Um novo decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estenderá o prazo, que acabaria nesta sexta-feira, por até dois anos. Os produtores terão um prazo de adesão e limites para adequação. O código atual já concede prazo até 2031 para a recuperação de áreas exploradas.
As mudanças no Código Florestal, em vigor desde 1965, devem ser apresentadas por meio dos líderes dos partidos da base política do governo no Congresso, e não via medida provisória ou sob um único projeto de lei. Com isso, o governo evitará melindrar sua base política, boa parte dela composta por parlamentares ruralistas. E também isolará eventuais protestos de ONGs ambientalistas, contrárias a um "pacote ambiental" com tramitação acelerada no Congresso. O relatório final da comissão especial de reforma do Código Florestal também seria uma alternativa para incluir as mudanças acertadas entre as equipes de especialistas dos ministérios do Meio Ambiente, Agricultura e Desenvolvimento Agrário.
Os conceitos da reforma do Código Florestal já estão definidos pelo Grupo de Trabalho (GT) da Casa Civil, mas os "cortes" da nova legislação, como a limitação dos benefícios a áreas de até 150 hectares, ainda serão decididos pelo presidente Lula, informa uma fonte do governo. Uma solução final para o arrastado embate entre ruralistas e ambientalistas do governo ainda não foi possível por causa das frequentes viagens do presidente Lula ao exterior. Mas uma versão final do texto, ainda marcado por sérias divergências, será submetida a Lula até o fim desta semana.
Como base do "consenso possível" até agora, ficaram excluídas a anistia para desmatamentos anteriores à nova lei, a delegação de poderes na esfera ambiental aos Estados e a redução da reserva legal na Amazônia, de 80% para 50%. Por outro lado, o acordo deve autorizar a soma das APPs, obrigatórias em beiras de rio e nascentes de cursos d'água, nas chamadas áreas de reserva legal das propriedades. Na Amazônia, as propriedades devem manter 80% da área como reserva legal. No Cerrado, são 35%. E nas demais regiões, 20%.
Além disso, o grupo de trabalho já concordou em permitir a recuperação florestal das reservas legais na Amazônia com espécies exóticas. As conversas do grupo também chegaram a um consenso para autorizar a permanência de culturas como café, maçã e uva situadas em encostas de morros e de arroz em várzeas, desde que ocupadas há mais de 30 ou 40 anos. Mas, daqui para frente, seriam autorizadas apenas espécies lenhosas e frutíferas nessas regiões.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, ainda insiste em emplacar instrumentos polêmicos, como a criação da "cota de reserva legal" e a permissão para aquisição, e posterior doação à União, de terras em unidades de conservação estaduais ou federais por produtores rurais.
A proposta coordenada pela Casa Civil prevê, ainda, o registro simplificado das áreas produtivas e a recomposição de florestas nas mesmas bacias hidrográficas ou biomas onde está situada a propriedade, e não mais apenas em microbacias do mesmo Estado. Em alguns casos, como em áreas de agricultura familiar, o governo poderia bancar os custos de averbação das terras. O governo considera "caro e complexo" o processo de registro das áreas de manutenção obrigatória pelos produtores, como APPs e reservas legais.
O governo considera que a nova lei ambiental dará à agricultura um papel de "grande contribuição" para a fixação dos gases causadores do efeito-estufa. E esse "trunfo" será explorado durante a reunião de cúpula de Copenhague por oferecer alternativas concretas e ajudar a "vender" as ações brasileiras de preservação florestal como um exemplo global.
A matéria é de Mauro Zanatta, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
Paulo Westin Lemos
Campo Grande - Mato Grosso do Sul - Produção de gado de corte
postado em 07/12/2009
Quer dizer que o governo considera "caro e complexo" bancar os custos da averbação da Reserva Legal? Puxa vida, interessante isso. Nas costas do produtor deve ser simples e barato. Bancar o bonzinho e preservador do meio ambiente nas costas dos outros é muito fácil. Comprar áreas dentro ou fora da bacia hidrográfica para comporem a reserva legal não custa nada, tudo é muito fácil e barato quando são os outros que pagam. As margens de lucro da agropecuária devem ser astronômicas para suportar isso. Os levantamentos da Embrapa, ESALQ e outros, estão aí para mostrar a quantos anos estamos trabalhando no vermelho.
O absurdo maior mesmo é ver os companheiros que desmataram incentivados pelo próprio governo, de acordo com a legislação da época, desbravaram à duras penas nossas fronteiras agropecuárias e agora tem que responder como se tivessem desmatado hoje. Num país que não tem memória, seria bom que alguém lembrasse nossas "autoridades", principalmente os mais novos, o que nossos avós e nossos pais sofreram para formar áreas que hoje são grandes produtoras de carne e grãos. Vamos respeitar a lei de hoje para o que fazemos hoje e também reconhecer os direitos dos que fizeram no passado sob a lei do passado. É claro que não podemos fazer hoje o mesmo que foi feito no passado, a conscientização do produtor evoluiu muito a ponto de reconhecermos que alguns exageros precisam ser corrigidos como desmatamentos de matas ciliares, erosões, etc. Certamente, radicalizar nas exigencias ambientais aos produtores será um erro histórico. Colocar na ilegalidade como se fossem criminosos, milhares de produtores honestos, que só querem trabalhar em paz, produzindo alimentos com enormes excedentes para exportação com qualidade e custos competitivos, seria totalmente irracional e injusto. Um pouco de respeito a nossa história seria bom e agradeceríamos.