O índice CRB é a referência mundial usada para medir o movimento dos preços de um conjunto de matérias-primas que engloba desde metais, energia, alimentos até commodities industriais, cotadas em bolsas internacionais. "A alta dos preços das matérias-primas foi muito maior que a desvalorização do dólar no período, que poderia neutralizar esse movimento. Isso significa que vem inflação de custos pela frente e já começou a aparecer nos índices de preços ao consumidor", alerta o economista.
Puxado pelos alimentos (carne bovina, frango, pão francês que leva trigo), além do álcool combustível, o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) dobrou em apenas um mês. O indicador fechou outubro com alta de 1,04%, depois de ter subido 0,53% no mês anterior.
No Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) de outubro, as maiores pressões de preços, tanto no atacado como no varejo, vieram dos alimentos. O milho subiu no atacado 11,82%; a soja, 5,04%; bovinos, 4,28% e o açúcar cristal, 18,99%. Todos esses produtos já tinham registrado elevações robustas de preços no mês anterior. Silveira prevê que o Índice de preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação usado pelo governo, deve vir elevado neste mês e no próximo, na faixa de 0,50%. "O Banco Central terá de ser mais criativo para controlar a inflação. Não pode subir juros, porque atrai dólares e enfraquece ainda mais as exportações de produtos manufaturados."
"Do ponto de vista da balança comercial, o País sai ganhando com a alta das commodities", afirma o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Esse ganho com as exportações de commodities, puxado especialmente por preço, foi comemorado na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e já apareceu nos indicadores da balança comercial.
Em setembro deste ano, por exemplo, os preços médios de exportação dos produtos básicos superaram o nível de setembro de 2008, quando estourou a crise financeira internacional e as vendas externas ainda não tinham sido afetadas. No caso dos produtos manufaturados e semimanufaturados, os preços médios atuais estão abaixo dos registrados em setembro de 2008
Castro, da AEB, pondera que, até mesmo do ponto de vista comercial, a situação atual de apreciação do real em relação ao dólar cria problemas a médio prazo para o País. É que a valorização do real prejudica as exportações de manufaturados. "Ninguém está fechando fábrica, mas esse quadro leva à estagnação da indústria", afirma ele. Sem o investimento na indústria, que puxa a logística e os serviços, diz, não estão sendo criados os alicerces para o futuro.
A reportagem é do jornal O Estado de S.Paulo, adaptada pela Equipe AgriPoint.
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