Se levados em consideração apenas os 12 meses encerrados em junho, o índice de atratividade das exportações agropecuárias registrou um aumento de 5%, embora os preços internacionais, denominados em dólares, tenham avançado quase seis vezes mais.
Isso não significa que o setor tenha perdido lucratividade ou se tornado menos competitivo, como sua própria expansão nos últimos anos evidencia. Ganhos de volume, produtividade e eficiência mantêm o cenário extremamente favorável aos produtores.
Para a pesquisadora do Cepea, Andréia Adami, uma das autoras do estudo, os incrementos de produtividade no campo mais do que compensaram as frustrações cambiais. "O diferencial do agronegócio brasileiro é o crescimento contínuo de sua produtividade", afirma. Ela observa que a produtividade do setor cresceu mais de 70% ao longo da última década "considerando-se todos os fatores de produção".
"Embora afete mais a produção e a exportação, o câmbio valorizado aumenta o poder de compra do produtor na hora de adquirir os insumos", lembra Vinícius Ito, analista de commodities da corretora Newedge USA, em Nova York. Uma parte importante das matérias-primas usadas na agricultura, como os fertilizantes e os agroquímicos, que respondem por até 70% dos custos operacionais de produção, tem preços fortemente influenciados pelo câmbio.
Para Anderson Galvão, CEO da consultoria Céleres, a maior concentração no setor ocasionou ganhos de escala significativos. "Mais do que aumento de produtividade nas lavouras, observamos um aumento de eficiência na gestão. Os produtores de hoje são maiores e mais organizados do que os de ontem", diz. Dados do Imea corroboram essa percepção. De acordo com o órgão, os 20 maiores grupos agropecuários do Mato Grosso mais do que dobraram sua área plantada nos últimos anos, embora a área agricultável total não tenha crescido mais que 2%. Hoje, esses grupos controlam cerca de 1,3 milhão de hectares.
José Vicente Ferraz, diretor técnico da Informa Economics FNP, lembra que o comportamento do câmbio não exerce o mesmo efeito sobre todos os elos da cadeia, e cita o mercado de carnes como exemplo. "O pecuarista, que vende o boi no mercado interno, viu o preço da arroba quase dobrar de 2005 para cá. Ele está ganhando dinheiro. Mas a indústria frigorífica, que exporta, tem uma situação bastante difícil e que decorre em boa parte do câmbio valorizado", observa.
Nos mercados financeiros, a valorização das commodities é, em parte, uma resposta ao enfraquecimento do dólar em relação a moedas como o real e o dólar australiano nos últimos anos. Fundos de investimento aumentaram de modo expressivo suas aplicações nesse segmento, interessados não apenas em capturar os lucros com o aumento da demanda global, mas também em se proteger contra a desvalorização da moeda americana em um cenário de estagnação e juros reais negativos nos Estados Unidos.
O raciocínio dos gestores é simples: a queda da moeda em que as commodities são denominadas obriga os preços nominais a subir para viabilizar a produção nos países de origem, onde o câmbio tem se fortalecido. Não à toa, a correlação inversa entre o comportamento do real e os preços das commodities é tão elevada.
O analista da Informa FNP lembra que o agronegócio brasileiro ainda tem "imensas vantagens competitivas" em relação a outros lugares do mundo, como escala, baixos custos da terra e da mão de obra. "Os produtores podem não ser tão privilegiados quanto poderiam ser, caso tivessem um câmbio mais desvalorizado, mas o cenário ainda é muito atraente. É como um time de futebol que, roubado pelo juiz, ganha de cinco em vez de oito a zero", compara.
A matéria é de Gerson Freitas Jr., publicada no jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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