Em nota divulgada ontem à noite, a instituição afirma que a decisão de retomar os leilões de venda de dólares é "de caráter temporário". A nota do BC diz, ainda, que os leilões não têm o objetivo de influenciar a taxa de câmbio. A instituição reforçou a explicação dada em Nova York pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, de que "não existe meta para a taxa cambial, seja com fixação de tetos ou pisos".
A última vez em que o BC vendeu dólares foi em 27 de fevereiro de 2003, após um longo período de nervosismo eleitoral, que provocou nos investidores o temor de que a política econômica mudasse radicalmente com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência. Naquele leilão, o mercado comprou US$ 92 milhões do BC com taxa de R$ 3,65, quase o dobro do valor atual.
Segundo analistas, a total falta de liquidez no mercado internacional praticamente impediu a renovação de linhas de financiamento concedidas a empresas brasileiras nos últimos dias. Com isso, as companhias são obrigadas a liquidar os empréstimos. "Elas vão ao mercado à vista para comprar moeda e, assim, cumprir seus compromissos", explicou o gerente de câmbio da Fair Corretora, Mario Battistel. "A alternativa é renovar o crédito, mas com uma taxa de juros muito mais alta."
De acordo com ele, esse movimento elevou para mais de US$ 5 bilhões o montante de dólar negociado no mercado brasileiro ontem. "Em dias normais, o volume varia de US$ 1,5 bilhão a US$ 2,5 bilhões", disse Battistel.
O economista-chefe da Gradual Corretora, Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, acrescentou que a liquidação de posições de investidores estrangeiros no Brasil também tem contribuído para pressionar a taxa de câmbio nas últimas semanas - em setembro, o dólar já acumula valorização de 18,19% e, no ano, de 8,73%. "Eles vendem aqui para cobrir prejuízos lá fora", observou.
Para a maioria dos especialistas, o BC acertou ao retomar os leilões de venda da moeda americana. "Nos momentos em que falta liquidez, é preciso ter alguém em condição de pôr o mercado para funcionar", disse o ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman.
A matéria é de Fernando Nakagawa, Fabio Graner e Leandro Modé, publicada no jornal O Estado de S.Paulo, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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