"Prezados colegas,
Auguste de Saint-Hilaire em suas viagens ao interior do Brasil nos anos de 1800 e alguma coisa, já descrevia o abate clandestino como a forma praticada de abastecimento das comunidades e arraiais nos rincões do nosso país. Mesmo nas casas da corte o abastecimento era feito por mecanismos que em nada diferiam dos que chamamos "clandestinos".
Lamento profundamente que o Brasil sempre optou pelo modelo industrial de concentração onde o "terroir", a marca local, não possam sobreviver ou vivem em constante agonia. Modelo que aniquila a diversidade do saber-fazer da produção à cozinha brasileira. Impressiona-me viajar distâncias continentais no Brasil e encontrar a mesma "grande" marca de carne de carneiro nos supermercados. É como encontrar "arroz com bife" como um prato típico do Oiapoque ao Chuí. Traço típico de atraso cultural, do qual decorrem todas as mazelas econômicas.
A informalidade, deve ser combatida (mania de brasileiro certinho conhecido no Brasil moderno como o bobo da corte) mas não é viável tão pouco, um modelo que não incentiva a diversidade, que não valoriza o comércio local. Este modelo de concentração (que fomenta a informalidade) poderá ter muitos anos de vida, mas não é sustentável.
O abate clandestino no Brasil ainda existe porque a sociedade teima ao longo dos anos em nos transmitir alguma mensagem do tipo: o modelo atual não nos atende.
Aos colegas que defendem a existência de frigoríficos menores meus cumprimentos. Que exista espaço para todos, grandes e pequenos. Para a agricultura sustentável a única saída é o fomento à pequena/média empresa (com regras econômicas, jurídicas, sanitárias e ambientais) viáveis, com legislações onde fica clara a vontade do Brasil de incentivar a pluralidade, a diversidade. Não defendo subsídios, defendo regras claras e plausíveis para todos. A iniciativa privada sempre deu provas de poder para mover a máquina econômica.
Estaremos investindo na valorização das comunidades locais, que trazem em si seu jeito de fazer: criando, colhendo, abatendo, vendendo, cozinhando e comendo...enfim investindo nos "Brasileiros".
Obviamente a fiscalização como mecanismo para fazer valer e de quebra a atividade renderia impostos e cumpriria seu papel social".
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Marcos Vinicius Grein
Balsas - Maranhão - Consultoria/extensão rural
postado em 23/02/2011
Concordo com o autor, mas a pergunta que não quer calar é: É possível calcular o tamanho do abate clandestino? E do inspecionado? Li em algum lugar que a média de consumo no Brasil da carne ovina é de 400 g/hab/ano e que a ARCO pretende, através de esforço conjunto, que este consumo passe a ser de 2,3 kg/hab/ano e que daí, seria necessário termos um rebanho ovino de 50 milhões de cabeças. Será que neste indicador de consumo está inclusa a carne proveniente de abates clandestinos ou não?