Esse cenário não muda muito quando se olha para o próximo ano. As dificuldades devem continuar, principalmente no período de comercialização. A avaliação é do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
Externamente, o perigo da falta de alimentos não está eliminado, embora não se fale mais nisso, segundo o ministro. Portanto, os países ricos, que irão destinar bilhões de dólares aos setores financeiros, da indústria e para a garantia de empregos, deveriam buscar também a formação de estoques de grãos, afirma Stephanes.
"Vamos ter algumas dificuldades no próximo ano, e o panorama se apresenta difícil, mas não será um cenário de desastre, apesar da crise."
Os primeiros meses do próximo ano serão decisivos para a agricultura. Há uma concentração da safra de verão no período, e a comercialização, que em anos anteriores em boa parte era feita antecipadamente, deverá ocorrer praticamente em poucos meses. Essa concentração pode derrubar ainda mais os preços, apesar de essa ter sido uma das safras com os custos de produção mais elevados para os produtores. Diante desse cenário, o ministro traça algumas diretrizes para esse período do ano.
"O governo tem de tentar entrar com uma política de sustentação na comercialização ou na política de preços, e estamos nos preparando para enfrentar esse ambiente." Para Stephanes, a primeira coisa é aumentar os recursos para essa sustentação. "O que se gastava nos outros anos, já estamos prevendo gastar o dobro, e já temos recursos previstos para isso [crédito para comercialização]."
É uma discussão interna do governo, e o próprio ministro Guido Mantega, da Fazenda, diz que esse crédito tem de ser garantido. "É um problema já aparentemente solucionado", acrescenta Stephanes.
Stephanes diz que o governo está atento também à safrinha, quando ocorre o segundo plantio de milho na região centro-sul. "Vamos ter de sustentar o preço do milho porque necessitamos continuar produzindo. Talvez seja necessário até rever o preço mínimo, porque não podemos correr o risco de amanhã faltar o produto."
"Essa revisão de preços não é uma coisa muito tranqüila, mas não podemos ser muito ortodoxos quanto estamos atuando em momento de crise. Temos de tomar atitudes diferentes daquelas consideradas até então tecnicamente corretas", diz o ministro.
Exportações já apresentam retração
A crise, de uma forma ou de outra, está batendo no Brasil e atinge, principalmente, os produtos que dependem de exportação, segundo Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura.
"Que vamos ter alguma diminuição nas exportações, não há nenhuma dúvida, mas estimativas são difíceis." Alguns produtos, no entanto, já estão com o cenário comprometido, na avaliação de Stephanes. Um deles é o algodão, produto que vem com problemas no mercado externo há dois anos.
A carne suína, com demanda menor, também está na lista. Já as exportações brasileiras de frango, que recuam em alguns países, poderão ser compensadas pela entrada da China, enquanto o mercado de carne bovina vai se manter razoável.
Stephanes não se arrisca a fazer uma previsão para 2009, mas, como ministro, diz que tem de ser otimista. "O cenário do próximo ano vai depender muito do que ocorrer na comercialização da safra e de uma pergunta crucial: "A crise mundial se aprofunda?". Caso não, e voltar um pouco a confiança, o produtor pode continuar plantando. Caso contrário, vai se retrair ou usar menos tecnologia no plantio", diz.
Na avaliação do ministro, a médio e longo prazos, o mundo vai continuar comendo mais, porque as pessoas estão vivendo mais tempo, e o mundo vai continuar crescendo.
A matéria é de Mauro Zafalon, publicada na Folha de S.Paulo, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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