Das nove culturas avaliadas - algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão, girassol, mandioca, milho e soja -, só duas serão beneficiadas pelo aquecimento global: cana e mandioca. Todas as outras sofrerão com a perda de áreas propícias para cultivo e aumento do custo de produção.
"O País está vulnerável", diz Eduardo Assad, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, que coordenou o estudo ao lado de Hilton Silveira Pinto, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp. "Áreas que atualmente são as maiores produtoras de grãos podem não estar mais aptas ao plantio bem antes do final do século", alerta o estudo.
A soja, principal produto agrícola da balança comercial brasileira, será a cultura mais afetada, com redução de 40% da área de baixo risco para cultivo até 2070. Os Estados do Sul e o cerrado nordestino serão as regiões mais impactadas, em razão da perda de água (deficiência hídrica) e do aumento de temperatura. O prejuízo pode chegar a R$ 4,3 bilhões em 2020 e R$ 7,6 bilhões, em 2070, no cenário mais pessimista.
O arroz e o feijão perderão espaço no semi-árido nordestino, que deverá ficar ainda mais quente e seco. A redução de precipitação na região, segundo ele, poderá chegar a 40%. Até a tradicional mandioca sofrerá com o calor excessivo do interior nordestino. O café será expulso de suas áreas tradicionais de cultivo no Sudeste, como o interior paulista, e forçado a migrar para regiões de clima mais ameno no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A cultura do milho, crucial para a alimentação de gado, aves e suínos, também será duramente prejudicada, tanto no Nordeste quanto no Centro-Oeste. As perdas de área podem chegar a 12% em 2020 e 17%, em 2070.
Já a cana poderá dobrar a sua área potencial de plantio até 2070 - de 6 milhões de hectares para 13 milhões de hectares. A expansão ocorreria principalmente no Sul, onde a cana poderia substituir a soja, por causa da redução na freqüência de geadas. Além do aumento de área, a cana pode ter um ganho de produtividade. Estudos conduzidos pelo biólogo Marcos Buckeridge, da Universidade de São Paulo (USP), mostram que o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera tem um efeito fertilizante sobre a planta, que passa a fazer mais fotossíntese, incorporar mais biomassa e produzir mais açúcar.
"O aumento da área propícia à cultura, aliado às vantagens da planta no seqüestro de carbono e do etanol (...), deve consolidar a cana como fonte de energia primária", conclui o estudo.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Envie seu comentário: