A opção pelas aquisições diretas de produtos agrícolas custará ao país R$ 630 milhões para "carregar" as atuais 8,03 milhões de toneladas de grãos sob custódia do Estado. "Foi uma política deliberada de mudar de rumo", afirma o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. "Foi uma decisão nossa pagar essa conta. Fizemos isso para garantir abastecimento e comida barata".
A inflexão da política agrícola tem duas razões básicas. A crise de preços dos alimentos, ocorrida no início de 2008, causou temor no mundo e levou os países ao consenso de que era estratégico acumular grande quantidade de alimentos. "O governo tinha tomado a decisão de elevar estoques, mas as compras recrudesceram porque a FAO induziu o discurso de perigo de falta de alimentos", afirma o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edílson Guimarães.
A mudança na atuação do governo também foi causada pelo "descolamento" dos preços mínimos de garantia da média das cotações de mercado. Essa distorção foi causada pelo forte reajuste dos preços mínimos na safra 2008/09. À época, a crise dos alimentos forçava a demanda global e os produtores enfrentavam o segundo ciclo de forte alta nos custos de produção.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem hoje em seu poder 5,51 milhões de toneladas de milho em seus estoques. "Ainda estamos sob impacto do susto de 2008", avalia o diretor de Abastecimento Agropecuário do Ministério da Agricultura, Sílvio Farnese.
Ele reconhece que os outros países "estão saindo dessa posição de estoques altos". Na safra passada, o governo fez muita compra direta (AGF), mas também reforçou sua política de exercer os chamados contratos de opção lançados no mercado. Assim, o governo decidiu adquirir os produtos em vez de pagar a diferença entre preço mínimo e cotação de mercado.
"Quanto menos intervenção, melhor. É uma política cara, às vezes exagerada. Mas quando o preço cai demais, não tem muito o que fazer", afirma o diretor da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra), Arney Frasson. O analista Fernando Pimentel, da AgroSecurity, concorda: "É uma política compensatória pela falta de logística em fronteiras agrícolas", diz ele.
A matéria é de Mauro Zanatta, publicada no jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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