Mendonça realizou um estudo sobre os efeitos do aumento da produção de biocombustíveis sobre a inflação de alimentos entre 2006 e 2008 e observou que, nesse período, o movimento de especuladores nas bolsas de commodities cresceu vertiginosamente, exercendo mais influência sobre preços que a relação de oferta e demanda de matérias-primas. Entre janeiro e abril de 2005, a posição comprada dos contratos futuros operados por especuladores representava em média 25,2% do total. No mesmo intervalo de 2008, a porcentagem era de 48%, chegando em alguns momentos a 70% do total de contratos negociados. "Com a crise, os fundos venderam praticamente todos os contratos e os preços baixaram. Acho difícil que eles voltem a especular com commodities, já que com a crise a maioria dos investidores deixou de aplicar em fundos de investimento", afirmou.
No caso brasileiro, a desvalorização do real frente ao dólar anulou parte do efeito da queda nos preços internacionais. "Uma parcela da queda de preços no exterior não foi ainda absorvida pelo mercado doméstico e como o dólar ficou mais estável, é possível que se note melhora nos dados de inflação", ponderou Mendonça. A inflação mais baixa dos alimentos prevista para 2009, no entanto, não será suficiente para que a inflação brasileira volte a patamares inferiores aos 4,5% estabelecidos como meta pelo governo.
Em termos globais, ele prevê manutenção na demanda por alimentos, tendo em vista que parte dos países emergentes ainda sinaliza crescimento econômico em 2009, como o Brasil. "A demanda por alimentos é inelástica. Mesmo em recessão, os países ricos não devem reduzir drasticamente o consumo", disse. Para o Brasil, as perspectivas são de safra menor e demanda maior. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta para o ciclo 2008/09 produção de no máximo, 141,8 milhões de toneladas de grãos, o que representaria queda de 1,4% sobre a safra atual. O coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, salientou que os custos de produção estão 30% mais caros e os produtores investiram menos. "Há mais risco de perdas com clima."
A reportagem é de Cibelle Bouças para o jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela equipe AgriPoint.
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