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Como equilibrar preços entre indústria x produtor?

postado em 08/02/2011

18 comentários
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No começo do ano, assistimos a uma discussão muito interessante (preços pagos ao produtor x preços pagos pela indústria) numa enquete proposta pelo FarmPoint (Como o preço da carne ovina se comportará em 2011?)


Bruno Fernandes Sales Santos, produtor de ovinos, mestre em zootecnia, da Aries Reprodução e Melhoramento Genético Ovino - Abacus BioLimited, comentou que a perspectiva para o mercado ovino é muita boa, porém, o desafio é muito grande. "O Brasil precisa desesperadamente de algumas medidas e na minha opinião, uma delas é o entendimento entre processadores e produtores, no sentido de produção de qualidade e remuneração justa, sem prejuízos para nenhuma das partes. Distribuir os lucros através da cadeia seria a melhor maneira de estimular a estruturação da mesma".

Ricardo José de Almeida Silva, sócio proprietário do Confinamento Hovinotel Vale do Sol, de Sinop/MT, postou que os produtores deixam os poucos frigoríficos darem preços aos animais. "Vendo cordeiros de até 120 dias, animais de excelente qualidade, mas fico obrigado a vender minha produção pelo mesmo preço daquele que só cria por lazer ou para atravessadores. Temos que fazer uma política mútua de fidelidade com os abatedouros e eles com nós, maximizar nossos rebanhos na certeza de saber para quem vender, não ficar a mercê e ter que pedir "pelo amor de Deus, comprem meus animais". Este processo baixaria muito nossos custos".

Já Cristiane Rabaioli, zootecnista e diretora da Estância Celeiro, de Rondonópolis/MT, destacou que temos que buscar um equilíbrio de preços que compensem para a indústria e para o produtor. "De nada adianta se pagar R$ 5,00 o kg do cordeiro ao produtor, e essa carne chegar a gôndola do mercado com um preço que iniba a compra pelo consumidor, assim, estaremos trocando 6 por meia dúzia, pois o consumo reduzirá em função do alto preço, consequentemente, a compra também. Têm-se que enxergar a viabilidade para a indústria, pois ela é a compradora. E isso talvez seja um dos "senões" da atividade, já que o produtor não encontra viabilidade no preço que a indústria paga e a indústria não encontra resultado no preço que o produtor quer vender".

Na sua opinião, o que deve ser feito para equilibrar preços entre a indústria e o produtor de ovinos?

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Equipe FarmPoint

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Comentários

Christtofer Paiva de Oliveira

Curitiba - Paraná - Produção de Caprinos, Ovinos gado de leite,
postado em 08/02/2011

A resposta a isso continua sendo a informalidade. A informalidade hoje ao produtor rende muito mais do que negociar com a indústria. De que adianta pagar 4,50 no kg do cordeiro se o produtor conseque vender a carcaça a 12 o kg, em algumas regiões, com o preço de 4,50 não tem como produzir qualidade e carcaça de qualidade já que a terminação é feita no confinamento fazendo com que se distribua a quantidade ideal de ração para se ter um acabamento uniforme.

O problema todo que o produtor não vale nada para a maioria dos frigorificos porque sempre tem alquem quebrado precisando do dinheiro e a industria quer esse tipo de produtor. Minha opinião é que se não houver politica e gente seria a ovinocultura no brasil continuara a ser informal onde é a principal renda do criador de ovinos, todos falam que ela é ruim mais muitos produtores continuam na atividade por causa dela então para o produtor ela é melhor saida simples assim.

Aqui no sul so criamos ovinos por gosto por tradição,e como se ter um cachorro, esta enraizado em muitos municipios daqui, gostamos do animal e em muitas propriedade é criado apenas para se fazer uma boa carne final de semana com os amigos, não temos como investir para aumentar rebanho se nem locais de abate proximos existem. Ovinocultura ainda é familiar, onde o criador é o mais explorado em alguns momentos so serve como expeculação politica como sempre.

Tenho visto muitos produtores inicairem a atividade fazer investimentos altos e acabar com a atividade em menos de tres anos a 4 anos. Então pra mim a ovinocultura ainda não se tornou rentavel e muito menos profissional. Espero ver a coisa melhorar nos proximos anos ou a ovinocultura vai ser sempre uma atividade familiar e para aqueles que realmente gostam de criar o animal e para alguns sonhadores.

Carlito Nóbrega

Presidente Prudente - São Paulo - Produção de ovinos
postado em 08/02/2011

Assino embaixo das palavras do Bruno! Distribuir os lucros através da cadeia seria a melhor opção mesmo. Os preços pagos oscilam muito, deveria haver algo padronizado, mas isso tbm depende das cotações. Abraços e parabéns pela iniciativa.

LUIZ CARLOS NUNES DOS SANTOS

Salvador - Bahia - Produção de ovinos
postado em 08/02/2011

Embora com avanços significativos, a caprino e ovinocultura ainda vão demorar para atingir níveis satisfatório ao produtor e ao consumidor, em virtude da desorganização em todas etapas de produção. A questão do preço é função direta desta desorganização, porém, não tenho dúvida que a grande sacada é o associativismo e cooperativismo. É preciso que convençamos ao pequeno e desinformado produtor que o galho de arruda atrás da orelha não melhora sua vida em nada...O grande, também precisa conscientizar-se desta vertente, ele não sobrevive sem o pequeno. Minha vida é fazenda, sou apaixonadíssimo pela atividade rural...fiquei encantado com criação de ovelhas e, não tenho dúvida: esta é a saída para o nordetino, com coopertivismo e assiciativismo.

Nei Antonio Kukla

União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 09/02/2011

Gostaria de fazer algumas considerações sobre os comentários e o texto acima (sem ser o dono da verdade, jamais!)

1) A ovinocultura poe ser uma atividade familiar, mas deve ser profissional, caso contrário a atividade sempre estará patinando, com animais de péssima qualidade, abate de animais velhos, custos de produção elevados, indefinição de raças);

2) A forma cooperativa de se trabalhar, seja cooperativismo de produção, trabalho, agropecuária é uma das melhores formas de se trabalhar. Na ovinocultura creio ser uma das alternativas viáveis para alavancar a atividade, tendo tbm a forma de integração, porém esta última nem sempre é praticada com lealdade peloas indústria integradoras.

3) Concordo plenamente que a carne ovina deve chegar as gôndolas a um valor acessível a todas as camadas sociais, caso contrário chegará o momento em que teremos que atender somente um público com maior poder aquisitivo e, isto é perigoso, pois este público é limitado, principalmente nas pequenas cidades e é onde concentra-se grande parte do rebanho.

O equilíbrio de preço entre a indústria e o produtor se dará quando o produtor conseguir ser eficiente, diminuindo seus custos de produção, sendo acima de tudo ORGANIZADO com outros criadores através das diversas formas ede organização (associativismo, cooperativismo, núcleos), pois nunca devemos esquecer que qualquer empresa por mais correta que seja não deseja muito que seus fornecedores sejam organizados, pois assim podem ditar as regras e estabelecer preços. Não pensamos que vai vir um frigorífico fomentar a nossa organização, isto deve partir de nós mesmos e de órgãos de ATER.

Além de tudo, deve haver o bom senso por parte da indústria, que esta deve ter a concepção de que se não é o criador ela tbm não existirá.

Bruno Fernandes Sales Santos

Dunedin - Otago - Nova Zelândia - Produção de ovinos
postado em 09/02/2011

Olá a todos,

Esta é mais uma discussão importante e séria, pois todos sempre encontram uma maneira de justificar algo que não está bom ou não funciona direito, geralmnente colocamos as causas ou a "culpa" em algo ou alguém! Na minha opinião somos todos responsáveis.

O CEO de um dos maiores frigoríficos de Ovinos do mundo (Alliance Group Limited) me perguntou: "Bruno, como o Brasil paga um dos maiores preços do mundo pelo cordeiro e ainda assim a atividade não se desenvolve?" A resposta: "Acredito que uma das explicações se deva ao fato do produtor não saber o quanto custa produzir e a cadeia explorar este fato para explorar os altos preços pagos pelo produto nos grandes centros...."

Pensar em popularizar o consumo, mais uma vez, em minha opinião é uma estratégia muito muito errada, pois se com preços altos no mercado devido à forte demanda, o produtor acredita que recebe pouco, imaginem com preço baixo para "popularizar o consumo".

Para equilibrar os preços ao produtor com os preços pagos pelo consumidor final, em minha opinião, teremos que primeiramentente nos organizar como produtores eficientes (kg de Cordeiro/ovelha/ano), conhecer profundamente nossos custos (R$/kg de Peso Vivo de Cordeiro), produzir bons animais com excelente qualidade para podermos ofertar ao mercado (frigoríficos e consumidor final) carcaças de alto rendimento em músculo e adequado acabamento de gordura, que irão resultar em alto aproveitamento na indústria e carne de alta qualidade. Depois, nos organizar em termos de escala através de grupos de produtores, associações que falem a mesma língua, que tenham os mesmos princípios e objetivos e etc. E em seguida estabelecer acordos e parcerias com frigoríficos que aceitem remunerar por qualidade. Mas que qualidade? Qual é o nosso padrão de qualidade? Que peso? Que nível de acabamento? Que idade e etc...... PRECISAMOS DE UM PROGRAMA DE TIPIFICAÇÂO E QUALIFICAÇÂO DE CARCAÇAS OVINAS!!!

Em países com ovinocultura estruturada o produtor há quase uma década já recebe pelo rendimento em músculo de suas carcaças, pelo tamanho das mesmas e acabamento. Isto exige maquinário muito caro, programa sérios de melhoramento genético e assistência e ainda investimentos em gestão das propriedades, capacitação de produtores e mão de obra. Quem irá pagar por isso?

Atualmente nossa referência para a ovinocultura são as feiras, exposições e leilões. Gostaria de sugerir que uma pequena parte da renda obtida nas exposições, julgamentos, leilões de animais caríssimos, que aparentemente são tão importantes para a atividade, seja destinada para isso. Vamos sugerir que uma pequena parte dos valores pagos às associações de raça ou de criadores para os registros genealógicos seja destinada para isso. Vamos sugerir que as enormes quantidades de medicamentos, sal mineral, ração balanceada e etc. destinem X% para o desenvolvimento da atividade de maneira séria e profissional. Concordam que estaremos pagando por isso?

Abraço a todos,

Walter Rogério Diesel

Goiânia - Goiás - Pesquisa/ensino
postado em 09/02/2011

É um grande prazer voltar ao debate com esse grupo afinado.

Todos vocês argumentaram muito bem, mas não posso deixar de reconhecer que em poucas palavras o Bruno incluiu a maior parte dos problemas e causas do descompasso no setor.

Em outras participações fui enfático em dizer que o problema geral da grande maioria dos produtores não é o preço, este sim é uma consequência. E do quê? Para mim a causa está numa falta de definição de rumos, foco, estrutura adequada para as criações serem mais profissionais e terem menores custos, mas, principalmente conhecimento, e este, para todos da cadeia. Quando se fala em preços mais populares não se quer dizer que a carne será vendida a preço de frango, mas também não dá para imaginar que os preços tenham que ser mais do que o dobro da média dos preços dos cortes da carne bovina. Isso também é um absurdo, pois restringe o consumo sim. Quem não entende isso, sugiro que estudem um pouco sobre elasticidade-preço e elasticidade-renda da demanda, em qualquer livro de economia básica tem esse assunto.

Quanto aos produtores, em muitas palestras proferidas em Goiás, Minas Gerais e Acre, nas quais tratei da viabilidade economica da ovinocultura, apresentei os ganhos de escala que ocorrem na atividade que tem como produto final cordeiros precoces (de até 120 dias). Não dá para produzir esse cordeiro sem que haja equilíbrio entre genética, alimentação, conhecimento de manejo e volume de produção. Fala-se muito em agricultor familiar, mas qual é o tamanho ideal da criação para que o homem e sua esposa tomem conta do manejo? Pequenos demais não terão dinheiro para ter acesso a teconologia. Só por cooperativismo. Mas confesso que ando meio desacretidado nisso, apesar de ser um defensor.

Já os grandes produtores não se importam com o que será feito no final com seu produto (falo de modo generalizado), pois as indústrias estão "loucas" atrás de cordeiro. E daí podem barganhar um preço mais alto, na minha opinião, até irreal muitas vezes. Sem contar nem sempre o sabor é dos melhores, apesar de haver excessões, é claro. Isso está acontecendo hoje.

Cordeiro de qualidade (48% a 54%) de rendimento de carcaça custa caro produzir, é verdade, e sem ração é meio difícil de tê-lo com esse rendimento. Mas é ainda bem mais caro quando se tem baixa escala, pouca incidência de partos duplos, pouca mecanização, e tem-se que remunerar caro uma mão-de-obra despreparada, descomprometida e ineficaz. Não há indústria nem consumidor que aguente ineficiência transferida via preços para o resto da cadeia, apesar de eu concordar que a indústria, muitas vezes, se aproveita da situação. Sem ofenças.

Então, o problema crucial está na coordenação dessa cadeia, pois essa NÃO EXISTE, ainda para que tenha os direcionamentos corretos para os segmentos envolvidos. Não é um segmento o responsável sozinho, mas todos em conjunto. E para que hajam conjuntamente é preciso que se descruze os braços nas pesquisas e para as políticas do setor.

Grande abraço!

KiLOViVO - Ovinocultura de precisão - (65)99784004

Tangará da Serra - Mato Grosso - Técnico
postado em 10/02/2011

Muito bem, Equipe do FarmPoint!

Novamente vocês estão instigando os pretensos ovinocultores e os ovinocultores de fato a raciocinar na direção mais correta, efetiva e oportuna para buscar a evolução da nossa ovinocultura.

Não há como equilibrar preços entre a indústria e o produtor de ovinos antes de haver o amadurecimento necessário para que aconteça o equilíbrio entre as atitudes e posicionamentos entre eles. Enquanto as indústrias insistirem em enxergar o produtor como, apenas, uma oportunidade de abastecerem-se com matéria-prima de baixo custo, os produtores continuarão entrando e saindo da atividade com produtos de baixa qualidade e geradores de prejuízo (aos produtores, é claro). Do outro lado, enquanto os pretensos produtores de carne ovina teimarem em ficar no conforto de escoar o seu produto somente quando lhes convier e com a casualidade comandando a qualidade e a quantidade, não teremos uma mercadoria com a padronização necessária para gerar um hábito de consumo de carne ovina capaz de oferecer viabilidade e sustentabilidade a médios e grandes investimentos em qualquer um dos setores que poderiam formar uma cadeia produtiva. Estou me referindo, certamente, ao cenário geral, pois já estão acontecendo empreendimentos que, embora envolvam, ainda, pequenos rebanhos, estão mostrando que é possível fazer a ovinocultura de corte brasileira evoluir como uma atividade geradora de produtos nobres e não, como muitos demagogos insistem, de produtos "de preços acessíveis" para disputar mercado com as carnes populares. A demanda pela carne de cordeiro sempre estará ligada as suas características degustativas e não à necessidade de abastecer o cotidiano da mesa doméstica.

Só há necessidade de equilíbrios entre produtor e indústria quando o primeiro não tiver condições de, na forma individual ou coletiva, contratar os serviços de transformação da segunda para, ele mesmo (o produtor), abastecer o mercado consumidor e, aí sim, buscar equilíbrios em diversos aspectos. Para isso, o próprio produtor precisa ser o gestor de todo o processo. Como essa condição é, ainda, muito rara, vejo a necessidade de equilibrar os preços através de ações originadas pela harmonização entre as seguintes atitudes:

1ª - Predisposição, antes de tudo, de uma comunidade de produtores rurais em buscar renda através da produção de carne ovina.

2ª- Reconhecer a necessidade da existência de uma organização operacional e um mecanismo de produção coletiva de carcaças ovinas assumidos, gerenciados, assistidos e monitorados pela indústria interessada em transformá-las (as carcaças) em produtos que satisfaçam as circunstâncias qualitativas, quantitativas, sazonais e de regularidade ditadas pelo mercado consumidor. Todos os aspectos zootécnicos necessários ao sucesso de empreendimentos desse nível podem ser discutidos, predefinidos e executados, pois já existem e são simples.

3ª- Interesse do produtor em participar, discutir adequações e promover a evolução de um programa de produção que, embora gerenciado e monitorado por uma indústria específica, garanta a sustentabilidade e a viabilidade econômica e ambiental dos rebanhos envolvidos.

4ª- Vontade de ELIMINAR os paradigmas que cabresteiam a opinião dos ovinocultores quanto a considerar uma utopia a EQUALIZAÇÃO entre os interesses dos Produtores fornecedores de matéria-prima e da Indústria que absorve essa produção no sentido de utilizarem um mecanismo de produção que NÃO permita resultados casuais e nem ocasionais, tanto com relação à produção e remuneração dos primeiros quanto à eficiência na obtenção de resultados da segunda.

Daí em diante, o equilíbrio de preços entre a indústria e o produtor de ovinos será inevitável, além de positivo para os dois lados. Como prêmio, veremos a evolução do hábito de consumo interno de carne ovina, com ênfase à carne de cordeiro, e a disposição dos consumidores de pagar o preço necessário para garantir a produção (que é o que acontece, genericamente, com os PRODUTOS ORGÂNICOS, por exemplo).

Bem, para continuar é necessário enfatizar que essas atitudes (que poderiam gerar ações decisivas) são abstratizadas pela condição evolutiva da cultura nacional. No Chile, por exemplo, elas são bem mais concretas.

Enquanto a nossa ovinocultura vai amadurecendo, devemos continuar convivendo e enfrentando esses desequilíbrios generalizados entre as indústrias e os produtores de carne ovina. Embora publicações e manifestos tentem "dourar a pílula", a produção de carne ovina não consegue evoluir, pois, mesmo existindo um potencial imenso para sermos expressivos na atividade como produtores, a rapinagem de empresas que se vestem de "cordeiro" para facilitar as suas intenções de "lobo" tem provocado um grande prejuízo à atividade em nosso país, tanto de recursos financeiros como de tempo desperdiçado. E o mais grave é que existem situações onde o setor público apóia e facilita a ação dos que, como indústria ou seus prepostos, propagandeiam-se como grandes fomentadores da atividade, mas estão sugando o fôlego dos que conseguem, ainda, permanecer nela. O resultado é uma desmotivação cada vez maior em possuir ovelhas. Eu já disse em outras oportunidades e repito: enquanto a hipocrisia, a demagogia, o individualismo e a ganância estiverem dominando, o Brasil não deixará de ser um mero "criador de carneiros" para passar a ser um "fornecedor internacional de carne ovina".

Um abraço a todos.

Fernando Miranda de Vargas Junior

Dourado - Mato Grosso do Sul - Pesquisa/ensino
postado em 10/02/2011

CÍRCULO VICIOSO

Desorganização da cadeia é a palavra chave, a qual não acontece porque a informalidade é forte e com isto não existe estimulo por parte do produtor em produzir em maior escala, este entrega semanalmente na cidade a valores interessantes; ao mesmo tempo se o produtor se organiza e passa a ter maior escala terá dificuldade em comercializar a um preço semelhante ao informal; já a indústria acaba frustrando este tipo de produtor tão desejado ao não ter comprometimento com este e sem uma política de preços; enquanto isto as poucas indústrias com boa capacidade de abate reclamam da falta de animais com qualidade e mesmo sem qualidade, da dificuldade de logística para distribuir seu produto, pois abater somente ovinos e distribuir é oneroso, isto é um grande gargalo para a indústria, principalmente se esta não fica localizada próximo a grandes centros consumidores e sua capacidade de estoque é baixa; além disto a indústria sofre com toda a amarração fiscal/tributária dentro dos Estados e entre Estados que existe em nosso país para quem faz tudo correto isto aumenta significativamente os custos e ao repassar ao varejo ou mesmo diretamente ao consumidor isto faz com que o preço final fique muito elevado.

Concordo plenamente com um dos comentários postados aqui, enxergo somente um caminho para quebra deste ciclo vicioso, implantar sistemas de associativismo/cooperativismo. Mas será que temos ou somos capazes de desenvolver este espírito associativista? Recentemente em meu Estado vários grupos se prepararam para tentar este passo, mas isto não aconteceu, pois quando foi informado toda a responsabilidade, riscos e envolvimento necessários não vingaram as idéias do papel, principalmente depois que o preço melhorou. Um aprendizado disto que somente os esforços acontecem quando as dificuldades são maiores.

Ao mesmo tempo a grande maioria (toda a cadeia, principalmente a indústria e produtor) não irá ler esta discussão neste site ou em qualquer lugar, pois trabalham de forma instintiva, não sabem seus custo, não existe planejamento e muito menos possuem uma visão da cadeia como do todo.

Alguns comentários:

"falta de escala e uniforme com mínimo de qualidade (consumidor que determina, mas com a baixa oferta basta não ter odor forte, idade avançada e não castrado, e um mínimo de gordura para não escurecer a carne) de produto durante o ano"

"qualquer discussão técnica neste momento sobre qualidade é teórica, pois não atingimos o primeiro degrau que é produzir"

"este primeiro passo sobre qualidade deveria ser dado pela industria ao premiar os produtores que entregassem animais superiores e considerar estes como parceiros"

BRUNO FONSECA SODRÉ

Itatiba - São Paulo - Revenda de produtos agropecuários
postado em 11/02/2011

A industria frigorifica e de emtrepostos de carnes, sempre será vista como a vilã da cadeia produtiva, ora por pagar muito pouco quando todos estão pagando pouco, ora por não pagar mais do que os outros quando os preços estão mais atrativos.
 
Mas a grande verdade é que o mercado brasileiro de produção de carne é singular em relação aos demais paises produtores, faltam dois fatores fundamentais, que aqui não encontramos com facilidade. Profissionalização dos meios de produção como sitios e fazendas, e incentivos governamentais, principalmente de proteção de mercados e de fomento ao produtor.
 
Nosso produtor rural na maioria das vezes não atua como gestor de sua produção. Reduzindo custos de produção sem afetar produtividade é dificil para profissionais desta area o desafio ja é complicado, imagina para quem se isola em algum fundo de campo. Ou quem na maioria das vezes se desdobra em outras atividades de maior expressão e tem a propriedade rural como sua segunda ou terceira atividade.
 
Produzir no brasil é complicado, em um pais que tem tudo quando vamos para o campo parece que as ferramentas desaparecem, o dia a dia do produtor rural é bem diferente do que ele mesmo lê nas revistar e assiste nos poucos programas voltados para ele.

A alternativa ainda é buscar bons profissionais, cooperativas serias, programas de produção assistidos com compra garantida. Enquanto isso deitado em berço esplendido nosso estado se deleita e acomoda-se em números que se destorcem pelo tamanho continental de nosso pais, nosso numero de exportação de carne é um exemplo, somos o pais que mais exporta no mundo mas se cruzarmos este numero com o nosso potencial de produção ele fica pífio, e o governo insiste que pelo menos somos os maiores, mas quem são nossos concorrentes, Japão, Russia, Argentina e Uruguai.... já passou da hora de explorarmos melhor nosso potencial produtivo.
 
Enfim uma remuneração justa sempre vai depender de quem consegue produzir bem e vender na hora certa. Não tem mágica.

EDUARDO AMATO BERNHARD

Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Consultoria e Assessoria Veterinária
postado em 11/02/2011

Quando ouvimos críticas do produtor em relação aos frigoríficos e vejo discussões nesse sentido em diversos meios, muitas vezes acredito que estamos colocando a carroça na frente do bois, só para variar um pouco. A ovinocultura brasileira, da forma como está desestruturada, não possui ferramentas suficientes para dizer qual deve ser o preço pago ao produtor, definir preços mínimos ou estabelecer normas que sejam conformes com a realidade da maioria. Considerando-se que existem diversos sistemas de produção e exploração em nosso país, baseados em diferentes raças e climas, na sua grande maioria com baixa tecnologia e produtividade, sem organização e aliados a falta de escala e padronização, esse tema me parece pouco utópico.

Como bem comentou o Bruno, para começo de conversa são poucos e raros os produtores que realmente sabem quanto custa produzir um cordeiro. Ou pior, quando vejo contas realizadas de forma equivocadas, alocando valores diversos sobre a produção de cordeiros, de forma descabida. Além disso, quando vemos os preços nas gôndolas dos supermercados, dificilmente lembramos de todos os custos envolvidos até a chegada deste ao consumidor. Se avaliarmos que um cordeiro de raça de carne tem um rendimento médio de 42%, o seu preço praticamente dobra em relação a carcaça, somado a isso existem elevados custos de transporte, armazenagem, embalagem, custos de abate propriamente dito, impostos etc. Se considerarmos um preço de R$ 4,00 o peso vivo, podemos chegar a uma conta de R$ 14,00 o quilo da carcaça em média para o frigorífico, já descontada a comercialização das peles e visceras. Se ainda imaginarmos que nem todos os cortes possuem a mesma valorização no mercado, começamos a entender por que algumas diferenças de preço entre os mesmos, assim como as perdas em cortes diferenciados ou desossados. Nos supermercados existem outros custos e perdas e por princípio comercial, todos os elos de uma cadeia produtiva visam o lucro, algumas mais, outras menos. Num mercado capitalista como o nosso é uma questão simplesmente de quem pode mais.

E quem pode mais é aquele que está mais organizado e estruturado e pode se dar ao luxo de negociar e ditar preços, o que não é o caso dos produtores de cordeiros no Brasil. Vejam casos como o da Argentina, onde quem dita o preço é o produtor, que deixa de vender seu produto ao frigorífico, para negociar os preços. A grande diferença entre nosso países, é que existe um setor produtivo organizado, como ocorre hoje no Brasil em vários setores da agricultura e da pecuária, que mesmo assim, tem muitas dificuldades em garantir preços aos seus produtos. Vide o mercado do leite, do arroz, do café, entre outros, que possuem cadeias produtivas bastante estruturadas.

Ou seja, sem nos organizarmos, sem associativismo, sem cooperativas, sem união, não existe a mínima possibilidade de um melhor equilíbrio, sem esquecer as demais questões acima levantadas e outras tão bem definidas por outros criadores e técnicos que aqui me antecederam.

Retomando o exemplo neozenlandês, aqui já debatido por diversas vezes, ao contrário do que muitos produtores pensam, não existe nenhum subsídio para o produtor, os custos de produção são altíssimos, a mão-de-obra é cara, assim como a produção baseada exclusivamente em pastagens altamente fertilizadas em solos pobres e rasos, com alta concentração animal e produtividade mínima aceitável de 120 a 160% de desmama, baseada em um rígido programa de seleção e melhoramento. O produtor naquele país tem ciência de que se a ovelha produzir um só cordeiro ou menos que isso, que é a nossa realidade, a produção não se paga.

Por isso, antes de reclamarmos de preços, temos que fazer a nossa lição de casa, botar a mão na massa e nos unirmos, para criar uma cadeia forte e estruturada, produzindo animais com qualidade e produtividade, sem equecer os aspectos sanitários e as tecnologias disponíveis existentes para cada uma das realidades do nosso país.

Congratulo-me mais uma vez com o FARMPOINT, por trazer esses assuntos à tona e nos permitir expressar nossas opiniões aberta e democraticamente.

Daniel Pires Alvorcem

Santa Maria - Rio Grande do Sul - Zootecnista
postado em 12/02/2011

A nossa discussao parece algumas reunioes de entidades de classe em que todos tem razao mas a situacao nao muda. Sou produtor rural em sao sepe e estou no ultimo semestre da faculdade de zootecnia na UFSM e confesso que ao mesmo tempo que preocupa , a ovinocultura estimula as pessoas a trabalharem mais. A desorganizacao da cadeia nao eh um motivo para o desequilibrio dos precos! Nao existe a cadeia para ser desorganizada. Precisamos exigir do ministerio da agricultura, farsul, dos secretarios estaduais de agricultura e principalmente dos produtores que comecem a organizar o setor. Estamos perdendo dinheiro e em consequencia disso ficando inclinados a abandonar a atividade como muitos ja fizeram. Na minha opiniao a industria nao trabalha junto com o produtor. Quando existem animais para abate e sobra carne na gondola do ponto de venda as premiacoes e estimulos "desaparecem"! Isso ja aconteceu com a carne angus, com o charoles e tambem com o hereford. Nao vislumbro outra solucao senao o associativismo entre os produtores e o avanco tecnico necessario para viabilizar oferta constante de produtos de qualidade ao consumidor.

Nelson Luiz da Silva Junior

Assis - São Paulo - OUTRA
postado em 13/02/2011

Compartilho a mesma opinão de muitos outros profissionais da área, mas acredito que é relevante todos registrarem a sua. A indústria (frigoríficos) está acostumada a pagar ao criador o preço do quilo/vivo do cordeiro, nivelado/padronizado por baixo, e "ainda" argumentando que falta qualidade. Pois bem, já está na hora de se fazer justiça, diferenciando e pagando ao produtor do cordeiro de média e de alta qualidade, o valor que compense seu investimento. Se não for assim, não haverá estímulo para investimento em genética e nem para o aumento de rebanho. Os criadores sérios, que ainda não produzem um cordeiro de qualidade devem fazer um esforço e procurarem meios para evoluirem, e os aventureiros, caronistas... Também não podemos deixar de solicitar ao governo que faça sua parte, diferenciando a carga tributária para aqueles produtores de pequenas propriedades rurais, promovendo alterações no código florestal permitindo que sejam mantidas apenas as áreas legais da reserva florestal, aumentando o potencial de produção. Em muitas propriedades essa área ultrapassa os 20%, mas os proprietários não podem reduzi-las. Chegou o momento de se fazer o dever de casa.

eldar rodrigues alves

Curitiba - Paraná - governo
postado em 14/02/2011

Caro amigo Bruno Fernandes Sales Santos.

Só esse parágrafo , muito bem colocado por você, daria um livro Parabéns!

"Produtores eficientes (kg de Cordeiro/ovelha/ano), conhecer profundamente nossos custos (R$/kg de Peso Vivo de Cordeiro), produzir bons animais com excelente qualidade para podermos ofertar ao mercado (frigoríficos e consumidor final) carcaças de alto rendimento em músculo e adequado acabamento de gordura, que irão resultar em alto aproveitamento na indústria e carne de alta qualidade. Mas que qualidade? Qual é o nosso padrão de qualidade? Que peso? Que nível de acabamento? Que idade e etc. PRECISAMOS DE UM PROGRAMA DE TIPIFICAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE CARCAÇAS OVINAS!!!"

Gostaria de colocar duas palavras: EFICIÊNCIA PRODUTIVA e completando colocar também um ensinamento de meu pai: APRENDA COM A EXPERIÊNCIA DOS OUTROS. Assim sugiro que aprendamos com a Austrália e Nova Zelândia, alguns itens tais como:

QUAIS RAÇAS UTILIZAM EM SEUS CRUZAMENTOS?

DE QUE FORMA FAZEM O ACABAMENTO DE CORDEIROS?

QUAIS AS PADRONIZAÇÕES DE CARCAÇAS E PADRÕES INTERNACIONAIS?

COMO FUNCIONA A CADEIA PRODUTIVA?

Com certeza, nem tudo poderá ser copiado, porém, muito poderá ser adaptado para nossa realidade.


Ivan Saul

São José dos Pinhais - Paraná - Produção de ovinos
postado em 14/02/2011

Meu caro Dr. Kuyumtzief e demais colegas, cansado de, como produtor, receber sempre os mesmos questionamentos e injunções, gostaria de perguntar o seguinte:

- Quem duvida da eficiência do processo produtivo na indústria?
- Quem questiona seus métodos de gerenciamento?
- O frigorífico sabe quanto custa produzir carne?
- Quem está carente de matéria-prima não deveria investir nas relações com o fornecedor?
- Não dá para reduzir as margens de lucro (que o MDIC naquele estudo sobre mercado externo considera admissíveis em 15%)?

É isso meu amigo, da minha maneira, espero ter contribuído. Abraços à todos!

P.S.: logo vai sair uma "carta aberta" para ti no meu blog.

Saudações ovelheiras!
Ivan Saul, D.V.M. M.Sc. - Granja Po´A Porã, 14/fev/2011.
http://ivansaul.blogspot.com

Carlito Nóbrega

Presidente Prudente - São Paulo - Produção de ovinos
postado em 15/02/2011

Discussão magnífica!

eldar rodrigues alves

Curitiba - Paraná - governo
postado em 15/02/2011

TEMOS MUITO A PERCORRER VEJAM ESSE VIDEO E TERAO UMA VAGA IDEIA DE COMO TEREMOS QUE NOS ORGANIZAR PARA ATINGIRMOS OS MERCADOS
http://www.youtube.com/watch?v=aGMw5kB5J6c&feature=related

KiLOViVO - Ovinocultura de precisão - (65)99784004

Tangará da Serra - Mato Grosso - Técnico
postado em 17/02/2011

Prezado e estimado Dr. Ivan Saul:

Com a licença de todos, quero, inicialmente, agradecer-lhe, Dr. Ivan, pela sua consideração em manifestar questionamentos. Ações desse tipo são decorrentes de atitudes que, além de defenderem bandeiras, promovem o labor necessário para edificar a atividade que fomentamos e mostram que, de outro lado, passividade, indiferença e omissão nunca construíram nada. Vamos, então:

- Quem duvida da eficiência do processo produtivo na indústria?

A questão não está na dúvida, e sim no resultado. Sempre que o processo produtivo de uma indústria de transformação coloca no mercado produtos que sofrem restrições ou objeções por parte do consumidor, a eficiência operacional da empresa e a imagem desses produtos estarão comprometidas. No caso dos alimentos, nenhum de nós, enquanto consumidores, vai gastar dinheiro com produtos de qualidade inconstante e/ou duvidosa.

- Quem questiona seus métodos de gerenciamento?

Deve ficar esclarecido que estamos nos referindo ao gerenciamento da produção de matéria-prima para o abastecimento de frigoríficos. O que existe, então, são críticas, e não questionamentos, pela não existência de empreendimentos que invistam nessa área, embora muitas empresas têm armado vários tipos de arapucas para caçar produtores bem intencionados, porém desavisados.

- O frigorífico sabe quanto custa produzir carne?

Os que não sabem é porque não se interessam. É uma informação desnecessária a eles e pode gerar custos diretos e indiretos. Como o modelo mercadológico perseguido é o da carne bovina, muitos são os frigoríficos que funcionam ou funcionavam ( porque faliram) buscando ou que buscavam, apenas, a matéria-prima existente na forma casual ou ocasional para remunerar o produtor com os menores valores possíveis. Inclusive, houve um caso onde produtor, depois de detalhar os seus cálculos, chegou à conclusão que PAGOU para uma empresa de Rondonópolis-MT receber os seus animais.

- Quem está carente de matéria-prima não deveria investir nas relações com o fornecedor?

Claro que sim. Eu insisto em reafirmar que esse é o único caminho que conduzirá ao sucesso da ovinocultura de corte brasileira. As justificativas são assunto para um debate exclusivo.

- Não dá para reduzir as margens de lucro?

Redução de margem de lucro nunca será uma ação de indulgência. É uma necessidade imposta pelo mercado através de um misto que envolve demanda e concorrência. Existe um ditado que diz: "Se tem quem pague, tem quem cobre."

É isso. Perdoe-me caso as respostas não sejam suficientemente completas. Coloco-me à disposição para completá-las.

A produção de carne começa no campo e termina na mesa do consumidor. Portanto, somente uma sinergia positivamente efetiva entre a produção, a transformação e o consumo será capaz de fazer o Brasil alcançar um dia o status de exportador de carne ovina. E o prazo para que isso aconteça depende da nossa capacidade empreendedora.

Um abraço a todos.

Giorgi

RICARDO JOSÉ DE ALMEIDA SILVA

Sinop - Mato Grosso - Produção de ovinos
postado em 03/03/2011

Ótima discusão.
Temos que debater, debater e debater. De forma saudável e racional.
Só assim chegaremos a um ponto encomum entre nós e a cadeia frigorífica.

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