O choque nos preços de commodities agrícolas no Brasil e no exterior este ano, decorrente de problemas climáticos, acabou desviando a trajetória da inflação do centro da meta oficial de 4,5%. Prevista inicialmente pelo BC para este ano, a convergência para esse nível só deverá ocorrer no terceiro trimestre de 2013, pelas últimas projeções. A preocupação agora é que a continuidade de um cenário de alta dos preços desses produtos dificulte novamente o trabalho do Comitê de Política Monetária (Copom), mantendo a inflação em nível mais elevado, acima de 5%.
Diversos analistas consultados pelo jornal Estado de São Paulo são unânimes em prever que os preços das commodities agrícolas devem se manter sustentados nos próximos meses por causa do risco de mais um choque de oferta num cenário de estoques mundiais baixos. Mesmo com o recuo dos últimos meses, os preços estão acima dos níveis históricos.
Diferenças
O BC, por outro lado, avalia que o choque deste ano é muito diferente dos dois últimos, entre maio de 2007 e julho de 2008 e entre junho de 2010 e fevereiro de 2011. A principal diferença é que o movimento de alta agora ocorre num momento de desaceleração da atividade econômica global.
Nos dois períodos anteriores, a elevação dos preços ocorreu num ambiente de crescimento da demanda mundial de alimentos e foi seguida por aumento das importações de grandes mercados consumidores, principalmente da China. Além disso, a liquidez maior de recursos no mercado internacional alimentou movimentos especulativos que provocaram uma subida maior dos preços.
"Cadê a demanda? Hoje, não vemos. Falta esse fundamento", diz uma fonte da equipe econômica, que destaca que os preços das commodities têm mantido estabilidade nos mercados internacional e doméstico, tanto em relação aos produtos in natura quanto em relação aos grãos. A fonte destaca, no entanto, que em casos de pressões de preço desse tipo, o BC não reage com aumento das taxas de juros, mas "absorve" o choque e combate os chamados efeitos "de segunda ordem" de repasse de preços.
Pressão
Para José Carlos O'Farrill Vannini Hausknecht, analista da consultoria MB Agro, "os preços das commodities devem continuar pressionados porque a oferta agrícola não se resolve no curto prazo". A pressão, diz ele, permanece para os preços dos grãos até a recomposição dos estoques, enquanto as cotações de produtos como suco de laranja, açúcar e café devem se manter estáveis, com preços acima da média histórica.
No caso da China, diz ele, existe a questão da mudança do foco do crescimento, que deve priorizar o consumo interno. Com mais dinheiro no bolso, os chineses devem consumir mais proteínas animais, o que exigirá aumento da importação de grãos, pois a oferta interna é insuficiente para atender à demanda dos criatórios de suínos, aves e bovinos. A China responde por metade da produção global de carne suína.
Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria, observa que, embora o choque de oferta provocado pelas quebras de safras nos principais países produtores já tenha sido absorvido pelo mercado, é preciso estar atento com o clima. A falta de chuvas atrasou o plantio no Centro-Oeste e agora o excesso pode prejudicar as lavouras na Região Sul do Brasil e na Argentina.
"É preciso ficar de olho, pois existe risco de quebra de produtividade. A coisa não está tranquila", alerta o analista. Ele lembra, no entanto, que os preços recordes incentivaram o plantio e devem resultar em produções recordes de soja e milho no Brasil e na Argentina.
As informações são de O Estado de São Paulo, adaptadas pela Equipe Agripoint.
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