O desenvolvimento responsável da agricultura, das florestas plantadas e de outros setores baseados em biomassa contribui de maneira especial para a mitigação das mudanças climáticas. "Como uma das entidades participantes da Aliança Brasileira pelo Clima (ABC), a ABAG esta comprometida em promover debates que contribuam para ações coordenadas e sustentáveis entre iniciativa pública e privada, com políticas de mitigação de poluentes que não prejudiquem a competitividade e o crescimento da economia brasileira", explica Carlo Lovatelli, presidente da ABAG.
Participaram do debate João de Almeida Sampaio Filho, Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo; Francisco Graziano Neto, Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo; Carlos Clemente Cerri, Pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura - USP; Marcus Guido Frank, Clientele Development Manager da Mckiensey & Company; Ocimar Villela, Superintendente do Instituto para o Agronegócio Responsável - ARES; Sérgio Leitão do Greenpeace. O debate teve como moderador Roberto Waack da Amata Brasil.
A AgriPoint participou e transmitiu o evento ao vivo pelo twitter. Veja como foi o Fórum onde representantes do Governo, sociedade civil, produtores e instituições de pesquisa, discutiram as dificuldades e oportunidades que a agropecuária irá encontrar em temas como as mudanças climáticas, a preservação ambiental e a emissões de gases estufa.
"É uma grande satisfação para a Esalq receber o Fórum da ABAG sobre Mudanças Climáticas. O evento conta com a presença de dois secretários de estado, de representantes de organismos de fundamental importância para contribuir com o tema, além de reunir lideranças agronômicas. Temos a certeza que será um dia de frutíferas discussões e de troca de ideias que irão coroar mais uma vez de êxito essa iniciativa da ABAG", diz o Prof. Antonio Roque Dechen, diretor da Esalq.
Dechen abriu o fórum apresentando o "Programa Esalq Clima" que irá quantificar emissões carbono do evento e de toda a Esalq para monitorar o o efeito das ações da universidade nas mudanças climáticas e realizar ações de compensação.
Luiz Antonio Pinazza, da Abag, iniciou o encontro fazendo uma apresentação sobre a posição do Brasil e de Aliança Brasileira pelo Clima em assuntos relativos a mudança climática e sobre a COP15. Segundo ele, a Abag estava muito mais acostumada em lidar com a rodada de Doha, mas agora se dedica a entender e atuar de forma pró-ativa no tema clima.
"No Brasil, a emissão de carbono via queimada de florestas é muito maior, percentualmente, que no resto do mundo. Por outro lado, o Brasil tem uma matriz energética mais limpa que o resto do mundo. Somos exemplos nisso", ressaltou Pinazza em sua apresentação.
"Até 2020, busca-se reduzir 40% da emissões de carbono". O palestrante lembra que "não se deve apenas reduzir emissões, mas aumentar estoque de carbono".
Além que buscar a redução das emissões de gases estufa no Brasil, a Abag e a ABC buscam aumentar uso de energias renováveis, mecanismos de MDL e defendem a redução de contradições nas ações do governo. "É preciso interligar políticas públicas", comentou Luiz Antonio Pinazza.
Segundo Pinazza, a COP15 é o ponto de partida na busca por economias de baixo carbono e deve substituir o protocolo de Kioto.
Acompanhe os melhores momentos do debate:
Carlo Lovatelli: estamos preocupados com o COP15. Queremos benefícios para quem trabalha de forma responsável no Brasil. O agricultor brasileiro está precisando desse apoio, para quem produz certo, ambientalmente correto. E o desafio das mudanças climáticas é algo que tem preocupado toda a comunidade do agronegócio.
Xico Graziano: Mudanças climáticas abrem excelentes oportunidades para países e estados preparados para economia de baixo carbono. Ainda estamos muito no início dessa mudança, e o Brasil precisa e pode liderar essa discussão, mas não podemos ter medo. Temos que sair na frente e unir desenvolvimento e sustentabilidade. Todos os setores da economia terão que reduzir emissão de carbono. Tenho uma visão positiva/otimista do tema.
Graziano afirmou que o Brasil poderia ser muito mais arrojado na questão de clima, mas o governo federal ainda não tem essa postura. "No âmbito federal, ministros da agricultura e do meio ambiente discutem publicamente. Em SP, trabalhamos juntos".
O Estado de São Paulo já está trabalhando nisso e pretende recuperar 1 milhão de ha de matas ciliares até 2020, comentou Graziano. Segundo o secretário, 1 milhão de ha recuperados representam um aumento 220 milhões toneladas de CO2 recuperado.
O secretário da Agricultura de São Paulo, João Sampaio, reformou que temos muitas oportunidades pela frente, "podemos melhorar tecnologia, unindo desenvolvimento e ambiente".
"Outro tema muito importante é o pagamento por serviços ambientais, isso é fundamental para o produtor. Precisamos levar essa mensagem de que o Brasil pode ganhar dinheiro com as mudanças climáticas", completou Sampaio.
Roberto Waack, da Amata Brasil, diz que o grande desafio do processo é o desconhecimento do que deve ser feito e isso exige mudança de paradigmas.
Carlos Clemente Cerri, USP/Cena: aponta que o Brasil está diminuindo as emissões por desmatamento, mas emissões de outros setores tem crescido. Nesse sentido ele afirma que a pecuária tem condições de diminuir suas emissões utilizando mais tecnologia. "As ferramentas que podem ser usadas no momento para garantir essa redução são: ILP, manejo de pastagens, melhoramento genético e confinamentos. O confinamento pode ajudar reduzindo a área destinada a pastagens, aumentando a produtividade e reduzindo o tempo de produção", completou Cerri.
"A pecuária tem chances enormes para contribuir com a diminuição da emissões de GEE e evitar mudanças climáticas, sistemas de manejo de pastagem mais modernos e técnicas avançadas de nutrição animal irão reduzir as emissões da pecuária", comentou o pesquisador do CENA.
Para Marcus Guido Frank, da Mckiensey & Company não é um problema o agronegócio ser um grande emissor, já que existe grande espaço para reduzir essa emissão. Ele concorda que a maior oportunidade de redução está na pecuária e isso pode ser transformado em renda como créditos de carbono, uso de projetos de MDL e outras ferramentas.
Frank ressaltou que necessárias metas para redução do desmatamento e das emissões de carbono. "Quanto mais arrojadas as metas, maiores serão as oportunidades para o Brasil".
Sérgio Leitão, do Greenpeace, começou sua apresentação falando que infelizmente essa discussão do setor produtivo está atrasada pelo menos 20 anos. "Agora é preciso que sejam traçadas metas para que tenhamos sucesso na agenda da mudança climática. Além disso os produtores não podem ficar esperando as regras é preciso ser pró-ativo e participar da discussão delas".
"Nós do Greenpeace não queremos criar problemas para a produção, queremos criar uma legislação que garanta a preservação do meio ambiente. Uma prova disso é que apoiamos apoiamos a moratória da soja, acordos com frigoríficos. Não encampamos campanhas para um dia mundial sem carne. Queremos estimular a produção responsável", continuou Leitão. "Governo precisa deixar a agenda regressiva que assumiu, mudando o discurso e entendendo que esse tema pode criar muita oportunidade para o setor produtivo e para o país.
Ocimar Villela, do Instituto para o Agronegócio Responsável - ARES comentou que quanto a discussão de regras, a moratória da soja é um exemplo do que deve ser efeito nos outros setores. "O sistema produtivo tem contribuído muito para a questão ambiental e está disposto a evoluir nesse sentido, mas precisa ser reconhecido. A reserva legal é um exemplo de preservação para o mundo, mas isso precisa ser reconhecido e não apenas um onus ao produtor".
"Não sou contra a reserva legal, mas as mudanças nos últimos anos complicam o trabalho do produtor e precisam ser melhor discutidas e alterações precisam ser realizadas. Duvido que quando ela foi criada existiu alguma base científica, pra mim isso foi um belo chute" completou Villela.
Sérgio Leitão, do Greenpeace, concorda em partes com Ocimar Villela e reforça que a moratória da soja é um exemplo e que a RL é uma invenção brasileira. Para ele o debate precisa ser refinado para que todos entendam o valor e o potencial econômico da floresta, "esse sentido a RL é importante e não devemos lutar pelo fim dela".
"Em relação a moratória da carne, as ferramentas para conseguir sucesso são diferentes do que foi feito na soja", comenta Ocimar Villela. "Diferente do grão, o boi anda, se movimenta, viaja, é preciso um sistema de rastreamento muito bem estruturado". Segundo ele, o processo de monitoramento da carne terá início do cadastramento de propriedades, que depois deve ser estendido a um monitoramento socioambiental. No começo esse monitoramento será do fornecedor de boi gordo, evitando compras de áreas desmatadas. A ideia é depois aumentar esse monitoramento até o produtor de bezerros, abrangendo assim toda a cadeia. O problema disso tudo é que a discussão começou na sociedade civil, no governo e na indústria e só agora o produtor começa a discutir o tema.
Ocimar Villela ainda comentou que sem dúvida o Brasil tem apresentado todo esse crescimento e a capacidade de trabalhar duro, porque a base da nutrição é a carne.
Fazendo um balanço do debate, João Sampaio comentou que foram expostas as oportunidades e as dificuldades causadas pela mudança climática e pela redução das emissões de gases. "Fica bem claro que é preciso inclusive unificar a linguagem". "Estou preocupado, pois o Governo ainda não mostra uma postura sólida sobre o tema. Nesse sentido esse Fórum é extremamente válido", comentou o secretário e finalizou, "no início da reunião o Pinazza, da Abag, falou que "Agropecuária é Sustentabilidade". Eu completo dizendo que Sustentabilidade é Inovação, precisamos buscar novas formas de produzir e preservar o meio ambiente".
Finalizando as apresentações Xico Graziano afirmou ser favorável a acabar com qualquer tipo de desmatamento. "Nesse ponto acho que sou até mais radical que o Greenpeace".
O secretário chamou atenção para a necessidade de mais estudos sobre o tema, "existem poucos dados sobre isso, acho que esse é o ponto mais frágil de todo problema. Todos falam sobre emissão GEE e preservação do recursos naturais, e principalmente na pecuária existem muitos chutes que acabam virando verdade". "Um exemplo que tem me incomodado muito é a questão de quanto de água se gasta para produzir 1kg de carne, esse dado não existe em lugar nenhum. Precisamos de dados melhores para conseguir discutir e encontrar soluções".
"Não tenho a menor ideia do que vai sair da COP15, mas não sou otimista. Estou otimista com a posição das empresas. As empresas já perceberam a importância da sustentabilidade e que serão cobradas pelos consumidores e isso é vai nos trazer ganhos", Xico Graziano.
Graziano terminou sua fala e foi aplaudido ao dizer que "o produtor precisa ser ambientalista e o ambientalista também precisa ir pra roça. Só assim iremos avançar". Segundo ele o que atrapalha o desenvolvimento na questão ambiental no Brasil é a imagem de que ruralistas e ambientalistas têm que ser contrários. "Aqui aprendemos que o Greenpeace não morde ninguém e que por incrível que pareça o produtor também é inteligente".
Carlo Lovatelli diz que o balanço do Fórum foi positivo e essencial para garantir nosso futuro a médio e longo prazo e agradece a todos.
Equipe AgriPoint
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