado e posso afirmar que não há inconvenientes na utilização destes animais. Pelo contrário. Os animais se mostram extremamente habilidosos e em sintonia com os peões, o que aumenta a eficácia do serviço e diminui o tempo. É necessário haver um treinamento destes cães, porém se os mesmos estiverem em uma ambiente com outros animais já acostumados com a lida, os leigos começam o aprendizado facilmente. Trabalham nos cascos dos animais e sequer levam coices. Algo fantástico. De fato, sou a favor desta prática e desejo que seja cada vez mais aperfeiçoada.