O poncho bordado em branco e bege é exibido com orgulho pelo expositor Adriano da Silva Souza, de 21 anos, na Expointer, feira de agropecuária realizada em Esteio, Região Metropolitana de Porto Alegre. "Não tem tinta", garante. A lã usada é de ovinos naturalmente coloridos. Os criadores desses animais já contam com uma associação organizada, e obtiveram neste ano o registro oficial pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos.
"Os animais participam da Expointer desde 2008, mas oficialmente, como animais já registrados, este é o primeiro ano", disse o diretor técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos Naturalmente Coloridos, Eduardo Amato. Ovelhas de várias raças podem ser naturalmente coloridas. As cores variam entre preto, cinza e caramelo, com diversos tons. Tudo é obtido por meio da seleção genética. O filhote geralmente nasce com a pelagem preta e, conforme vai crescendo, vai clareando, como explica o criador Maximiliano de Carvalho Fontoura, de 41 anos.
"Todas as cores não brancas são admitidas, desde o caramelo, o marrom, ao preto. Os animais também podem vir a ser manchados, eventualmente temos animais de duas cores. Mas o padrão racial aceita todas as variantes", explica Fontoura, enquanto percorre as baias para exibir animais coloridos de diversas raças.
Em alguns casos, a utilidade do material é determinada pela raça. "A pessoa que está mais preocupada com a produção de lã para vestuário tem de ir mais para raças de Corriedale, Merino, Romney e Karacul. Aquela pessoa mais voltada à produção de carne e pelego pode optar pelas raças mais carniceiras, que são o Texel, o Ile de france e o Hampshire down, porque todas as raças de ovinos brancos possuem sua variante colorida", afirma o criador.
A ideia de criar uma entidade para reunir criadores de ovelhas naturalmente coloridas de raças diversas surgiu depois que Amato participou de um encontro internacional da área na Nova Zelândia, em 2004. "É um congresso extremamente técnico com gente de todo o mundo, em que observamos todo o trabalho que era feito. Quando chegamos ao Brasil, constatamos que havia criadores que criavam esse tipo de animal por conta própria", afirma.
A lã costuma ser usada por pequenos artesãos. Como muitos adquirem a matéria-prima informalmente dos produtores, não há como estimar um volume de negócio da lã. O certo é que o produtor que lava e "carda" – torna os fios paralelos usando duas escovas – pode ter um lucro expressivo. Pequenos produtores podem fazer o processo manualmente, e quem tiver maior quantidade de matéria-prima pode terceirizar o serviço. Amato garante que, nos dois casos, vale a pena. "A lã naturalmente colorida independente de raça, nas barracas e indústrias, não vale quase nada, R$ 1, R$ 1,50, mas se você lava e carda, vale em média R$ 100. Vai perder 50% do peso, mas em compensação em cada kg de lã, se ganha no mínimo R$ 50", explica.
A família de Adriano compra a lã já lavada e cardada. Na Expointer, ele vende o artesanato produzido pela família em Caçapava do Sul no pavilhão da agricultura familiar, longe de onde Amato discorria sobre o ovino colorido naturalmente. O resultado de todo o trabalho, dos criadores aos artesãos, está em peças de roupa e tapeçaria com custo médio de R$ 100. "Desde que eu nasci, vejo meu pai fazer isso", conta o jovem expositor, talvez sem imaginar como funciona a criação do animal de onde sai a matéria prima para o trabalho da família.
Ovelhas da raça Corriedale expostas por criadores de ovinos naturalmente coloridos (Foto: Felipe Truda/G1).
As informações são do portal G1, adaptadas pela Equipe FarmPoint.
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