Mas há pressão também vinda de fora. O último relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou um consumo de 94 milhões de toneladas de milho para produção de etanol naquele país no ano comercial 2008/09 (de 1º de setembro a 30 de agosto). A previsão anterior era 101 milhões.
"Com os atuais preços do petróleo, a gasolina já está mais barata que o etanol nos Estados Unidos", observa Paulo Molinari, analista da Safras&Mercados. Assim, ele não descarta novas quedas na estimativa de consumo de milho para etanol nos EUA. Molinari vê um primeiro trimestre de preços baixos, mas diz que a retração da produção - esperada em decorrência de menores investimentos - nas safras do Hemisfério Norte pode inibir uma queda mais forte.
Também ainda não está claro o tamanho da quebra da safra de milho no Sul do país. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Paraná, o ciclo 2008/09 para o milho deve ter quebra de 20% por conta da estiagem. A produção, antes estimada em 8,73 milhões de toneladas, deve ficar em 6,98 milhões, segundo Margoreth Demarchi, agrônoma do Deral. A falta de chuva provocou quebra de 21% na região de Cascavel e de 51% na de Francisco Beltrão, disse ela. Este mês, a Conab estimou a safra de verão 2008/09 no Brasil em 37,023 milhões de toneladas, 7,4% a menos que no ciclo anterior. O Rio Grande do Sul também sofreu com a seca e, segundo Molinari, deve ter uma perda entre 500 mil e 1 milhão de toneladas.
Outro ponto que deve ser levado em conta é a safrinha 2008/09. Para o analista, o produtor vai reduzir entre 10% e 15% a área plantada. "O produtor vai reduzir a tecnologia, mas não vai deixar de plantar". Fertilizantes e sementes não devem faltar, pois os estoques nesses segmentos são elevados.
"A grande saída é a exportação", diz Leonardo Sologuren, da Céleres. Para este ano, a Conab estima as vendas externas em 5,3 milhões de toneladas. "Precisava voltar ao que foi em 2007", afirma o analista. No ano passado, o país embarcou 11 milhões de toneladas. Para Sologuren, a demanda vai existir, mas crescerá menos do que esperado, e o Brasil deve ter uma vantagem em relação aos EUA, já que a alta do dólar favorece a exportação brasileira.
Mas tudo também vai depender do movimento dos preços em Chicago. Se o mercado americano recuar, a paridade de exportação fica prejudicada e o câmbio sozinho pode não estimular os embarques. Molinari, da Safras, diz que já há sinais de demanda ruim: enquanto no Golfo do México, o milho está a US$ 170 por tonelada, o último negócio fechado em Paranaguá saiu a US$ 145, o equivalente a R$ 19,50 a R$ 20 por saca, no porto.
A matéria é de Alda do Amaral Rocha, publicada no jornal Valor Econômico, adaptada e resumida pela Equipe AgriPoint.
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