Critérios usados no Brasil mostram um quadro diferente. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a participação dos produtos básicos nas exportações brasileiras cresceu de 29,3% em 2005 para 47,8% no ano passado; no mesmo período, o peso dos manufaturados diminuiu de 55,1% para 36%.
Esses números estão no centro do debate econômico, que vem predominando nos últimos tempos, sobre a perda de gás da indústria de transformação e que passa pela excessiva dependência dos produtos básicos e pela necessidade de se aumentar a competitividade do setor industrial, com a redução de tributos e do custo do crédito, e com a melhoria da infraestrutura e da formação da mão de obra.
O estudo do FMI não entra nessas questões e muito menos emite juízo a respeito de opções econômicas. No entanto, alerta para o fato importante de que a volatilidade dos preços das commodities torna difícil a vida dos países que nelas ancoram suas economias.
Nos últimos anos o problema foi pouco discutido porque as commodities traçaram um movimento de alta praticamente contínua, na esteira do crescimento acelerado da China. A alta dos preços das commodities permitiu ao Brasil conquistar uma fatia de 1,4% do mercado mundial em 2011, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), sua melhor marca desde 1984, mantendo o posto de 22º maior exportador global, com as vendas externas crescendo 27% e totalizando US$ 256 bilhões, em ritmo superior ao de 20% da média mundial. O Brasil ficou em 21º lugar na importação, com 1,3% do mercado mundial e crescimento de 24%.
Em volume transacionado, porém, o desempenho do Brasil não foi tão brilhante porque preços inflados não influenciam a análise: as exportações cresceram apenas 2,9%, menos que os 5% da média mundial e os 5,4% dos países emergentes.
Segundo o Ipea, se os preços das exportações e das importações brasileiras tivessem ficado iguais aos de 2005, a balança comercial de 2011 teria um déficit de US$ 25,4 bilhões, e não o superávit de quase US$ 30 bilhões registrado.
O quadro está mudando, porém. A crise na Europa esfria o comércio internacional e segura os preços das commodities, especialmente dos minérios. A OMC prevê que o comércio internacional crescerá 3,7% em volume neste ano, abaixo dos 5% de 2011, o pior resultado em sete décadas, excluindo-se 2009, quando encolheu 12%. As vendas externas do Brasil para o mercado europeu já sentem o golpe e tiveram queda de 0,3% nos três primeiros meses do ano.
O FMI também tem perspectivas negativas para os exportadores de commodities neste ano e em 2013. A perspectiva, se confirmada, deverá atingir o Brasil de forma menos intensa do que outras economias em que as commodities têm peso mais elevado nas exportações totais, como os exportadores de petróleo.
Mas a recomendação contida no estudo do FMI vale também para o Brasil, especialmente considerando-se o futuro ainda distante quando o petróleo do pré-sal se tornar um produto importante da pauta de exportações. A proposta do estudo é que os exportadores de commodities aproveitem os períodos de preços elevados para se preparar para os tempos de vacas magras.
Os economistas do Fundo sugerem a adoção de políticas orçamentárias contracíclicas pelos governos, que constituirão reservas nos momentos em que os preços das commodities estiverem em alta para serem usadas quando as cotações caírem, de modo a evitar fortes oscilações do Produto Interno Bruto (PIB). Nos momentos em que a alta se prolongar, a sugestão é o governo gastar parte do dinheiro em investimentos públicos e reduzir os impostos para estimular a produtividade do setor privado.
No cenário atual de desaceleração da economia global, incertezas no horizonte e commodities perto dos recordes de alta, a estratégia mais acertada é certamente fazer um colchão de proteção para a provável baixa.
A reportagem é do Valor Econômico, adaptada pela Equipe AgriPoint.
Envie seu comentário: