"As empresas têm a necessidade real de entender como as mudanças climáticas vão interferir nas reservas naturais e nas novas tecnologias que utilizarão em seus negócios. É aí que estão as ameaças e as oportunidades", afirma Wilson. Ele cita como exemplo a onda de calor que atingiu a Rússia no último verão e destruiu 14 milhões de toneladas de alimentos, causando prejuízos globais na ordem de US$ 300 bilhões. "Essa é a ameaça", explica. Por outro lado, as oportunidades também impulsionam as empresas a agir e buscar inovação. O mercado de energia limpa, no qual se encaixam os bicombustíveis, tem o potencial de movimentar mais de US$ 2 trilhões nos próximos anos, segundo Wilson.
Neste ano, a ONU preparou um relatório com enfoque no benefício econômico global da diversidade biológica e nos custos da perda da biodiversidade. O relatório "A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade" (Teeb, na sigla em inglês) também dá exemplos à comunidade empresarial de "mercados verdes" que estão em crescimento ao redor do mundo. Um dos destaques do levantamento é o setor de produtos agrícolas certificados, que deve alcançar US$ 210 bilhões até 2020.
Clientes e consumidores também são fatores de pressão para as empresas, ao lado de acionistas e investidores, na medida em que escolhem quais produtos comprar ou onde vão investir. Daí a importância de companhias assumirem preocupações socioambientais. "A pesquisa e os projetos são uma plataforma para ajudar os clientes, os investidores e a comunidade a entender que a empresa é limpa. É uma ação de marketing limpo", afirma Wilson.
O gerente do HSBC Romio Simões conta que conseguiu conquistar pelo menos quatro grandes clientes corporativos para o banco por meio da divulgação de práticas positivas do grupo. O HSBC investiu US$ 100 milhões, em cinco anos, numa parceria global com quatro ONGs, entre elas a Earthwatch. No Brasil, o projeto leva funcionários para participar de pesquisas científicas numa reserva de Mata Atlântica em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná. Os empregados ficam em contato com a floresta por duas semanas, período em que entram na mata, identificam espécies vegetais e ajudam biólogos a colher dados sobre as árvores. Em seguida, voltam para o banco e passam a divulgar o tema da sustentabilidade para colegas e clientes. "É uma mudança de cultura", conta Simões.
O Brasil aguarda a regulamentação de políticas sobre mudanças climáticas, que preveem metas para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. A lei nacional foi proposta no ano passado e apresentada durante a COP-15, em Copenhague, na Dinamarca, e propõe a redução de 36,1% a 38,9% das emissões de gás carbônico projetadas até 2020. Também há leis com teor semelhante nos Estados. A de São Paulo também aguarda regulamentação e defende e meta de redução de 20% das emissões até 2020, com base nas emissões de 2005.
Na COP-16, em Cancún, o presidente da Earthwatch vê pouca chance de progresso nas grandes negociações globais. Apesar disso, acredita que empresas e ONGs vão difundir bons exemplos de ações sustentáveis em encontros paralelos com os negociadores dos governos. "A iniciativa privada, as ONGs e as pessoas voluntárias vão mostrar que é possível fazer a diferença", afirma Wilson, que acredita no potencial de um movimento de baixo para cima, ou seja, que parta da sociedade rumo aos negociadores globais. "Os governos só respondem depois que a sociedade e as empresas tomam a iniciativa."
A reportagem é da Agência Estado, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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