A persistência do cenário de baixos estoques mundiais e de firme demanda externa por commodities, principalmente da China, completam o panorama traçado pelo governo. Os ministérios da Agricultura e da Fazenda têm mantido conversas reservadas com o Banco Central para avaliar cenários e tendências. No foco, está o grupo alimentação e bebidas, cujo peso no índice oficial de inflação (IPCA) chega a 22%. Esse grupo específico registrou inflação de 0,72% em agosto - bem acima do IPCA do mês, de 0,37%.
Na avaliação de parte do governo, a pressão dos alimentos indica que o país terá de conviver com um índice de inflação mais alto até o fim do ano. Mas, a partir de março ou abril de 2012, quando entrará a nova safra, os alimentos devem dar uma "contribuição efetiva" para o controle da carestia. No ano, o IPCA acumula elevação de 4,14%. Em 12 meses, chega a 7,4% - longe, portanto, do "teto" da meta, fixado em 6,5% pelo governo.
No governo, argumenta-se que está em curso uma "recuperação de preços", em termos nominais, em relação aos picos registrados no início deste ano. Milho, trigo, carnes e etanol estão nessa situação. O cenário vai se manter apertado, avalia-se. Mas não deve haver elevações de preços fora dessas expectativas. Hortaliças, frutas e feijão, cujo peso no bolso do consumidor é grande, podem ter "sobressaltos" por questões climáticas. Enchentes e secas influenciam diretamente os preços no Ceagesp, a central paulista por onde circula essa produção. Nas carnes, há incertezas. Se a chuva vier antes do previsto na região Centro-Oeste, por exemplo, os preços devem ceder. Do contrário, mantêm-se altos. A cotação da arroba do boi, em preços deflacionados, tem apontado para cima até aqui.
O governo avalia que produtores de arroz e feijão "sofreram" para ajudar a controla inflação até aqui. E, agora, há sinais de recomposição desses preços em níveis semelhantes a 2010. No horizonte de curto prazo, há problemas climáticos e a exigência de investimentos mais altos nas lavouras, já que os custos da nova safra devem ser mais altos. Os principais insumos, cotados em dólar, tiveram reajustes significativos. Para completar a análise interna no governo, a expectativa para a nova safra "ainda não está dada". Ou seja, há muita incerteza no horizonte.
Os pontos de pressão, avalia-se no Ministério da Fazenda, não são problemas internos específicos nem de decisão de plantio do produtor. A pressão nos preços tem a ver com clima e demanda externa. "Teremos mais alimentos e nenhuma situação onde se reduz a produção, salvo com uma questão climática", diz uma fonte. O IPCA "veio forte" em agosto, analisa, em razão da entressafra. As cotações caíram durante o auge da comercialização da safra. Mas dificilmente esses preços voltarão aos níveis de antes da crise mundial de 2008. O consumo interno, alimentado pela renda em alta nas "classes emergentes", ainda não seria um problema. Frutas e lácteos estão nessa categoria. Os preços das carnes, porém, partem de um nível mais elevado do que registrado em 2009 e 2010. E a tradicional redução das pastagens nesta época do ano, somada ao aumento dos custos de produção, influencia as cotações.
O etanol, avalia o governo, "estava dado" que seria fonte de pressão. Mas a situação piorou pela seca e as geadas no Centro-Sul. Mesmo no pico da safra, os preços são os mais altos dos últimos oito anos. E a elevação dos preços do petróleo devem complicar o cenário. No etanol, assim como nas carnes, havia "desestímulo", mas o governo considera ter melhorado o cenário com ações de financiamento via Plano de Safra, da retenção de matrizes bovinas ao plantio e renovação de canaviais.
A reportagem é do jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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