"Se olharmos para cadeias mais organizadas como a suinocultura e a avicultura, e no caso de ruminantes, o leite, podemos concluir que o mercado é que faz tudo funcionar. Ou seja, organizando o mercado, os demais elos da cadeia começam a se arregimentar para atender a demanda. Porém, na ovinocultura não creio que seja tão simples, pois nestas outras espécies o modelo de produção é bem definido. Não existem tantas raças, nem cruzamentos indiscriminados. Estamos ainda distantes de chegar a um padrão definitivo e ainda pouco preocupados com a produtividade, que é o que faz o negócio girar.
A Nova Zelândia reduziu seu rebanho na última década em milhares de cabeças, mas ao contrário do que se poderia imaginar, a cada ano, a produção de cordeiros só aumenta. Além disso, existem dezenas de raças diferentes, e compostos, criados naquele país, porém, independente da raça que você cria, o padrão do seu produto tem que ser o mesmo. E o consumidor final não sabe a diferença entre uma ou outra raça ou cruzamento.
Na Argentina, entrando na onda do orgânico, o bom e velho cordeiro patagônico ganhou mercado e subiu de preço. Uma estratégia de marketing, pois os ovinos criados naquela região do país não viraram "orgânicos" de uma hora para a outra, sempre o foram, por questões de localização e clima.
O nordeste brasileiro, com seu clima seco e chuvas irregulares, onde a ovinocaprinocultura tem sido durante anos a salvação do sertanejo, também pode identificar e produzir um cordeiro diferenciado, orgânico, simplesmente selecionando melhor seus rebanhos e se preocupando com o aspecto nutricional durante os períodos secos e com um bom manejo sanitário preventivo no período das chuvas.
A região sul do Rio Grande do Sul, tradicional polo de ovinocultura do país, pode produzir, a exemplo do Uruguai, um cordeiro verde, 100% a pasto, sem a necessidade de grandes investimentos, somente com seleção e cruzamentos adequados, eficiente controle sanitário e manejo correto das suas pastagens.
Estamos no Brasil e precisamos descobrir o nosso jeito de criar, adaptado aos nossos diferentes climas, nossas pastagens, nossas culturas, isso não há dúvida, mas precisamos também, como em outros países, saber o que queremos produzir e para quem. Precisamos aprender a produzir com eficiência e com produtividade, viabilizar projetos sustentáveis de produção de cordeiros, identificar nichos de mercados para produtos específicos, mas principalmente precisamos saber onde queremos chegar e definir quais são os caminhos e qualificar e valorizar o nosso produto.
Somos um país continental, com muitas oportunidades e desafios, que precisa estruturar e dar melhor condição de produção ao produtor rural, que sabe bem fazer o dever de casa, mas que encontra-se desorientado frente ao mercado, suas oscilações e suas variantes.
Temos que investir em aumento de rebanhos, cruzamentos eficientes, programas sanitários e de seleção confiáveis, que permitam produtividade e rentabilidade ao produtor".
Pedro Alberto Carneiro Mendes
Fortaleza - Ceará - Consultoria/extensão rural
postado em 09/06/2011
O parágrafo sobre a ovinocultura no nordeste brasileiro me chamou a atenção além de me forçar a fazer este comentário.
No Ceará a Extensão Rural trabalha prioritariamente com produtores da base familiar, detentores de rebanhos médios de 25 caceças, ou seja, uma atividade, considerada a produção anual de 10 crias por produtor.
Realmente para esse tipo de produtor é uma atividade de subsistência, na qual ele consome alguns animais e o restante é utilizados para pagamento de pequenas e/ou inadiáveis despesas.=, ou seja, é a sua moeda de troca. Em face disso, ela existe e sobrevive em praticamente 100% das propriedades.