O que os criadores caririenses pretendem é aumentar o núcleo de animais existente para evitar a consanguinidade e formar novos rebanhos a serem repassados a outros criadores interessados em preservar a raça, que é tipicamente nordestina. A trajetória da Nambi segue o mesmo contexto histórico da chegada dos outros animais domésticos ao país, onde foram introduzidas via Casa da Torre, Forte de Garcia D'Ávila, localizada na Bahia, que abriu frente para todo o Nordeste. Provavelmente, a Nambi é oriunda de animais trazidos da África e Península Ibérica, no período da colonização.
Os ovinos dessa classe são deslanados, que povoam as regiões semiáridas do Nordeste. Têm como característica principal a ausência de orelhas ou tamanho reduzido delas, que podem ter cumprimento de cerca de dois centímetros, sendo que, em outras raças nativas, as orelhas variam entre a medida de 12 a 22 centímetros.
Esses animais assemelham-se muito aos da raça Nguni ("orelhas de rato"), criada desde a idade do ferro, pelas tribos Zulus na África. As características da pelagem são as variações de cores. As mais abundantes são as malhadas, branco e preto, vermelho e preto, sendo as cores uniformes mais raras.
Os indivíduos do grupo Nambi são animais extremamente rústicos e prolíferos, com estatura mediana e peso que pode variar entre 50 e 60 quilos nas fêmeas e de 65 a 75 em machos. Eles são capazes de encontrar alimentação adequada em períodos de longas secas, o que não acontece com outras raças. O potencial dos Nambi é para a produção de pele e carne, a qual tem fama de ser muito macia e saborosa. Porém, se cruzada com animais exóticos, gera mestiços mais produtivos. Devido à rusticidade e bom peso, os animais adaptaram se ao clima e vegetação da Caatinga. A ocorrência da Nambi no Brasil é restrita a região Nordeste, além do Ceará, há exemplares nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Piauí.
Vantagens
Para os criadores, a vantagem em criar Nambi é que, além de não terem gastos elevados com a alimentação dos animais - os quais consomem de restolhos de cultura até as mais grosseiras vegetações com baixo valor nutritivo, típicas da Caatinga -, os borregos são rústicos e ativos, iniciando cedo o consumo de forragem, o que diminui a mortalidade na fase inicial da vida. A quantidade de exemplares é reduzida. Por isso, é importante adquirir mais matrizes e reprodutores.
A iniciativa dos dois criadores em conservar a raça Nambi poderá contribuir para tirar os animais do risco de extinção. Com o aumento do núcleo, eles pretendem atrair outros criadores e enviar exemplares a instituições de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), para que sejam coletados dados sobre o material genético que possam servir a futuros estudos sobre este tipo de ovino. Os criadores apelam para que quem tiver animais semelhantes entre em contato com eles afim de trocar de informações que possam enriquecer os dados de variabilidade genética dos rebanhos.
"Resolvi criar Nambi depois que percebi a importância da raça. Quero preservar o material genético para que as futuras gerações a tenham como base para cruzamentos industriais, até a formação de outras raças sintéticas a partir desta", salienta Nertan Nicodemos. Futuramente, os dois pretendem formar uma associação nacional dos criadores de Nambi, quando os indivíduos forem reconhecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária como uma raça com padrões definidos.
Origem
O nome Nambi significa "orelha" na língua Tupi Guarani. A raça ainda não tem padrão racial definido e em muito se aproxima das características da cabra comum Sem Padrão Racial Definido (SPRD). Como raça em formação do desenvolvimento populacional, a Nambi do Brasil pode não diferir da SPRD, sendo identificada apenas como tipo racial. A definição da raça vai depender do aumento do número de animais com definição de determinadas características que serão selecionadas. Até hoje, não há levantamentos estatísticos que indiquem o número de ovelhas que existem atualmente, a raça está em via de extinção.
Para o especialista em ovinocaprinocultura e professor da Universidade Estadual do Ceará Aírton Alencar, o motivo da redução do plantel é o modismo que pecuaristas aderiram ao criar raças exóticas. "Se os criadores não preservarem os exemplares existentes, a Nambi vai desaparecer. O nordestino ainda não tem personalidade para assumir a Caatinga e o seu meio ambiente. No dia em que eles identificarem que o nosso meio ambiente é uma região inóspita, vão perceber que os animais que melhor sobrevivem a essas condições são os nativos", afirma.
A Nambi é um animal muito raro, que foi desaparecendo ao longo do tempo devido à preferência dos criadores por raças exóticas, as quais estão tomando o lugar das raças nativas. A preservação depende exclusivamente da ação dos criadores chamados preservacionistas. Atualmente, não há nenhum programa regional governamental voltado especificamente para a preservação da raça e de seus aspectos produtivos e reprodutivos. Não existem estudos em universidades ou instituições de pesquisas que indiquem qualquer informação sobre a Nambi. A raça se mantém apenas em função da ação dos preservacionistas.
As informações são do Diário do Nordeste, resumidas e adaptadas pela Equipe FarmPoint.
Natanael de Souza Silva
Caruaru - Pernambuco - Estudante
postado em 22/11/2013
Bela iniciativa, espero posteriormente puder contribuir para a conservação deste ecótipo.