"Prezado Roberis,
Antes de mais nada, devemos diferenciar 2 realidades em relação a cadeia produtiva da carne ovina no Brasil e no mundo. A primeira é a dos países e dos estados da federação que já possuem tradição na prática da ovinocultura comercial de larga escala, como o Uruguai, a Austrália, a Nova Zelândia, o Reino Unido, a Espanha e no Brasil, podemos citar apenas o Rio Grande do Sul. Nessas regiões, a cadeia produtiva é mais desenvolvida, estando inserida na ordem internacional de preços pois já apresenta um mercado interno ou demanda doméstica já estabilizado.
A segunda realidade é a dos estados que apenas nos últimos 5 anos tem desenvolvido uma cadeia produtiva comercial em pequena escala, como exemplo, todos os estados das regiões Sudeste, Centro-oeste e Nordeste, além do Paraná e Santa Catarina. Nessas regiões, o mercado interno é bastante aquecido e a demanda é crescente, o que mantêm os preços em patamares elevados e em crescimento anual.
Em minha opinião, a clandestinidade pouco tem a ver com o nível dos preços, até porque o perfil de produto que é fornecido pelas criações de subsistência ou não-empresariais foge em muito do perfil de produto demandado pelo varejo e pelos consumidores nas capitais e grandes centros urbanos.
Um outro ponto é o fato de que temos um déficit de mais de 50% no mercado doméstico, e até o consumo interno de estabilizar e a produção doméstica conseguir tamponar o espaço aberto pelas importações, a tendência segundo as leis naturais da economia é a de que os preços continuem a crescer.
Posteriormente, quando a oferta superar a demanda, teremos os ciclos de baixa e de alta, como em qualquer cadeia produtiva agropecuária, com os preços médios variando negativamente e positivamente no decorrer dos anos, mas até que isso ocorra, os preços tendem a apenas crescer.
Do ponto de vista de sistema agroindustrial, isso é ótimo, pois estimulará mais investimentos em todos os elos da cadeia e a entrada de novos empreendedores, fazendo com que a cadeia produtiva cresça e se desenvolva com força e solidez.
O mercado clandestino sempre irá existir, em maior ou menor grau. O que devemos fazer é concentrar nossos esforços e energia nas iniciativas produtivas e empresariais formais, que se preocupem com qualidade de produto, desenvolvimento de negócios, abertura de campo de trabalho e estímulo da demanda urbana.
Mais um vez obrigado pela sua participação.
Abraços
Daniel"
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Roberis Ribeiro da Silva
Salvador - Bahia - Consultoria/extensão rural
postado em 22/01/2010
Concordo que o mercado clandestino sempre existirá, contudo não nesse nível de 95 a 98% do abate no Nordeste. Você não concorda quando digo que o preço pago ao produtor tem uma forte relação com o abate clandestino!! Para verificar essa prática é só peguntar aos gestores dos frigorificos na Bahia ( Baby Bode, Pantanal e Coap). O gestor da Coap (Cooperativa de Pintadas) me disse que tem que pagar o preço praticado no mercado informal caso contrário não consegue comprar uma cabeça. Veja que a COAP é uma cooperativa de pequenos produtores ou seja teriam que fidelizar sua matéria prima com a cooperativa. Em outras palavras se a cooperativa não pagar o preço deste mercado eles comercializam com os intermediarios ou direto para feiras livres.
Se o frigorifico pagar por uma ovelha, bode e cabra a metade do preço do cordeiro e cabrito, os produtores não venderiam mais aos frigorificos. A cultura perante esses produtores é a de preço unico.
É preciso manter os pequenos e médios frigorificos existentes no mercado. Pois o que tenho visto é frigorifico fechando, quebrando e/ou mudando de proprietarios.
Ou então os frigorificos vão importar carcaça do Rio grande ou do Uruguai, com melhor qualidade e preços mais competitivos.