O novo presidente da companhia, Sérgio Rial, admite que responder ao compromisso de entregar resultados melhores não será fácil. Assim como não foi fácil a decisão de vender a Seara, negócio de carnes processadas adquirido em 2009, para a JBS - o que, na prática, significou se desfazer de um terço do grupo, mas também de R$ 6 bilhões em débitos do balanço.
O próprio Rial ressalta que a empresa cresceu em cima de endividamento. Em 15 anos foram mais de 40 aquisições, que transformaram a distribuidora de carnes fundada pelo empresário paulista Marcos Molina dos Santos em uma das maiores empresas brasileiras com atuação internacional, mas que também deixaram uma dívida bruta de R$ 9,127 bilhões - considerando a alienação da Seara.
Em sua nova fase, a Marfrig Global Foods descarta aquisições, foca em carne bovina no Brasil e na América do Sul e quer aproveitar as oportunidades de recuperação da Europa e dos Estados Unidos, além da demanda crescente por proteínas na Ásia. "Os resultados que queremos entregar serão apoiados pelo crescimento de nossos negócios na Ásia e também por uma Europa melhor", diz o executivo.
Rial entende que hoje não há concorrente para o Brasil no fornecimento de carne bovina no mundo. Diz que a oferta nos Estados Unidos é limitada no atual ciclo de pecuária, a Austrália ainda não conseguiu recuperar o rebanho devido à estiagem nos últimos anos e as políticas adotadas pelo governo argentino comprometeram o desempenho do país como importante exportador da proteína.
No caso da China, Rial afirma que, apesar de o país ter uma preocupação em ampliar sua produção de carnes para atender o consumo doméstico, não conseguirá avançar muito no segmento de carne bovina devido a limitações de espaço e de know-how. Por conta disso, o executivo não descarta incursões da China ao Brasil para produzir por aqui.
"Como precisarão de abastecimento externo, vão chegar na cadeia proteica brasileira de alguma maneira", disse. A Marfrig, na China, possui uma associação com uma distribuidora de alimentos local, a COFCO, e busca também um sócio local na Indonésia para iniciar operações ainda neste ano.
Perspectivas. Este ano, a Marfrig prevê uma receita de R$ 21 bilhões a R$ 23 bilhões, com margem Ebitda entre 7,5% e 8,5%, fluxo de caixa livre ao acionista de neutro a R$ 100 milhões positivos, com aportes totais de R$ 600 milhões. Também aguarda um crescimento anual em receita de 2012 a 2018 de cerca de 7,5% a 9,5%, margem Ebitda de 8,5% a 9,5% em 2018 e um fluxo de caixa livre ao acionista de R$ 650 milhões a R$ 850 milhões no período.
O executivo não comentou se a companhia atingiu o guidance de R$ 18,5 bilhões em receita e margem Ebitda de 7,5% em 2013, mas adiantou que os resultados operacional e financeiro do quarto trimestre virão na "mesma linha de um caminho de performance melhor, assim como foi o terceiro ante o segundo trimestre". A divulgação do balanço do quarto trimestre do ano passado está prevista para o início de março, ainda sem uma data definida.
Além de projeções de receita e geração de caixa, os investidores querem se certificar de que, daqui para frente, o esforço de redução do endividamento será contínuo. A venda de ativos foi o primeiro passo. Depois da venda da Seara, a alavancagem, que chegou a superar em quatro vezes a relação dívida líquida/Ebitda, ficou em 2,8x no final do terceiro trimestre do ano passado.
Internacional. As incertezas sobre o desempenho da economia nacional foram um dos motivos para a venda da Seara e aumento da exposição internacional da companhia, comentou Rial. Incertezas também levaram a empresa a reduzir sua atuação na Argentina, onde já teve cinco unidades fabris. Hoje, atua com três. "A ideia não é sair, mas seguramente vamos continuar sendo pequenos lá. Se pudéssemos ter uma unidade só, com certeza teríamos", observa Rial.
BNDES. O alongamento da dívida com o BNDES traz fôlego adicional à companhia. Hoje, a empresa de participações do banco de fomento é o segundo maior acionista da Marfrig, com uma fatia de 19,63% e detentora de 99,96% dos títulos de dívida que vencem em julho de 2015 e estão prestes a serem substituídos por outros que terão novo prazo em janeiro de 2017.
Apesar dos esforços para melhorar a saúde financeira, o mercado ainda segue reticente com a companhia. Embora a recomendação de compra para as ações tenha voltado a ser citada pelos analistas, o comportamento dos papéis ainda reflete a cautela. No ano passado, os papéis acumularam queda de 52,8%.
A matéria é do jornal O Estado de São Paulo.
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