E estabeleceu uma meta numérica para a política de comércio externo em 2011: um superávit comercial de US$ 20 bilhões, o mesmo de 2010. Até agora, o governo só trabalhava com meta para exportações. O mercado financeiro prevê superávit de US$ 8 bilhões para a balança este ano.
O dólar estava sendo negociado pela manhã perto R$ 1,65. Na hora do almoço, o Ministério da Fazenda anunciou que às 15h30 Mantega falaria sobre câmbio. Imediatamente, os investidores passaram a operar com a expectativa de adoção de novas medidas cambiais, o que levou o dólar a acelerar a alta e ser negociado na casa de R$ 1,67, com valorização de mais de 1%.
Na entrevista, Mantega fez o discurso de que a equipe econômica está atenta ao problema cambial. Disse que o dólar no patamar atual "acendeu o sinal de alerta" e prejudica as exportações. E afirmou que o governo está pronto para tomar medidas para conter esse processo. Mas não anunciou nenhuma iniciativa para já. "São infinitas as medidas que podemos tomar", ameaçou. Sem novidade, o mercado devolveu parte da valorização do dólar, que fechou a R$ 1,664, com alta de 0,85%.
Nas mesas de câmbio ontem, os operadores diziam que "não entenderam" por que Mantega convocou a coletiva. Ao enfatizar que possui uma "infinidade" de medidas na gaveta, sem fazer nenhum anúncio, a avaliação do mercado é que o ministro "deixou tudo no ar".
Mário Paiva, analista da corretora BGC Liquidez, disse que o pronunciamento foi um "alerta" de que Mantega pode adotar uma medida mais agressiva se o câmbio romper R$ 1,65. "O governo já deu várias demonstrações que o dólar abaixo desse patamar gera desconforto", disse.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, o ministro está preocupado com a competitividade da indústria, mas não deve editar nenhuma medida cambial em breve. Ele avalia que o governo vai aguardar a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 18 e 19 deste mês. "Até uma definição mais clara do ajuste fiscal e da alta de juros, o governo não vai mexer no câmbio."
Mantega disse que o governo "não medirá esforços" para conter a apreciação do real. E salientou que considera que a "ação fiscal forte" prometida para este ano é um fator adicional nesse esforço. Isso porque, argumentou, um ajuste fiscal reduz a demanda, o que deve abrir espaço para, no futuro, os juros caírem.
Ele explicou que a equipe econômica está preparando uma redução de gastos federais, que não ocorrerá de forma linear. Enquanto não é definido o corte, segundo o ministro, os ministérios estão trabalhando com pequena disponibilidade de recursos em janeiro.
O diretor da NGO Corretora, Sidnei Nehme, acredita que o governo vai mudar a maneira de combater a inflação. Ao invés de tratar os "sintomas", com juros altos e câmbio forte, promete atacar as "causas", com ajuste fiscal e menos crédito. "Isso vai impactar o câmbio, mas demora."
Mantega informou ainda que o volume de restos a pagar de 2010 está em torno de R$ 57 bilhões, conforme o Estado revelou ontem. Em seguida, titubeou e disse que era necessário checar o número.
O ministro também disse que o governo pretende agir no comércio exterior. "É claro que outras medidas vão ser tomadas para favorecer as exportações e impedir a concorrência desleal. Vamos ser mais rigorosos para preservar o saldo", disse Mantega.
A matéria é de Fabio Graner, Adriana Fernandes, Fernando Nakagawa e Raquel Landim, publicada no jornal O Estado de S.Paulo, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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