A projeção para 2010 e a revisão do crescimento projetado para 2009, até então de 0,8%, foram anunciadas ontem (22) pelo diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, ao divulgar o relatório trimestral de inflação. Ele anunciou também projeções sobre desemprego, renda e crédito. A taxa média de desemprego, que deve ficar em 8,1% em 2009, tende a cair a 7,8%. Se confirmada, será a menor da série.
Em relação ao conceito ampliado de massa salarial, que, além da renda do trabalho, inclui a de benefícios da previdência e de programas sociais, o BC espera expansão de 7,6% em 2010, ante 5,4% em 2009. Influenciado por esses dois indicadores, o volume de operações de crédito deve atingir 45,3% do PIB no fim de 2010, ante 43% esperados para o fim de 2009. Segundo Mesquita, o BC acredita que expansão do crédito será mais forte nos bancos privados, que tentarão reconquistar fatias de mercado perdidas para os bancos públicos.
O relatório de inflação sinaliza, por outro lado, que a retomada mais consistente da atividade econômica virá acompanhada de alguma pressão inflacionária, o que reforça expectativas de elevação dos juros no próximo ano. A sinalização está na inflação projetada para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Tomando-se como pressuposto uma taxa de câmbio estável em R$ 1,75 e manutenção da Selic nos atuais 8,75% ao ano, o IPCA subiria 4,6% tanto em 2010 quanto em 2011. A inflação ficaria, portanto, ligeiramente acima de 4,5%, meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) como parâmetro para as decisões de política monetária do BC.
Já no cenário de mercado, que leva em conta uma Selic maior (médias de 10,58% e de 10,81% ao ano, respectivamente nos últimos trimestres de 2010 e 2011), a inflação do IPCA ficaria exatamente na meta (4,5%) em 2010 e ligeiramente abaixo dela (4,3%) em 2011.
A preocupação de que o crescimento gere pressão inflacionária, ainda que fraca, em 2010, está associada ao investimento. Pelas projeções do BC, a formação bruta de capital fixo crescerá, em termos reais, 15,8% em 2010, bem mais do que cresceu em 2007 e 2008 (13,9% e 13,4%). Entretanto, como a queda ocorrida em 2009 foi muito forte (o BC estima redução de 9,9% neste ano), o incremento esperado para 2010 é insuficiente para que a taxa de investimento volte ao patamar em que estava antes da crise. Segundo Mesquita, se crescer os 15,8% previstos, a formação bruta de capital fixo alcançará 18,6% do PIB em 2010, patamar inferior aos cerca de 21% do PIB registrados antes da crise atingir o Brasil.
Visto sob a ótica da demanda, o expressivo crescimento real do PIB em 2010 será puxado pelo consumo das famílias. Pelas projeções do relatório, as famílias consumirão, em termos reais, 6,1% a mais do que consumiram em 2008, contribuindo com 3,7 dos 5,8 pontos percentuais de variação esperada do PIB. O consumo do governo crescerá 2,9%, contribuindo com 0,6 ponto percentual para a variação do produto. A demanda relativa aos investimentos, por sua vez, mesmo crescendo 15,8%, responderá por três pontos percentuais de variação no PIB, menos que o consumo. Para 2009, as novas estimativas do BC indicam expansão de 3,8% no consumo das famílias, de 3,5% no do governo e retração de 9,9% nos fluxo de investimentos.
Ainda sobre os itens que compõem o PIB sob a ótica da demanda, o BC projeta crescimento real de 12% para exportações. As importações crescerão ainda mais, aumentando 20,5%.
Sob a ótica da produção, o crescimento do PIB será puxado pela indústria em 2010. Nas projeções do BC, o setor vai crescer 7,6%, com destaque para a indústria de transformação, cuja expansão será de 8,8%. Para o setor de serviços, o relatório prevê crescimento de 5%. O setor agropecuário crescerá 3,7%.
A matéria é de Mônica Izaguirre, publicada no jornal Valor Econômico, adaptada e traduzida pela Equipe AgriPoint.
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