Foi a primeira baixa registrada no IGP-M desde abril de 2006 (-0,42%). No ano, o índice acumula alta expressiva de 8,35%. Nos últimos 12 meses, chega a 13,63%, a expectativa do mercado é que este índice feche 2008 com alta de 10,91%.
A maior queda vista em agosto foi nos preços do atacado, que recuaram 0,74%, depois de subirem 2,20% em julho. Segundo Salomão Quadros, coordenador da pesquisa do IGP-M da FGV, 80% dessa contração dos preços dos produtores foi conseqüência do recuo no preço dos alimentos e matérias-primas brutas, movimento vivido em todo o mundo por conta do aumento da produção e da expectativa de desaceleração no consumo.
Para Quadros, há dúvidas se o varejo vai repassar com a mesma intensidade e velocidade a baixa nos preços do atacado, como aconteceu na alta. "Até o momento, as quedas de preço no varejo estão a metade [da alta]. Pode ser que ainda aconteça nos próximos meses, mas também pode ser a hora de as empresas recomporem as margens [de lucro], que perderam nos últimos meses."
Para o economista Elson Teles, da corretora Concórdia, a deflação do IGP-M em agosto "não deixa de ser uma boa notícia", mas não muda o "plano de vôo" do Banco Central, que deverá manter aumento de 0,75 ponto percentual nos juros em setembro. "Há uma série de dúvidas quanto à demanda e ao crescimento do crédito. Também é cedo para dizer que a alta dos preços dos alimentos está encerrada", disse.
O economista Juan Jensen, do Ibmec-SP, também afirma que a deflação não resolve o problema da alta dos alimentos, que apenas devolveu uma pequena parte da valorização que teve nos últimos meses. Jensen acredita que, quanto mais competitivo for o setor, maior será o repasse da queda nos custos do atacado.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou ontem a deflação dos preços medidos pelo IGP-M. Ele afirmou que o resultado mostra que a "inflação está sob controle no Brasil" e vai ficar dentro da meta neste ano.
A avaliação é do coordenador do Provar (Programa de Administração do Varejo), Claudio Felisoni de Angelo. A desaceleração da inflação, confirmada pelo IGP-M de agosto, já denota uma queda no consumo e deve significar um aperto maior nas margens dos varejistas no curto prazo.
De acordo com um levantamento sobre a expectativa de consumo, 38,2% dos consumidores declararam que não pretendem consumir produtos duráveis e semiduráveis no período. Na sondagem anterior - referente aos meses de abril a junho -, o percentual era de 36,8%. A pesquisa, com 500 consumidores em São Paulo, foi feita em parceria entre a Felisoni & Associados e o Provar.
"Para o varejo, a curto prazo, essa não é boa notícia [a desaceleração da inflação], pois aponta que há uma redução no consumo e, portanto, sobras de estoque no setor", afirma Felisoni. Segundo ele, o varejo deve sofrer uma desaceleração no segundo semestre.
"De qualquer modo, só o fato de não haver nova aceleração já é positivo. Mas dificilmente os alimentos vão voltar aos preços verificados em 2006, por exemplo. Há uma acomodação, mas em um patamar alto", afirma o economista da LCA Fábio Romão.
Segundo o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Sussumu Honda, o volume de vendas no setor está caindo, e a deflação apurada agora não deve ser sentida a curto prazo.
As informações são da Folha de São Paulo, resumidas e adaptadas pela Equipe AgriPoint.
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