"Independente do momento econômico mundial, acho importante salientar que a Nova Zelândia tem um clima muito bom para a sua ovinocultura, raças adaptadas ao seu clima e produtivas, pastagens com alto nível de proteína (18% ou mais).
Mas o principal lá é que não se confina cordeiro, não se suplementa ovelha. Fazem manejo de ovelhas paridas nos melhores pasto, produzem feno para a época do frio e desmamam cordeiros com 4 meses direto ao abate.
O custo deles é muito baixo, seu produto é muito bom, terminado a pasto.
Estamos longe de poder competir com eles tratando de ovelhas que não se adaptam bem ao clima que são expostas, construindo abrigos para proteção de chuva(lá neva e os animais ficam no tempo), confinando cordeiros com milho+soja+etc=tudo de alto custo, realizando cruzamento com raças que dão baixo acabamento/carcaças sem padrão.
Alguns estão tentando padronizar as carcaças, mas concorrem com oportunistas que colocam no mercado carcaças de ovelhas descarte e abatidas clandestinamente. E tem restaurante "chique", vendendo carne de ovelha temperada com amaciante e o faminto consumidor"degusta"e acha bom.
Para terminar:
- O brasileiro precisa conhecer a diferença do cordeiro e do carneiro;
- Precisamos entender que algumas raças terão bom desempenho se criadas nas condições as quais estão adaptadas (adaptação leva tempo e custa muito $. É trabalho para centros de pesquisa);
- Temos que terminar cordeiros da maneira mais natural possível, com o mínimo de suplementação;
- Dizem que onde se coloca 01 Vaca = 08 ovelhas. Vaca cria no pasto, come capim e lambe mineral, mais que isso é animal de elite. Suplementar ovelhas durante a gestação,paridas,etc. Quanto custa isso? Você já viu construir abrigo anti-chuva prá vaca?
- Precisamos ter mais fiscalização nos pontos de venda e nos de consumo. Alguem tem que cobrar nota fiscal, carimbo de SIF ou SISP ou SIM enfim, comprovar que o produto foi abatido e industrializado dentro de normas de higiene e sanitárias;
- E mais do que uma atividade para quem quer, a ovinocaprinocultura é para quem gosta, quem vai participar e ficar junto.
Por a mão na massa, esse é o ultimo grande diferencial do custo da atividade em New Zealand. Lá 95% dos ovinocultores mora na fazenda e toca o negócio com a família. A verdadeira pecuária familiar.
É com esse sistema que temos que competir. O resto é propaganda enganosa, ilusão e decepção.
Sou criador, amo ovinocultura, tiro parte de minha renda desta atividade, enfrento problemas, busco soluções, corro riscos, tenho resultados positivos e negativos e também já fui bastante enganado pelas propostas e resultados mágicos expostos por vendedores de ilusões pela TV.
Já fui a Nova Zelandia por isso me arrisco a comentar sobre o assunto. Acho que alguma coisa escrita acima deve fazer sentido. Muitos vão criticar algumas de minhas colocações, mas parte delas são fatos, de difícil contestação."
Mariana Paganoti - Equipe FarmPoint
Walter Celani Junior
Uberaba - Minas Gerais - Consultoria/extensão rural
postado em 17/12/2008
Caro Paulo Roberto,
Apoio quase que na totalidade suas observações.
Realmente as raças que temos hoje servem a alguns lugares e a outros não. Ovinos são animais de ciclo curto e por isso, sofrem alterações significativas com apenas algumas variantes, às vezes insignificantes à nossa observação.
Existe realmente a necessidade de produzirmos cordeiros com o maior tempo de vida possível a pasto. Para isso, necessitamos de raças, a meu ver, prolíficas e com habilidade materna acentuada. Sabemos que essas raças existem, mas, no momento, é caro adquirir matrizes e formar um plantel economicamente viável. Daí a necessidade de fazermos cruzamentos com raças menos preparadas para carne e depois, com as fêmes meio sangue, colocar animais terminadores onerando o plantel e adiando o retorno do capital investido.
Quanto à alimentação, devemos observar os custos e os benefícios agregados.
Explico: Quando o criador produz o alimento, pode-se chegar a custos da ordem de R$ 0,25 a R$ 0,30/animal/dia.
Concordo plenamente, quando observa o fato de que famílias trabalham e conseguem que a atividade seja lucrativa. Isso acontece com a atividade leiteira também.
O assunto é tão palpitante que precisaríamos de muito tempo para discutí-lo.
A ovinocultura no Brasil ainda é embrionária e não temos informações concretas sobre resultados de produção de forma geral.
Peço permissão, para sugerir, assim como alguns técnicos companheiros na empresa em que participo, que uma solução bastante razoável na ovinocultura que temos hoje, seja a integração para produção de cordeiros, sem necessariamente passar pelo confinamento.
Ainda em tempo, quero corroborar com sua observação a cerca dos aproveitadores que comercializam animais de descartes e os consumidores desavisados utlizam-se desse produto e depois não querem mais comer devido à má qualidade.
A falta da fiscalização, reflete a cadeia como um todo, começando pela orientação técnica e passando pela qualidade dos profissionais de órgãos governamentais que não se preocupam em ouvir criadores de campo e não tem profissionais de nossa área opinando nas decisões importantes para nós técnicos e criadores de ovinos.
Um abraço