O índice atual decorre de não ter havido presteza para conter a propagação dos choques de commodities a outros setores - que ocorre em proporção ao aquecimento da economia e ao seu grau de indexação, inclusive do salário mínimo. O problema pode ir além do preço dos serviços, a menos que a demanda seja desaquecida o suficiente.
A favor dos preços de commodities elevados e, provavelmente, em alta, pesa a continuidade do forte crescimento dos países emergentes e em desenvolvimento.
Conta também a extraordinária liquidez, que se acompanha de taxas de juros e dólar muito baixos. Pode-se ainda adicionar dois fatores altistas na oferta: as mudanças climáticas e a evolução mais lenta da produtividade.
Os EUA seguem patinando numa trilha de baixo crescimento e elevado desemprego. Porém, como o atual embate político-partidário deixa claro, são mínimas as chances de que estímulos fiscais venham a ser utilizados. Resta seguir mantendo a liquidez, o que leva a juros muito baixos e dólar enfraquecido e, logo, aos altos preços de commodities.
Na Europa, a área do euro balança. A proposta de reestruturação das dívidas, se mal dimensionada, pode só mudar a natureza da crise. Uma possível saída envolveria a China mitigar a quebradeira. A médio prazo, é mais provável que o país, assim como outros emergentes, reduza suas exposições nos EUA, dando, ao mesmo tempo, mais força à Europa.
Quando os ajustes evoluírem, é provável que o euro se valorize ante o dólar, reforçando a alta de commodities.
Quanto à China, salários mais altos e moeda mais valorizada poderão aumentar o ímpeto importador de um país um pouco mais voltado para o mercado interno - outra força no sentido de aumento de preços das commodities.
Não ocorrendo o pior nos EUA e na Europa, é concreta a ameaça de alta da inflação no Brasil. Para que seja combatida, juro alto e câmbio forte deverão prevalecer na impossibilidade de acionar eficazmente a política fiscal.
Artigo publicado inicialmente na Folha de S.Paulo
Envie seu comentário: