Houve aumento em todas as classes sociais, sendo que o maior avanço, de 16,5%, ocorreu nas classes A e B, em que a renda média atingiu R$ 2.586 em 2008. Na classe C, o aumento da renda foi de 13%, para R$ 1.201, enquanto nas classes D e E houve incremento de 12% na comparação anual, para R$ 650.
Todas as classes também apresentaram elevação na renda disponível para consumo, aquela que não envolve os gastos correntes das famílias. A melhor notícia veio das classes D e E, cuja renda disponível passou de R$ 22 em 2007 para R$ 69 em 2008. Quatro anos atrás, as contas dessa classe social fechavam no vermelho. "As famílias ficavam devendo todo mês. Hoje, a situação mudou e foi uma mudança em alta velocidade", afirma Marc Campi, presidente da Cetelem. O aumento de renda livre para consumo da classe C, que abrange a maioria dos brasileiros, também chama atenção. Em 2005, era de apenas R$ 122, tendo subido para R$ 147 em 2007 e saltado para R$ 212 no ano passado. Nas classes A e B, a renda disponível aumentou de R$ 506 em 2007 para R$ 834 em 2008, sendo que, quando a pesquisa teve início, o valor era de R$ 632.
A pesquisa aponta para uma estabilidade da distribuição das classes por consumo em 2008. A classe C continua sendo a maior, representando 45% dos brasileiros, a A/B tem 15%, enquanto 40% dos consumidores do país pertencem às classes D e E. "A pirâmide social se manteve e isso mostra a consolidação da evolução, principalmente da classe C, ocorrida nos anos anteriores", afirma Campi.
Perfil de consumo
O perfil de consumo do brasileiro mudou. Produtos antes considerados supérfluos, como iogurtes e salgadinhos, hoje não saem do carrinho de compras, mesmo em momentos de crise. Mas enquanto nos iogurtes a tendência é de sofisticação das escolhas - aceita-se pagar mais por uma marca que ofereça benefícios adicionais à saúde, por exemplo -, em salgadinhos, quanto mais barato melhor.
Comportamentos como esses foram mapeados pela consultoria Boston Consulting Group (BCG) com 21.800 consumidores em 13 países. O levantamento apontou as categorias em que o consumidor busca produtos mais acessíveis (movimento classificado como "trading down") e os segmentos em que há o desejo de comprar itens mais caros ("trading up"). Além disso, questionou os entrevistados (825 brasileiros) sobre sua intenção de compra nos próximos meses, considerando o cenário econômico mais crítico. No Brasil, mais da metade dos entrevistados prevê redução nas despesas nos 12 meses seguintes (55%).
Houve uma mudança estrutural de comportamento, resultado, em grande parte, do aumento da renda e a entrada de novos consumidores na classe C. Por isso, o iogurte não saiu da lista de compras. "Era uma categoria muito suscetível a variações nos rendimentos das pessoas", diz Olavo Cunha, sócio da BCG no Brasil. "Mas isso mudou, em parte pelo incremento da renda e em parte pelo trabalho dos fabricantes, que passaram a oferecer mais variedade e características funcionais aos seus produtos", acrescenta, ressaltando que a preocupação com saúde se fortaleceu em todas as classes sociais.
Por outro lado, os salgadinhos, vilões da dieta, continuam na lista de compras. "Essa é outra categoria que, ao contrário de quatro anos atrás, está bem estável. As pessoas continuam comprando, mas sempre procuram gastar o menos possível." No geral, a categoria alimentos é a mais protegida na crise. E no Brasil, particularmente, tudo que se refere a higiene pessoal e limpeza é bastante valorizado. As maiores intenções de sofisticação de compra (trading up) estão nesses itens. "A aparência está entre os principais itens aos quais o brasileiro associa sentimentos positivos", diz Cunha. "E a saúde é uma das maiores preocupações." Segundo ele, "para o brasileiro, o apelo do prazer, a lógica do 'eu mereço', é muito importante".
As informações são do jornal Valor Econômico, adaptadas e resumidas pela Equipe AgriPoint.
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