O que muitos empresários e autoridades locais discutem agora é se a presença do grande vizinho setentrional em setores considerados estratégicos está criando um processo novo: o de "Brasildependência". Os frigoríficos brasileiros já dominam 36% do abate total de gado bovino, a gaúcha Camil beneficia metade da safra local de arroz e a Ambev é dona das três principais marcas uruguaias de cerveja. A Petrobras tem 21% do mercado de revenda de combustíveis, iniciou trabalhos de exploração de petróleo na plataforma continental e controla a distribuição de gás canalizado em Montevidéu. Além disso, novos investidores estão chegando.
O avanço das empresas brasileiras motivou um alerta do presidente José Mujica, durante reunião de cúpula do Mercosul, no mês passado. Em seguida ao pronunciamento oficial da colega Dilma Rousseff, Mujica advertiu que "devemos lutar para que a burguesia paulista assuma a responsabilidade de gerar empresas aliadas, e não colonizadas, em toda a América do Sul".
O crescimento da presença brasileira pode ser visto em diversos indicadores. Entre 2005 e 2010, a participação do Brasil como destino das exportações uruguaias subiu oito pontos percentuais, de 13,6% para 21,5% das vendas totais. No mesmo período, o número de turistas brasileiros aumentou 92%. Seis anos atrás, havia quase seis visitantes argentinos para cada brasileiro.
O principal executivo de uma multinacional brasileira em Montevidéu, cujo orçamento global para novos investimentos em apenas um ano é superior a todo o PIB do Uruguai, tomou a precaução de nunca mencionar tais números em público, exatamente para evitar comparações.
Em maio, o consórcio Montes del Plata - formado pela sueco-finlandesa Stora Enso e pela chilena Arauco - deu início à construção de nova unidade para produzir 1,3 milhão de toneladas por ano de celulose. O investimento, de R$ 1,9 bilhão, será o maior já realizado no Uruguai. Um megaprojeto indiano para a exploração de minério de ferro aguarda o sinal verde do governo, embora enfrente resistência da população.
As companhias brasileiras se alimentaram da onda de prosperidade que elas mesmas ajudaram a criar no país. O Itaú comprou as operações locais do BankBoston em 2006 e é atualmente o terceiro maior banco no Uruguai, com 118 mil clientes e 17 agências. O Banco do Brasil acaba de fazer um aporte de US$ 7 milhões na subsidiária uruguaia do Patagônia, que já controla na Argentina, para transformá-lo de instituição financeira para estrangeiros em banco comercial. A autorização foi pedida às autoridades monetárias dos dois países e o Banco do Brasil espera obtê-la até o fim de 2011.
O Minerva, um dos maiores processadores de carnes do Brasil, pagou US$ 65 milhões em janeiro pelo controle do frigorífico Pul. No ano passado, o Pul representou 6,6% das 2,2 milhões de cabeças de gado abatidas no Uruguai. Marfrig e JBS já tinham 29,4% do total. Só a Marfrig comprou quatro frigoríficos no país - Cledinor, Tacuarembó, Colônia e Inaler. A Bertin havia assumido o Canelones em 2006, antes de ser incorporada pela JBS.
Para algumas empresas brasileiras, expandir negócios no Uruguai faz pouca diferença no balanço global, mas é algo visto como importante para conquistar espaço em mercados próximos - além de ser quase um apêndice da política externa do governo. "É fundamental, para a Petrobras, estar consolidada em países que têm democracia madura e estabilidade política", diz Irani Varella, presidente da estatal no Uruguai. "Além disso, a nossa presença não deixa de ser um instrumento de integração entre os dois países."
As informações são do jornal Valor Econômico, resumidas e adaptadas pela Equipe AgriPoint.
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