Um levantamento inicial verificou que, a despeito do grande potencial dos caprinos e ovinos para geração de renda e para a convivência com o semiárido, existem problemas quanto à utilização das tecnologias da Embrapa nas UDs já instaladas nos Territórios. Entre esses problemas estão a baixa adoção das tecnologias; a baixa qualificação técnico-gerencial dos produtores e a condução da atividade de forma ineficiente, com oferta irregular de matéria-prima. "A falta de gerenciamento impede o planejamento e gera mais custos para o produtor", afirma Farias.
A fim de avaliar os impactos socioeconômicos e ambientais das ações de transferência de tecnologias, questionários de pesquisa são aplicados periodicamente junto ao público-alvo do projeto. E os resultados já começam a aparecer. Em 2009, a mortalidade dos animais dos produtores que utilizam tecnologias relacionadas ao manejo animal foi praticamente zero, enquanto aqueles que não as adotaram perderam animais acima do tolerado. Para o líder do projeto, esses resultados indicam que os produtores estão enxergando a necessidade de serem capacitadas em manejo para a produção de caprinos e ovinos.
Desde o início do projeto até agora, 151 técnicos, multiplicadores e produtores fizeram cinco cursos; 44 pessoas assistiram quatro palestras e 137, participaram de seis dias de campo. Até o final de 2010, serão realizados mais cinco dias de campo, dois cursos e duas palestras. A qualificação é feita de forma participativa, "as demandas vêm dos produtores e técnicos do local e decidimos em conjunto, durante os fóruns que acontecem a cada dois meses, os temas a serem abordados nas capacitações", explica Farias. Até agora as principais demandas são capacitações para técnicos e produtores em sistemas de produção de caprinos e ovinos, técnicas para o planejamento da unidade produtiva e o desenvolvimento de sistema de produção eficiente e de agroindústria familiar que atendam os requisistos da legislação.
Graças às ações de transferência, os produtores têm trabalhado com reserva estratégica de alimentos (feno e silagem), o que garante alimentação para o rebanho durante o ano inteiro, independente das chuvas. Outras tecnologias já estão sendo utilizadas apropriadas são o método Famacha, cuidado com os animais recém-nascidos, salas de ordenha, sistema agrossilvipastoril e banco de proteínas.
Os resultados alcançados até agora têm sido reconhecidos por parceiros e produtores. "O projeto é novo, mas acreditamos que é interessante, importante para o desenvolvimento da cadeia produtiva, que necessita de novas tecnologias para melhorar a produção nas pequenas propriedades", ressalta o diretor técnico da Agência de Desenvolvimento Econômico Local (ADEL), organização não governamental que atua na região, Adriano Batista. "Temos a perspectiva de melhorar a produção e agregar valor aos produtos".
Articulação de parcerias e solidariedade
Representantes da Embrapa e demais parceiros envolvidos no projeto reconhecem que o forte senso de solidariedade existente na região faz a diferença e tem gerado bons frutos.
Antes mesmo do início da atuação da Embrapa, já existia um ambiente favorável para parcerias criado pela prefeitura municipal de Tejuçuoca, Banco do Nordeste e ADEL. Além dessas três instituições, também são parceiros do projeto a Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Tejuçuoca (ACRIA); prefeituras municipais de Apuiarés, Pentecoste e Independência; Universidade Estadual Vale do Acaraú; Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (Cetra); e Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Independência, Tauá e Parambu.
Farias explica que foram realizadas visitas aos principais parceiros potenciais do projeto (prefeituras, associações, sindicatos e ONG's) para mostrar o impacto que as ações teriam. Também estão previstas reuniões anuais e na primeira, em 2009, foi formado o grupo gestor do projeto composto por representantes d os parceiros. A segunda reunião aconteceu em 2010 para avaliação e planejamento de novas ações. Em 2011, ano de encerramento das atividades, será realizada a terceira, com o objetivo de mostrar os resultados finais.
Interação com outros projetos de pesquisa
Apesar de todas as Unidades Demonstrativas de sistema de produção e processamento de carne fazerem parte de projetos da Embrapa, eles não se relacionavam. Hoje, muitas atividades de outros projetos são desenvolvidas nessas Uds.
O projeto "Estudo microbiológico dos queijos de cabra na região Nordeste", por exemplo, promoveu uma análise bacteriológica dos queijos produzidos no município de Independência. Em Quixadá, o assentamento Boa Vista participou da validação do kit Embrapa de ordenha manual. O sistema agrossilvipastoril está implantado e em fase de validação no município de Tauá, no Território Inhamuns-Crateús.
O projeto Cordeiro do Cariri recebeu apoio em ações de transferência de tecnologias, com o objetivo de promover maior organização dos produtores. Representantes da ACRIA ministraram curso sobre o tema.
As Unidades Demonstrativas do projeto também serviram de modelo para um projeto internacional, desenvolvido em Cabo Verde, que visa capacitar técnicos daquele país.
As informações da Embrapa Caprinos e Ovinos, resumidas e adaptadas pela Equipe FarmPoint.
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