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Leitores comentam produção de alimento hidropônico

postado em 29/02/2008

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Os leitores do FarmPoint Hélio Cabral Junior e Israel Nunes,participam no Fórum Técnico Nutrição, tópico Alimento acessível, sobre produção de alimento hidropônico. Os leitores comentam a utilização desse tipo de produção para alimentação ovina. Confira.

"Hélio Cabral Junior: FVH - forragem verde hidropônica - é uma grande perda de tempo e de dinheiro!

O resultado em MS final da FVH é inferior à MS das sementes originalmente utilizadas e com um agravante: com qualidade nutricional e digestibilidade inferiores às sementes que lhe deram origem! O que FVH tem em altos volumes é ÁGUA!

Normalmente se recomenda que tal tipo de cultivo se faça em um substrato fibroso do tipo bagaço de cana triturado e seco, capim passado ( velho ) triturado e seco, casca de arroz, etc; isso é que aportará volume de MS à FVH e melhorará o ambiente ruminal e a fisiologia digestiva do animal utilizando este volumoso e olhe que mesmo assim não deve ser dada como único alimento aos animais ou os transtornos digestivos e metabólicos serão de grande monta (diarréia, desbalanço mineral, etc).

Se for utilizado o cultivo sem substrato, o que pode ser feito, fica fácil entender porque é uma grande perda de tempo e dinheiro: ao final do processo de crescimento da FVH, quando o número de folhas novas começar a ser igualado pelo número de folhas senescentes ( não vou utilizar o parâmetro de dias de crescimento - 12, 20, 28, 35, etc - já que vários fatores podem alterar o crescimento ) o que implicará na máxima produção de FVH, basta você "fenar" esta FVH e quando o "feno" estiver no ponto ideal de desidratação ( entre 12 e 15% de umidade ) pese o mesmo. Como as sementes ( no caso de você utilizar milho ) tem em torno de 12% de umidade, você constatará que o resultado final em MS da FVH foi inferior ao das sementes utilizadas! E lembre-se que além de menor quantidade de MS, a qualidade desta também será inferior, já que há perda de nutrientes e de digestibilidade no processo comparado às sementes utilizadas!

Resumindo, você gastou tempo e dinheiro (solução nutritiva, água, instalação, mão de obra, etc ) para ao final do processo obter um alimento em quantidade de MS e qualidade nutricional inferior às sementes originalmente utilizadas!

É muito mais racional fornecer diretamente aos animais as sementes ( grãos comerciais que são mais baratos do que grãos tipo "semente" ) que seriam usadas no processo hidropônico, que são mais baratos e nutricionalmente superiores à FVH resultante!"

"Israel Nunes: respeito suas colocações neste fórum. Os seus dados fornecidos já eram dos meus conhecimentos e tem fundamentação prático-tecnológico confirmados. Isso é um fato.

O que talvez o Sr. não tenha percebido ou não tenha conhecimento, são as condições climáticas da minha região. Só para o Sr. ter uma idéia o índice pluviométrico de 2007 que eu registrei entre os meses de janeiro a dezembro não chegou nem perto dos 100mm. Período de plantio de inverno que vai de abril a junho nem se quer pigou para que fossem lançadas as sementes ao solo (enfoco isto para mostrar que foi impossível ensilar ou fenar qualquer cultura). A saca de 60kg de milho chegou aos 60 reais em algumas lojas, o farelo de trigo dobrou e o de soja triplicou. E aí. - Paradoxo - ou acabo o rebanho e espero o tempo melhorar ou busco alternativa. Fui...

Seria sandice minha querer engordar carneiro ou cordeiros usando esta prática, é inviável. Mas olhar para um quadro devastador de pastagens que tivemos em 2007, olhar os preços "daquele" tão sonhados concentrados nas alturas, que alternativa teríamos se não lançarmos mão de tal prática?"

"Hélio Cabral Junior: entendo sua angustia, mas não muda em absolutamente nada o que já comentei acima, senão vejamos:

Você cita a pluviosidade de apenas 100mm em um ano; concordo que é baixíssima, beirando áreas desérticas. Sequer o capim buffel teria condições produtivas. Palma? Não sei, já que seu ciclo normalmente é de 2 a 2 anos e meio.

Você cita o preço da saca de milho; eu digo que é extorsivo, mas é a realidade de sua região. O que devo frisar é que ,quer seja para cultivo hidropônico ou para fornecimento direto aos animais você terá que adquirí-la! Ou não? Em assim sendo, se você ainda for agregar o custo e o trabalho do cultivo hidropônico, para ao final ter menor quantidade de alimento ( MS ) e com menor valor nutricional, qual é a lógica disso?

Se o milho hidropônico pelo menos tivesse uma quantidade de fibra efetiva para o bom funcionamento ruminal, mas nem isso ele tem.

Então volto a afirmar, sem de forma alguma querer lhe ser ofensivo, que é preferível dar o milho grão aos animais acrescido de uma palhada qualquer ( fibra ), se possível acrescida de um pouco de uréia com sulfato de amônio.

Lembrar que uma dieta para ruminantes deve conter pelo menos 20% de fibra efetiva ( longa ), coisa que o milho hidropônico não tem, a não ser que seja cultivado em substrato do tipo palhada picada, casca de cereais, bagaço de cana, etc.

Não quero parecer dono da verdade ou arrogante, mas seu desabafo, por mais justificado que seja, não altera a realidade quer seja econômica ou nutricional que contra-indica o uso de cultivo hidropônico de cereais para alimentação de ruminantes.

Uma fábula indú, diz que um sábio certa vez chegou a uma distante propriedade que tinha apenas uma mirrada vaquinha amarrada a uma corda no quintal. Os moradores apesar de muito trabalhadores e corretos, não saiam da propriedade porque tinham que cuidar de seu único bem que era aquela vaquinha.

O sábio foi acolhido com satisfação para pernoitar, e recebeu inclusive um copo de leite da vaquinha, que não produzia mais que 3 litros por dia...

Na manhã seguinte, bem cedo, o sábio se levantou e sem que ninguém percebesse saiu e matou a vaquinha e foi-se embora!

Três anos depois o sábio voltou àquela localidade, mas já não era a mesma propriedade; havia um curral novo com 5 belas vacas de leite e seus bezerros e a casa havia sido reformada, mas os moradores eram os mesmos.

Ao verem o sábio, correram a lhe saudar e agradecer pela boa ação; sim foi uma boa ação ter matado a velha vaca, à qual os moradores tinham tanto apego e zêlo.

No início praguejaram contra sua ação, mas como seu único bem estava morto, tiveram que sair e trabalhar nas vizinhanças para ganhar o sustento. Como eram de boa índole e dados ao trabalho e não tendo mais a limitação de ter que ficar cuidando de uma esquálida vaca, logo prosperaram e alcançaram uma vida melhor!

Às vezes nos apegamos a coisas que parecem ser uma tábua de salvação mas que não nos deixam progredir e se de uma forma ou de outra este laço não é rompido, perdemos longo e precioso tempo marcando passo e por vezes andando para trás!

Sucesso em sua lida produtiva."


Mariana Paganoti - Equipe FarmPoint

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