"O foco [do mercado financeiro global] está muito direcionado às moedas. Insumos básicos, as commodities são muito suscetíveis a essas oscilações. Afinal, é o mundo todo corrigindo preços", afirma Silas Costa, da CapitalPlus Gestão de Ativos. Ele lembra que produtos como soja e milho, que são mais negociados, servem também como hedge diante de turbulências financeiras, o que acaba atraindo mais investimentos, inclusive especulativos.
Dos grãos básicos para alimentos e rações mais transacionados, a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, foi o que mais subiu em Chicago em novembro. A cotação média da oleaginosa foi 7,42% maior no mês do que em outubro, o que ampliou para 21,17% a alta na comparação com a média de dezembro e fez com que o salto sobre outubro do ano passado alcançasse 24,25%.
Renato Sayeg, da Tetras Corretora, observa que os fundamentos "altistas" estão firmes e tornaram-se mais frequentes em novembro dias de valorizações do dólar e do grão, o que não costuma ser comum. Mas adversidades climáticas afetaram as colheitas no Hemisfério Norte - na Rússia sobretudo, mas também nos EUA, onde as produtividades de soja e milho ficaram abaixo do previsto -, as safras que estão sendo plantadas no Hemisfério Sul estão ameaçadas pelo La Niña e a demanda da China segue firme, apesar das preocupações em torno de uma eventual desaceleração no país, também ligadas à inflação.
Há meses no radar da FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, a inflação dos alimentos já é um problema em diversos países do mundo, o Brasil entre eles.
"No mercado", afirma Sayeg, "já é forte a expectativa de que a China vá importar mais do que o estimado nesta safra 2010/11", diz ele. Assim, pondera, enquanto a China pode determinar um aumento da demanda mundial, qualquer problema na oferta da América do Sul nos próximos meses poderá tornar o quadro de abastecimento ainda mais apertado do que está e causar novos aumentos de preços internacionais.
A mesma preocupação com a oferta no Hemisfério Sul ajuda a sustentar as cotações do milho, cujo preço médio em Chicago foi 1,55% superior ao de outubro, mas, depois do pânico que se seguiu à quebra da safra na Rússia, já é menor no caso do trigo - que recuou 1,36% na bolsa no mês passada, sempre na comparação dos preços médios.
A matéria é de Fernando Lopes, publicada no jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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