Dos cinco postos de vigilância que restaram na região, dois não têm energia elétrica. Um deles funciona num edifício em ruínas, sem portas e janelas e com as paredes crivadas de balas. E são justamente os mais estratégicos, pois deveriam controlar a linha internacional: a fronteira seca entre Brasil e Paraguai, quando o próprio governo aponta o contrabando de gado paraguaio como causador dos focos de aftosa em 2005.
A rede de energia passa a 30 metros do local, mas o Estado teria de gastar R$ 1 mil para completar a ligação. Com mais R$ 1 mil seria possível fazer funcionar um poço artesiano desativado.
Hoje, apenas dois agentes trabalham em cada barreira e, quando escurece, são obrigados a usar lanternas e lampiões para inspecionar e desinfetar os veículos. E como o serviço é paralisado no início da noite por falta de segurança, até o dia amanhecer, caminhões de gado ou de qualquer outra mercadoria podem passar livremente, sem nenhum controle. "É quando entra o boi do Paraguai', alertou o presidente do Sindicato Rural de Iguatemi, José Roberto Felippe Arcoverde, em reportagem de José Maria Tomazela.
Há mais cinco equipes volantes para fiscalização. Cada uma dispõe de um veículo com um veterinário, um técnico e dois policiais. Mas é um efetivo tão pequeno para a dimensão territorial que, em dois dias, uma equipe passou apenas uma vez pelo posto de Japorã. Para piorar, um dos veículos está quebrado. "Depois de tantos prejuízos, não aprendemos a lição", lamentou o presidente do sindicato.
Os frigoríficos de Eldorado e Iguatemi voltaram a funcionar e cresceu o trânsito de animais na região, aumentando o risco de ressurgimento da doença. Não há técnicos nem veterinários para acompanhar o embarque e o desembarque do gado nos frigoríficos. "É humanamente impossível fazer o que precisa ser feito com tão pouca gente e sem recursos", disse um funcionário que preferiu não se identificar.
Uma missão européia que acompanhava técnicos paraguaios passou por um posto na semana passada. "Pararam, olharam tudo e fizeram piadas", disse Valter Teles, um dos funcionários do Iagro que trabalha no posto de vigilância do local conhecido como Correntão, na divisa de Japorã com Sete Quedas.
O Estadão informou ainda que a UDR pretende acionar o governo federal caso o vírus da febre aftosa reapareça no MS. O presidente Luiz Antonio Nabhan Garcia considerou "uma vergonha para o país" a situação da vigilância sanitária na fronteira com o Paraguai.
Alexandre Sampaio da Matta
Belo Horizonte - Minas Gerais - OUTRA
postado em 14/08/2006
E o governo federal ainda coloca a culpa do aparecimento da febre aftosa no produtor rural. O que o agronegócio gera de empregos e renda, seja em forma de impostos ou superavit na balança comercial, é realmente vergonha a situação das barreiras sanitárias nas fronteiras, afinal, todos perdemos.