"Parabenizo os comentários bem colocados e com visões distintas do mesmo problema. Continuamos em situação de retração do crescimento do rebanho e estagnação produtiva, ao mesmo tempo em que os preços internacionais sobem e a demanda, por carne ovina, cresce em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil.
Os preços internos estão altos e não deverão recuar, pois não existe produto. Se o bom preço pode incrementar a receita, a falta de cordeiros pode reduzir o resultado econômico e a oferta ao consumidor, que por consequência reduz o consumo... Daí a importância das atuais importações em manter o consumo, por menor que seja.
Amigos, devemos estar atentos aos nossos reais problemas que envolvem a desorganização da cadeia produtiva, a baixa produtividade e a falta de foco na produção de ovinos. A criação de uma organização dos produtores e demais elos, como Beef and Lamb New Zealand, Meat and Livestock Australia e Eblex (Inglaterra) tem como bases de funcionamento o profissionalismo, a idoneidade, a administração empresarial e estratégica das instituições e, sobretudo, o financiamento de todas as ações através dos produtores que destinam uma porcentagem pequena de cada animal abatido para um fundo que rege as organizações. Então pergunto: como arrecadar no Brasil se temos aproximadamente 90% do abate de ovinos ocorrendo de forma ilegal (abate clandestino)?
Outro ponto muito sério é o fato de estarem dizimando o nosso rebanho de fêmeas através dos abates. O descarte orientado deve acontecer sim, ovelhas improdutivas, animais selecionados para descarte e etc. É a ferramenta para o progresso genético, seleção! Porém, estamos presenciando boa parte dos frigoríficos realizando o abate de fêmeas jovens, borregas, marrãs, fêmeas produtivas, fêmeas prenhes, fêmeas com cria ao pé e etc. Tudo em função da necessidade de manter as linhas em funcionamento a qualquer custo. Mesmo frigoríficos que não dependam do abate exclusivo de ovinos.
Assim, empresas que anunciam suporte à cadeia produtiva, incentivo ao rebanho comercial e etc., seguem recolhendo fêmeas com grande potencial produtivo para aumentar o rebanho, mas seguem abatendo as mesmas. Obviamente o criador tem grande responsabilidade neste aspecto, porém, em diversos casos presenciamos criadores sem condições de pagar suas contas caso não vendam as fêmeas, e a oportunidade de vender, ainda que por baixos preços, é a única solução. Criadores próximos já nos relataram fêmeas sendo entregues a atravessadores a R$ 1,70 o kg vivo (borregas de 8 a 12 meses) para serem abatidas!
Acredito que as empresas frigoríficas que realmente estiverem comprometidas com a atividade deveriam criar soluções de potencial para a atividade e vendê-las vivas ou mesmo entregá-las, fornecer a assistência técnica e orientação se receber o pagamento em cordeiros, ou algo do tipo. Sendo que a maior finalidade é promover o crescimento da atividade.
Espero que as discussões causem efeito!
Abraço a todos!"
Wagner Provenzano
Niterói - Rio de Janeiro - Distribuição de alimentos (carnes, lácteos, café)
postado em 10/10/2011
Eu estou no outro extremo da cadeia, sou médico veterinário e produzo cortes premium através de carcaças adquiridas nos frigoríficos. Mesmo me propondo a pagar melhor por uma carcaça de qualidade, a indústria insiste em regatear com o produtor, matando a galinha dos ovos de ouro. A indústria deveria ser o primeiro elo a fomentar a atividade, manter este produtor em ação e estimulá-lo a produzir com mais qualidade, pagando melhor por este produto. Fico muito triste quando a indústria se vangloria de ter adquirido um lote de algum produtor muito abaixo do preço. Mas tenho convicção que esta situação mudará, que outros empresários com visão entrarão na cadeia.