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Mendes Ribeiro prepara ampla mudança na estrutura da Pasta para recuperar o peso político da agropecuária

postado em 21/09/2011

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Quase um mês após assumir o Ministério da Agricultura, o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) prepara uma ampla mudança na estrutura da Pasta para melhorar a gestão e recuperar o peso político da atividade agropecuária. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o ministro informou que vai extinguir algumas secretarias, mudar atribuições e criar uma estrutura exclusiva para o cooperativismo. Mendes vai transformar secretários em assessores especiais, todos respondendo ao novo supersecretário-executivo, o advogado José Carlos Vaz, ex-diretor de Agronegócios do Banco do Brasil.

Mendes, que cumpre o quinto mandato consecutivo na Câmara, é considerado habilidoso e bem relacionado na cúpula do poder. De sua posse até agora, tem negociado acordos políticos internamente no governo. Esteve com os ministros Guido Mantega, Antonio Patriota, Fernando Pimentel e Afonso Florence. Com todos, operou para recuperar os espaços políticos perdidos pelo ministério nas últimas décadas. Também pediu ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, a criação de uma Vice-Presidência de Agronegócio no banco estatal.

Para levar seu plano adiante, Mendes está "limpando", sem alarde, a estrutura montada pelo antecessor Wagner Rossi no ministério. Começou a "enxugar" a Pasta em busca de "gestão". Quer "dar resultados", como acertado com a presidente Dilma. Todas as secretarias serão ligadas à Executiva, que será uma superestrutura. As estatais terão regras de "governança financeira" para evitar denúncias de desvios e acusações de irregularidades como as ocorridas na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E já pediu ao empresário Jorge Gerdau, hoje presidente da Câmara de Gestão e Competitividade do governo federal, e ao Banco do Brasil algumas consultorias para ajudar em sua gestão.

O sr. prepara mudanças na estrutura do Ministério?

Mendes Ribeiro: A estrutura é antiga. Eu quero enxugar diretorias e o ministério precisa ser enxugado. Vou fortalecer o núcleo político e mudar bem a estrutura do ministério. Vou criar algumas secretarias e extinguir alguns cargos de secretário, puxando a vaga para a Assessoria Especial do Gabinete, subordinado ao secretário-executivo.

Algum exemplo prático?

Mendes Ribeiro: Eu vejo aqui nesse enorme ministério uma secretaria de Associativismo e Cooperativismo. Eu quero terminar com essa secretaria e criar a Secretaria de Cooperativismo. Eu quero dar destaque para o cooperativismo. A criação da secretaria de Cooperativismo, neste momento, é algo que se impõe. O assunto já tem status de secretaria. Por mim, eu trabalharia diferente, já estou mudando até o organograma. Na contramão, a Secretaria de Defesa Agropecuária manterá com suas diretorias, mas seu secretário vai para uma assessoria especial.

Como será esse desenho?

Mendes Ribeiro: Quero botar tudo embaixo da Secretaria-Executiva e ter cinco pessoas que possam trabalhar em todas as áreas em que for necessária uma intervenção política. Isso é extraordinariamente importante. Eu quero pensar ministro e Secretaria-Executiva até para que possa ter esse organograma de coordenação. Preciso de solução para problemas. Preciso agir. Tenho muita confiança no José Carlos Vaz. Ele tem uma característica que me faz admirá-lo muito. Ele é bom caráter. Espírito público. Eu me identifiquei com ele.

É um reposicionamento político do ministério?

Mendes Ribeiro: Eu quero chegar em um ministério enxuto, eficiente, prestando serviço ao agricultor, sendo protagonista e, de acordo com a orientação da presidente Dilma, fazendo as coisas acontecer. Para isso, estou reinserindo o Ministério da Agricultura no governo e seguindo as políticas da presidente Dilma. Ela foi enfática na questão da Defesa Agropecuária. É prioridade. Produção é prioridade. Então, temos que criar solução que possa nos aproximar.

Como será a reinserção?

Mendes Ribeiro: Eu preciso que a Agricultura se insira no governo. Que o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, o Osmar Dias, seja meu parceiro lá. Que eu sente com o BB e diga. "Vamos trabalhar juntos? Vamos fazer um projeto casado? O banco e o Ministério da Agricultura?" Também liguei para o presidente do BNDES, o Luciano Coutinho. "Presidente o senhor me recebe?". Ele disse: "Mas ministro eu vou aí". "Não, eu faço questão de ir aí". "Eu estou fazendo uma agenda que o senhor vai se arrepender de eu não ir aí". Eu quero fazer uma agenda com todos os assuntos que o BNDES tem que me ajudar. "Olha, Coutinho, eu posso até te pedir que crie uma vice-presidência de Agronegócios no BNDES".

Qual a estratégia para isso?

Mendes Ribeiro: Tenho que falar com o Mantega. Eu preciso fazer para isso. Se as coisas estão acontecendo, a culpa é nossa. Se não estão, é nossa também. Eu tive o doutor Gerdau [presidente da Câmara de Gestão da Competitividade] três horas aqui comigo. Nós queremos qualidade, gerenciamento, gestão propriamente dita. Eu quero resultado.

É uma recomposição das atribuições perdidas?

Mendes Ribeiro: O ministério perdeu o Desenvolvimento Agrário. Será que o governo criou o ministério politicamente? Quem pensa assim não quer olhar que o Ministério da Agricultura não estava cuidando devidamente dos pequenos agricultores. Se demorasse mais um pouco, a Conab ia para o Desenvolvimento Social. Mais um pouco, e a Embrapa ia para a Ciência e Tecnologia. A Pesca já saiu daqui também. A política agrícola quem define é o Ministério da Fazenda. É quem bota dinheiro. Aí a agricultura ia ficar com o quê? Com os grandes empresários? A quem que o médio produtor vai recorrer no momento que está sendo empurrado para a comercialização?

Como resolver isso?

Mendes Ribeiro: Por exemplo, preciso conversar com o ministro Mantega para compreender porque a agricultura não entrou no [programa] Brasil Maior. Eu quero ter uma parte. Eu preciso fazer para isso. Outro exemplo: convidei o Gilson Bittencourt [secretário-adjunto da Fazenda] para ser meu secretário de Política Agrícola. Ele não pôde, mas eu chamei. Eu quero uma política agrícola consistente. Eu quero um seguro de renda.

E os problemas de comércio?

Mendes Ribeiro: A forma é buscar mercado, abrir mercados. Em três meses, nós mudamos totalmente o caminho da carne suína. A Rússia, que tinha 48% de participação nas exportações brasileiras, passou a ter 8%. O resto se levou para Hong Kong e Coreia. A gente está buscando isso. Escreva e me cobre. Eu tenho expectativa muito grande no mercado de carne suína e de frango.

Qual o caminho?

Mendes Ribeiro: Precisamos investir na defesa como queremos investir. Já estamos agindo. Estamos fazendo convênio com os Estados do Norte, com participação das secretarias. Quero levar em frente o Sistema Único de Sanidade Agropecuária [Suasa]. É um programa maravilhoso que será feito com os Estados aonde nossa defesa mais uma vez será colocada sob prova.

E a febre aftosa?

Mendes Ribeiro: Pedi para o José Carlos Vaz fazer o seguinte. O que eu preciso para ter o país livre da aftosa com vacinação? Ele me disse: "Hoje, ministro, nós temos uma posição tranquila, o trabalho está muito bem feito, nós temos ações com os Estados no Nordeste para que isso tenha tranquilidade". Tá bem, o que vocês precisam? Verifique junto com a secretaria. Dinheiro? Vamos dar dinheiro.

Precisa de mão de obra?

Mendes Ribeiro : Vamos dar. Não vai faltar ação de governo para que a defesa, no Brasil, seja comprovada no dia a dia.

E a aftosa no Paraguai?

Mendes Ribeiro: Há dez dias já se foi a Mato Grosso do Sul, a secretária de lá já agiu. A relação com os Estados é fundamental. Eu vou chamar aqui na semana que vem todos os coordenadores de bancadas dos Estados do Parlamento, deputados e senadores. As políticas agrícolas dos Estados e da União precisam andar juntas e o importante é que eu já fiz a reunião com os secretários. Importante é que o ministério saiba como não atrapalhar. E como é preciso ajudar.

E as dívidas rurais?

Mendes Ribeiro: Eu quero uma política agrícola consistente. Eu quero um seguro-renda que será mais barato para o governo do que pagar depois. Agora, estou atrás do dinheiro do seguro [R$ 74 milhões estão contingenciados pela Fazenda].

E quanto às reclamações dos produtores?

Mendes Ribeiro: Eu sempre digo: não me venha falar em dívida. Querem conselho meu? Não falem em dívida. Vamos produzir. A dívida tem que ser uma preocupação do governo para ver como vai incentivar o setor. Eu tenho que pensar nisso, pensar uma solução. Temos que ver quanto plantou, quanto colheu, quanto deve. Por que não vamos pagar isso em produto?

O que o sr. fará na Conab, um foco de acusações de corrupção?

Mendes Ribeiro: A Conab é extremamente qualificada e a função dela é fundamental para a agricultura. Agora, o funcionário está desmotivado. Eles estão com vários projetos em estudo.

O sr. vai mudar a diretoria?

Mendes Ribeiro: Tive uma boa impressão dos que lá estão. Quando vim para o ministério, disse que eu vou mudar sem mudar. Eu tenho que mudar a forma de fazer. Às vezes, as pessoas estão mal encaminhadas, mal orientadas. E se for preciso, mudo pessoas. Por enquanto, quero saber se eu posso avançar com os que aí estão. O que eu preciso pensar é no diretor financeiro. Aí, eu preciso pensar, preciso de tempo. Marcelo Melo [diretor de Abastecimento] foi meu colega deputado, conheço ele. Tenho boas referências do Silvio Porto [diretor de Política Agrícola]. O presidente [Evangevaldo Moreira] me passou uma boa impressão. Ele abriu todo o processo de investigação que eu citei. Ele tem me informado de tudo que peço. Ele está com um procurador da AGU acompanhando as coisas. Ele está criando uma coordenação jurídica permanente.

E o que o sr. pretende mudar na atuação?

Mendes Ribeiro: Não entendo essa história de carregar produto daqui pra lá [PEP, VEP]. Eu levo a semente do Rio Grande do Sul para Mato Grosso. Mas o que é isso? Eu quero uma política de racionalização de custo. De aproveitamento, que as coisas possam avançar. Por que não silos? Por que não fazer um programa de armazenamento que possa proteger o produtor.

As mudanças na cúpula do ministério já acabaram?

Mendes Ribeiro: Vou sobrecarregar a mim e chamar o José Carlos Vaz para me ajudar. Também vou chamar o secretário de Política Agrícola, o Caio Rocha, que é alguém que conhece a agricultura, que eu conheço e confio. Também quero pegar o [ex-deputado] Silas Brasileiro para nos ajudar. Gostaria de ter o Silas em duas posições: como assessor especial livre para atuar em todas as áreas e no café. Talvez tenha que optar por uma delas e não posso, quem sabe, o deixar fazer o que ele gostaria de fazer. Pode ser assessor especial. Aí, o Silas quer o café e o que vai acontecer?

Pode-se dizer que houve uma "faxina" no ministério?

Mendes Ribeiro: Estamos fazendo quietos. Muita gente já saiu. Pode ver o diário oficial. Daqui, da Conab, da Denacoop, do Gabinete. A reforma do ministério é estratégica para, politicamente, as coisas andarem da forma que precisam andar.

Como se faz isso quieto?

Mendes Ribeiro: Eu não quero nadar de braçada. Eu quero que o ministério ande. Eu quero ser propositivo como sempre fui na minha vida política. Hoje, eu quero me integrar com o Desenvolvimento Agrário.

Entrevista publicada no jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.

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