No Ceará, há exemplos da utilização de TI para impulsionar a atividade do agronegócio, que têm foco de atuação os setores de caprinocultura e ovinocultura. Um deles é o Programa de Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos de Corte, o GENECOC, desenvolvido desde 2003 pela Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral (CE). Trata-se de um conjunto de ferramentas eletrônicas, que inclui softwares e bancos de dados, para prestar assessoria a criadores de caprinos e ovinos no Brasil, inclusive pela Internet.
O GENECOC, acessível pelo site http://www.cnpc.embrapa.br/genecoc/pagen.htm, permite ao usuário informações como estabelecer rankings de animais do rebanho mais adequados para a reprodução, ou o grau de endogamia (parentesco), para evitar acasalamentos que possam gerar animais com defeitos congênitos hereditários ou problemas de adaptação ao ambiente. Cada produtor pode alimentar o cadastro de dados de seu rebanho pela Internet (com senha própria) e, posteriormente, ter acesso a esse conjunto de informações.
De acordo com o criador do GENECOC, o médico veterinário e pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos Raimundo Nonato Lobo, o Programa veio atender a demandas dos produtores rurais que não dispunham, no país, de um programa com esta abrangência e, principalmente, com a possibilidade de utilização da Internet.
"Na época em que ingressei na Embrapa, em 2001, dos poucos softwares para caprinos e ovinos que existiam no Brasil, nenhum deles era específico. Geralmente eram adaptados de programas voltados para a bovinocultura", lembra Lobo. A partir de pesquisas na Internet, ele começou, de forma autodidata, a construir softwares e outras ferramentas que permitiram aplicar o conhecimento gerado pelas pesquisas na Embrapa Caprinos e Ovinos a beneficiar produtores brasileiros.
Atualmente, integram a base de dados do GENECOC rebanhos de nove estados brasileiros, entre Nordeste, Centro-Oeste e Sul do país. "Aderir ao programa é simples. As informações a serem cadastradas são aquelas do cotidiano do produtor. E o custo é baixo, no primeiro mês, o criador paga R$ 1,00 por matriz cadastrada e, a partir do segundo mês, uma mensalidade de R$ 0,08 por matriz", ressaltou ele.
De acordo com Lobo, mesmo criadores com dificuldade de acesso à Internet têm trabalhado com o programa. É o caso de um grupo de 13 produtores de um projeto da Embrapa em Morada Nova (CE), que participam do GENECOC por meio de um técnico agrícola que faz a coleta de dados, o cadastro no sistema e gera relatórios para os criadores.
Também na Embrapa Caprinos e Ovinos, um outro pesquisador, o zootecnista e administrador de empresas Vinícius Guimarães, tem trabalhado em projeto com utilização das TIs. É a experiência da modelagem e simulação de sistemas de produção. "É uma metodologia que envolve a criação de um modelo para avaliar a realidade de um sistema", explica ele "Programas de simulações desse tipo vem sendo usados em grandes corporações norte-americanas e tem-se tentado utilizar a ferramenta para o universo da agropecuária", salienta Vinícius.
A partir de um conjunto de ferramentas, o programa simula a realidade de um rebanho e seu sistema de produção, permitindo selecionar variáveis importantes como alimentação, mão-de-obra, sanidade animal, reprodução, entre outras, para avaliar de que modo alterações em uma ou algumas delas promoveriam impacto sobre a realidade. "Você pode, com o uso da simulação, observar alterações no rebanho modificando a idade no parto, previsão de custos pela dinâmica do rebanho, entre outras e estimar em que isso poderia afetar a produção. Até mesmo variáveis como condições ambientais ou conseqüências de políticas públicas poderiam ser inseridas", ressalta o pesquisador.
Atualmente, a simulação é trabalhada em projeto aplicado em um dos campos experimentais da Embrapa em Sobral. De acordo com Vinícius, a experiência já fornece informações sobre a influência de fatores como idade, mortalidade e parto dos animais no desempenho produtivo do rebanho. "São elementos com os quais o produtor rural lida diariamente, mas não tem como mensurar o impacto deles conjuntamente e do quanto ele perde em eficiência produtiva", exemplifica ele. De acordo com Vinícius, os resultados da pesquisa deverão, em médio prazo, chegar aos criadores, proporcionando o uso do sistema para tentar antecipar impactos sócio-econômicos e ambientais nas propriedades.
Para Vinícius, o grande trunfo da metodologia é buscar um entendimento sistêmico das variáveis que compõem os sistemas de produção além de encurtar o tempo de resposta para experiências de pesquisa e de indicativos para ações dos produtores. "Decisões cujos efeitos levariam algum tempo para se ter os resultados, com o uso da ferramenta você poderia ter em poucos minutos uma possível resposta. Ao simular a realidade passamos a entender melhor as interações que existem entre os elementos que compõem os sistemas", afirma ele.
As informações são da Embrapa, resumidas e adaptadas pela Equipe FarmPoint.
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