Num estudo de 2006, autoridades no debate climático, como o presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das ONU (IPCC, na sigla em inglês), Rajendra Pachauri, e Lord Nicholas Stern, passaram a citar a cifra de 18% como uma razão para se consumir menos carne e proteger o ambiente, mas foram levantadas dúvidas sobre a validade científica do relatório.
Uma análise feita por cientistas nos EUA considerou a conclusão "desequilibrada". Frank Miloehner, pesquisador da Universidade de Califórnia-Davis, mostrou que a FAO não calculou emissões oriundas do transporte da mesma forma, usando dados do IPCC que só incluíam a queima de combustível fóssil.
Ele exemplificou que nos EUA e em outros países desenvolvidos, as emissões de transportes representam 26% do total nacional, comparado a apenas 3% para emissões de suínos, por exemplo. "Podemos reduzir sem dúvida as emissões de gases de efeito estufa, mas não é consumindo menos carne ou leite", afirmou em recentes entrevistas.
A FAO aceitou a reclamação e começou um novo estudo sobre o impacto da produção de alimentos na mudança climática, que completará até o fim do ano. Diz que será mais abrangente. Permitirá, por exemplo, comparação entre dietas, incluindo as que usam carne e as exclusivamente vegetarianas, porém, a entidade usa a mesma "metodologia vertical" do primeiro estudo, contabilizando tanto as emissões de metano dos animais quanto o desmatamento, as emissões de carbono do transporte, da construção dos frigoríficos e as emissões na produção da soja usada para o gado.
A questão para produtores e exportadores é que, quando o estudo for divulgado, o que atrairá atenção será o número total das emissões geradas pela produção de carne. A FAO planeja usar a mesma metodologia para outros produtos agrícolas.
A entidade tem sido acusada de ter desviado a atenção da sociedade, com suas conclusões de 2006, sem procurar as causas reais na origem da mudança do clima. A tese de que consumir menos carne ajuda a reduzir o aquecimento está na origem de campanhas como "Segunda-feira sem carne" ou "Menos carne, menos aquecimento", como notam jornais europeus.
A reportagem é Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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