No entanto, o país tem potencial para crescer devido às condições de suas pastagens e a disponibilidade de infra-estrutura, como matadouros. Além disso, o país tem como incentivo que pode entrar nos Estados Unidos sem tarifas e que para a Europa tem uma cota de 6 mil toneladas, das quais atualmente só cobre 75%.
A tudo isso se agrega o fato de que os preços da carne, em geral, estão aumentando devido, entre outros fatores, ao fato de que há cada vez menos terra disponível para a atividade. Por isso, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estimou que a tendência seguirá em alta e o maior aumento será na pecuária ovina, já que devido à escassez de oferta seu valor crescerá em termos reais.
Dessa forma, está sendo atrativo para o Chile trabalhar para se tornar um importante exportador de ovinos, ainda mais em um momento em que países como Nova Zelândia e Austrália, de onde saem 95% dos envios mundiais, têm diminuído fortemente suas exportações devido a problemas de seca e encarecimento da terra.
"É muito possível que a demanda e o preço mundial das carnes ovinas aumentem fortemente. É uma boa opção, já que os custos são menores que outros negócios pecuários. O êxito de uma maior exportação dependerá do preço pago ao produtor e do tipo de câmbio", disse a veterinária do Ovinos Araucanía, Cornelia Kirchner.
Inclusive, por suas condições, o Chile poderia se tornar um exportador de carnes orgânicas, o que geraria retornos ainda maiores.
No entanto, para conseguir isso, o Chile precisa resolver algumas deficiências, como aumentar o rebanho, melhorar a qualidade e que a indústria se adapte às novas exigências dos mercados mundiais. "O negócio é cada vez mais atrativo, com melhores retornos. Porém, devemos crescer e temos o espaço, a infra-estrutura e o interesse dos privados. Também necessitamos de um bom nível de profissionais, precisamos capacitar gente", disse o gerente geral do Consorcio Ovino, Juan García.
O maior potencial do Chile está em sua capacidade de crescer, já que em 2007, dos 3,9 milhões de cabeças que existem em todo o país, foram abatidos somente 762 mil, ou seja, 20%. Além disso, o custo de produzir ovinos é menor que o de produzir bovinos.
Para poder avançar, é necessário investir. O tema tem chamado a atenção de empresários que há dois anos vêm melhorando a infra-estrutura e tecnologia em diferentes partes do país. Os empresários têm investido cerca de US$ 35 milhões em abatedouros de última geração. No entanto, a falta de massa crítica não lhes permite operar a 100% de sua capacidade.
Por região, os números mudam. Na região austral, onde as exportações são o motor do desenvolvimento, existem 2,2 milhões de cabeças e são abatidos 674 mil cordeiros, ou seja, uma taxa de extração de 30%. No centro-sul do Chile, no entanto, há uma grande quantidade de abate informal. Oficialmente, existem 1,7 milhão de ovinos e 100 mil animais abatidos.
Por isso, uma das chaves para aumentar a massa crítica é conseguir com que o produtor também receba os benefícios dos bons preços dos mercados internacionais. Existe um forte potencial na região de Magallanes, mas no máximo pode ter crescimento de 15%, disse o gerente da Agrícola Alcones, Héctor Doberti. É na zona centro-sul onde existe a possibilidade de obter mais animais por hectare. "O aumento produtivo deveria vir da zona centro-sul, onde a produção intensiva é uma boa alternativa para uma grande quantidade de pequenos e médios produtores", disse Kirchner.
A genética é a ferramenta que pode ajudar a expandir o rebanho e a fazer com que o produto seja mais homogêneo, o que é um dos atuais problemas. Também ganha força a introdução de raças de duplo propósito, produtoras de carne e lã de boa qualidade. Precisamente, isso está sendo impulsionado com a chegada ao país de genética estrangeira, ainda que também existam experiências nacionais.
Uma das iniciativas que melhor representam esta tendência é a do empresário José Marín, que com seus cruzamentos com a raça Merino Australiana conseguiu uma lã muito fina que no ano passado foi vendida a US$ 4,36 o quilo, o melhor preço da história da pecuária chilena. "Para seguir melhorando na produção de lã, estamos introduzindo uma nova equipe da Austrália para trabalhar com lãs de menos de 21 micra e acelerar os retornos econômicos", disse García.
Também há necessidade de focar no consumidor final, que está cada vez mais exigente, especialmente em questões como quantidade de gordura e cortes. Existem diferenças nas demandas internacionais, com os EUA demandando cortes especiais e embalagens a vácuo e os europeus demandando carne natural e inclusive orgânica, por exemplo.
Aplicar tecnologias que permitam manter a carne fresca por mais tempo também é uma forma de se diferenciar e, por isso, o frigorífico de Marín está aplicando um sistema neozelandês que garanta um produto fresco por quatro meses.
Situação dos principais países produtores de ovinos
O comércio internacional de carne ovina se concentra em poucos países. Nova Zelândia é o principal exportador mundial de carne ovina, com 40 milhões de cabeças, seguida por Austrália. A carne ovina tem uma baixa participação na produção mundial de carnes, de cerca de 5%. Os principais importadores são União Européia (UE) (36%), EUA (10%), Japão (6%), Arábia Saudita (6%), China (5%), México (4%) e Canadá (2%).
Com relação à competição para o Chile, as principais ameaças vêm da Argentina, que tem uma Lei Ovina que apóia o desenvolvimento do setor, e do Uruguai, que acaba de ser habilitado para entrar nos EUA.
O Chile, apesar de não ser um grande consumidor de cordeiros, com o consumo de apenas 400 gramas per capita por ano, tem também um espaço para crescer internamente.
A reportagem é da Revista del Campo do jornal chileno El Mercúrio.
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