"Caro Hildegardo Santos Araújo e demais colegas do FarmPoint.
O rebanho da Granja Po'A Porã, pelas condições relacionadas à terra (tais como, área, tipo de solo, pastagens) e pelas condições mercadológicas da ovinocultura (principalmente em região metropolitana, onde os preços acompanham humores de mercado diferenciados), ainda é muito limitado em tamanho. Ou seja, muito pequeno para permitir que trabalhemos em pesquisa científica que possa ser validada pela prática em outras criações, embora este seja um dos nossos principais objetivos - estudar a viabilidade da atividade dentro do nicho em que está inserida. Entenda-se "nicho" como localização geográfica, condição econômica e financeira, tamanho da propriedade e do rebanho, etc..
Então, necessito deixar claro que esta é somente uma "opinião pessoal", baseada em experiência própria, que não deve ser interpretada como "recomendação" proveniente de conclusões obtidas em pesquisa científica metodologicamente correta e independente. Metodologicamente correta ao não estar chamuscada pela fogueira das vaidades dos pesquisadores, nem contaminada pelas exigências governamentais de produtividade dos cientistas do serviço público (que resultam em quantidade às custas da qualidade, muitas das vezes). Independente por não representar os interesses de um criador ou associação de raça. Por exemplo: É sabido por todo criador, ou deveria ser, que entre os reprodutores de cada raça especializada (lã, carne ou leite) ocorrem discrepâncias maiores do que entre reprodutores de raças diferentes. Ou seja, boas progênies só são obtidas de bons pais e "carneiro ruim tem em qualquer raça".
Em relação, especificamente, às considerações solicitadas por ti, prezado colega Hildegardo, que de forma alguma me causariam incômodo. Acredito que não haja "resposta definitiva" para a questão, que é tua e de todos nós. Quanto custa produzir um cordeiro? Que resultado esperar da atividade?
Considerando que todas as regras mercadológicas (Produzir o que? Para quem? ... ) tenham sido estudadas e atendidas, vamos, em primeiro lugar, definir nosso "produto":
- Exatamente o que é cordeiro? Pois é um conceito que sofre a influência das "Regulamentações para Qualidade de Carne" de cada país ou região produtora. Existem cordeiros de 30 Kg com 90 dias e outros de 30 Kg com 1 ano (ainda é dente de leite, portanto cordeiro), que fornecem carcaças muito semelhantes com custos de produção completamente distintos. Note-se que é raro o interesse do "nosso mercado" em estabelecer essa definição tanto ao nível do produtor quanto do consumidor.
- Definido o cordeiro com um animal de determinada faixa de idade, peso e rendimento de carcaça, cobertura de gordura, etc., e o mercado ideal para este "cordeiro"; pode ser feito o planejamento dos custos de produção. "Tendo em conta a raça e seu potencial de ganho de peso, sob as condições que o empresário/empreendimento pode oferecer."
- Quanto à raças, é bom lembrar que é muito comum na Austrália e Nova Zelândia, a utilização de matrizes da raça Corriedale (sintética de duplo propósito) sob carneiros de raças pesadas (de cara branca e lanudos) para obtenção de "cordeiros de abate - criados à campo". Dois motivos fundamentais para tal procedimento: (1) não existe interesse do produtor em obter cordeiros grandes e pesados antes que tenham idade para serem tosquiados e (2) a lã é responsável por uns 30% do valor total alcançado pelo cordeiro, elevando o rendimento por hectare da propriedade sem aumentar o número de animais. Este é um procedimento tradicionalmente adotado por vários ovinocultores do RS, utilizando carneiros Texel ou Ile de France (raças com ancestrais amerinados) sobre ovelhas de descarte - para produzir o "borregão". E causa do, internacionalmente, reduzido número de criatórios especializados nos grandes e pesados caras negras, Suffolk e Hampshire Down, que poderiam introduzir fibras meduladas ou negras, desvalorizando os velos da progênie, e impedindo a utilização das fêmeas resultantes em uma possível retenção de matrizes.
Fica evidente, com estas tantas alternativas de produto e produção, que "propuseste um tema árduo" para a nossa conversa. O correto seria estabelecer um "centro de custos por produto". Ao vender somente cordeiros, estes são "o produto" que deve responder por todos os custos do empreendimento e gerar dividendos. Daí a necessidade de diversificação na propriedade, pois ao diluir alguns custos entre as diferentes atividades, se aumenta sua rentabilidade individual (pastagens compartilhadas com bovinos são um bom exemplo). A manutenção das matrizes deve ser debitada na conta dos seus filhos. Mesmo que toda alimentação seja produzida "em casa", deve ser contabilizada aos preços de mercado, e a mão de obra familiar, ainda que não remunerada, deve ser contabilizada igualmente. Tudo na conta do "cordeiro".
Como se pode observar, o pobre do cordeiro ter que pagar a conta sozinho é injusto, assim necessitamos de alternativas de mercado para que as "ovelhas de descarte" - "consumo" diziam alguns - paguem a própria conta (hoje, se o frigorífico não quer, só resta a clandestinidade à preços extorsivos). As "borregas de reposição" poderão ser rentáveis à partir da especialização, quando os produtores de "cordeiros de abate" preferirem comprar fêmeas (de raça ou F1) e puderem vender seus produtos para terminadores. Enquanto insistirmos em fazer "ciclo completo" com raças puras, necessitaremos dominar a execução de 3 ou 4 elos da cadeia produtiva e "capital de giro" para aguentar o ano inteiro sem vender nada.
Em agropecuária, se levarmos em consideração toda essa coisa econômica de remuneração do capital investido (incluindo o imóvel), periga dar vontade de vender tudo e investir numa franquia de "fast-food". (Antes saibam, pelo que me disseram tempos atrás, a estimativa de início do retorno do investimento anda em torno de 10 anos.)
Concluindo, meus nobres colegas, arrisco dizer que, na verdade, "nós não queremos saber o que vale um cordeiro" e que, se os cientistas o sabem, é melhor que não nos contem!
Saudações ovelheiras!
Ivan Saul D.V.M., M.Sc.Vet. - Granja Po'A Porã, 07/nov/2010.
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Marcos Vinicius Grein
Balsas - Maranhão - Consultoria/extensão rural
postado em 30/11/2010
Por mais conta que eu faça e seja até simpático à atividade desprezando alguns custos que são lançados na conta de rateio "propriedade", não consegui até agora sustentabilidade econômica da atividade vista de uma forma isolada. Agora, a satisfação de fazer um churrasco de cordeiro produzido por você mesmo é inigualável. Concordo plenamente com seu artigo.