A medida provisória editada ontem que permite ao governo comprar empresas e a notícia de que o fluxo cambial no país ficou negativo em US$ 3,751 bilhões nas primeiras três semanas de outubro já azedaram os ânimos no câmbio logo pela manhã.
O movimento foi global. O dólar avançou contra praticamente todas as moedas devido ao crescimento dos temores de uma recessão planetária. Os economistas prevêem que muitos países terão que cortar a sua taxa básica de juros em breve para enfrentar a já prevista recessão. Diante da perspectiva de menores ganhos, os investidores preferem correr para os EUA e comprar os títulos do seu Tesouro, tradicional refúgio em momentos de crise, mesmo que as turbulências tenham tido início justamente em solo americano.
Boa parte da pauta de exportações brasileira é composta por commodities metálicas e agrícolas - que apresentaram forte queda nos últimos dias. Uma diminuição do consumo com o desaquecimento global significaria menos dólares entrando no Brasil.
O cenário negativo fez alguns bancos e investidores aumentarem as suas compras de divisas para estocar - eles apostam que a situação pode se deteriorar ainda mais, também fazendo a moeda americana subir. Esse componente especulativo impediu que a intervenção do Banco Central ontem tivesse efeito em segurar as cotações.
Nesse contexto de medo e de desconfiança, a edição da Medida Provisória 443 - que permite que o Banco do Brasil e a Nossa Caixa adquiram participação em outros bancos e empresas sem licitação - contribuiu para piorar o clima. "O entendimento é que as condições do sistema bancário brasileiro podem ser um pouco mais complicadas", comenta Alessandra Ribeiro, analista da Tendências Consultoria. "É verdade que a regulação é rígida, que a alavancagem é pequena, as instituições estão capitalizadas; porém, o BC pode estar mais preocupado com as menores. As grandes são sólidas", completa a analista.
Para ela, o governo deveria ser mais cuidadoso na comunicação de suas ações para não mandar mensagens erradas e deixar o mercado ainda mais nervoso. No entanto, de acordo com especialistas, a elevação observada nas últimas semanas é fruto apenas do pânico e não de uma piora do país, por isso não se sustentaria por muito tempo.
A matéria é de Denyse Godoy, publicada no jornal Folha de S.Paulo, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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