O governo vinha mantendo o discurso de crescimento mesmo com os efeitos da crise internacional, que no Brasil atingiu com mais força a indústria, apesar de a maioria dos analistas de mercado e de órgãos internacionais prever retração. O mercado financeiro estima retração de 0,44% no PIB, enquanto o FMI prevê queda de 1,3%, e a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), de 1%.
Oficialmente, o governo ainda trabalha com previsão de alta de 2% do PIB, que serve como parâmetro para projeções da arrecadação e de contingenciamento de recursos públicos. No início da semana, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) afirmou que o governo pode rever sua meta de crescimento. A meta do governo está acima até da previsão de alta de 1,2% do Banco Central.
Para Mantega, mesmo que o país tenha crescimento zero neste ano, ainda será uma exceção. "Temos de lembrar que a maioria dos países vai fechar com 4% negativos", disse. Para o ministro, o ritmo de recuperação vai depender ainda do efeito das medidas de estímulo adotadas. Mantega disse que o crescimento de 0,3% na vendas do varejo em março indica que "talvez a retração que houve nos meses anteriores tenha terminado". O ministro disse que consultou diversas redes varejistas e que acredita que o setor se recuperou.
Para a consultoria LCA, a redução do PIB do primeiro trimestre deve chegar a 1,5% em relação ao último trimestre de 2008. Será a segunda retração seguida, o que configura recessão técnica. Na opinião do economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, a maior dúvida hoje decorre da retomada ainda lenta da atividade industrial. Para o ano, a consultoria prevê crescimento de 0,7% no PIB.
Apesar da desaceleração na magnitude do crescimento em março, os resultados do varejo no Brasil prosseguem muito melhores do que os apurados em outras regiões do mundo, segundo o sócio-sênior da consultoria Gouvêa de Souza, Luiz Góes. Ele observou que, enquanto no Brasil as vendas do comércio aumentaram 1,8% no mês ante igual período do ano passado, nos EUA houve um recuo de 9,4% e na zona do euro, queda de 4,2%. Nos EUA, a recuperação da economia deve levar três ou quatro anos, segundo a maioria dos especialistas entrevistados para a pesquisa realizada a cada mês pelo "Wall Street Journal".
Os resultados brasileiros são melhores porque "os pilares da economia brasileira estão muito mais fortalecidos do que lá fora, a massa salarial ainda cresce". Para Góes, "no Brasil houve alguma redução do ímpeto de consumo, mas não como lá fora". A expectativa dele é de que o desempenho do varejo em abril mantenha-se no mesmo patamar de março ou evolua para um aumento um pouco superior, por causa do impacto positivo do efeito calendário sobre o segmento supermercadista - que foi beneficiado pela realização da Páscoa em abril - e da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados nas vendas de eletrodomésticos.
Com informações de Toni Sciarretta e Dimitri do Valle, da Folha de SP, resumidas e adaptadas pela Equipe AgriPoint.
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