Até 2002, por exemplo, o governo brasileiro emitia quase 400 licenças para produtos veterinários por ano, ou seja, mais de uma por dia. Diante das novas exigências, 2009 se aproxima do fim com aproximadamente 40 licenças emitidas. "Além de o processo de produção ter se tornado mais criterioso, a indústria se conscientizou e nossos clientes passaram a ser mais exigentes", afirma Emílio Salani, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan).
O aumento das exigências não impediu a indústria de crescer. Entre 2002 e 2009 o setor obteve um crescimento anual médio de 7,5%. Neste ano, mesmo com a crise financeira mundial, o mercado brasileiro deve avançar entre 5% e 6% e atingir a marca de R$ 2,84 bilhões em faturamento. Desse total, pouco mais de 55% correspondem ao segmento de ruminantes. O mercado de aves e suínos ficam com uma fatia aproximada de 15% cada, sendo que os animais de companhia (pets) são responsáveis por 11% do setor. Já os equinos e outros animais não ruminantes dividem os 4% restantes do mercado.
Mesmo crescendo de forma consistente, a indústria de saúde animal do Brasil deve seguir o exemplo de outros segmentos e acelerar em 2010 um processo de consolidação já identificado em 2009. Neste ano, gigantes do setor farmacêutico começaram a se movimentar, gerando mudanças também em seus braços veterinários. A americana Merck, dona de 50% da Merial, comprou em 2009 a Schering-Plough, que havia assumido neste ano o controle da Intervet.
Como Merial e Intervet têm linhas de produtos veterinários líderes de mercado em vários países, a Merck vendeu sua parte na Merial para sua sócia na empresa, a francesa Sanofi-Aventis.
Foi também em 2009 que a Pfizer comprou a rival Wyeth. Além de reforçar sua atuação na indústria farmacêutica, a empresa assumiu uma posição de destaque no segmento veterinário ao incorporar Fort Dodge, divisão de saúde animal da Wyeth.
A dissociação das divisões de saúde animal das indústrias farmacêuticas é considerada a continuidade de um movimento iniciado no começo da década. Na primeira onda, foram as empresas de biotecnologia que se tornaram independentes. A gigante Pharmacia, por exemplo, colocou à venda em 2002 o controle que tinha sobre a multinacional Monsanto, depois de tê-la incorporado em 1999. O processo de cisão foi concluído em 2003.
Na mesma linha, a suíça Syngenta nasceu em 2000 a partir da união das áreas de agronegócio da Novartis e AstraZeneca, dois grandes laboratórios farmacêuticos.
Enquanto as multinacionais se movimentam, no Brasil, a tendência também será a mesma. "Para concorrer com grandes grupos, a única saída para as empresas menores será a criação de fusões e parcerias", afirma Salani, do Sindan. Em sua opinião, as exigências cada vez maiores demandarão investimentos ainda mais elevados para o desenvolvimento de produtos ou mesmo a renovação daqueles que estão no mercado.
Apesar de a concentração ser irreversível, o segmento ainda é bastante pulverizado no Brasil. Dados do Sindan indicam que existem 360 laboratórios cadastrados para exercer a atividade. Desses, 150 estão ativos e em operação, dos quais 88 estão associados ao Sindan. De qualquer modo, 2010 promete ser um ano de fusões no segmento e também de investimentos de novos players no setor, como fundos.
A matéria é de Alexandre Inácio, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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