ARCO - Em termos políticos/representativos quais as ações desenvolvidas pela atual direção?
Paulo Schwab - Primeiro é importante dizer que finalmente estamos começando a colher os frutos de um trabalho que vem sendo desenvolvido por várias gestões, mesmo as que eu não participei. O caminho trilhado por outros presidentes deve ser reconhecido porque sem eles, não teríamos chegado onde estamos. A soma de todos estes esforços resulta que hoje a ARCO é reconhecida em todas as esferas administrativas governamentais - Federal, Estadual e Municipal - como a entidade que representa um setor importante da pecuária brasileira. Claro que não podemos deitar em louros com isto porque, na verdade a ovinocultura ainda não conquistou o respeito que eu acredito que ela mereça e isto é um trabalho que precisa ser feito pela ARCO e também, por todos os criadores e suas entidades representativas de raça.
Ao longo deste tempo e, mais recentemente, no ano que passou, a nossa entidade foi convidada a fazer pronunciamentos sobre o setor, na Câmara de Deputados e no Senado, dentro da Comissão de Agricultura do Congresso Nacional. Pudemos expor a atual situação da atividade no Brasil e solicitar apoios a importantes reivindicações para o nosso segmento, como, por exemplo, a reestruturação da Extensão Rural no Brasil, que foi desmantelada e que trouxe, como consequência, uma perda no processo de repasse de novas tecnologias ao campo.
Também podemos relatar que junto à comissão de ovinocaprinocultura do Ministério da Agricultura, levamos a proposição de redução do PIS/COFINS para os abatedouros e frigoríficos, buscando melhorar a rentabilidade deste setor e, com isto, aumentar o volume de animais abatidos oficialmente, e melhorar a competitividade da nossa carne. E estamos levando o debate de redução de alíquotas de ICMS em alguns estados, para também aumentar a oferta de cordeiros abatidos oficialmente. Há ainda alguns outros que estão em processo de debate interno e que em breve devem ter novidades.
ARCO - Quais os principais projetos encaminhados pela diretoria da ARCO neste ano?
Paulo Schwab - Neste ano demos prosseguimento ao Programa Nacional de Melhoramento Genético, trabalho realizado pela Embrapa e iniciamos uma pesquisa, em convênio com a Universidade de Brasília, UnB, sobre o potencial de mercado interno e externo, para os produtos oriundos da ovinocultura. Também ampliamos a área de atuação do Programa Carne de Qualidade, que tem como perspectiva movimentar cerca de 20 mil cordeiros em 2010. Este programa procura na verdade iniciar um processo de certificação dos produtos que são abatidos, buscando oferecer ao consumidor animais com padrões de carcaça e de qualidade de carne.
É preciso ressaltar ainda o apoio que a ARCO deu ao Centro de Pesquisa em Ovinocultura, projeto realizado entre a Fundação de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul, Fepagro, e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, que montou uma estrutura de pesquisa para o setor, em uma unidade da Fepagro localizada no município de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre. Neste centro vão ser realizados cursos e diversas pesquisas sobre ovinocultura. E é bom lembrar o encontro que realizamos na Expointer de 2009 com várias instituições de pesquisas da região sul do país, com o objetivo de formar uma rede tecnológica entre todos os participantes a fim de fazer um levantamento sobre todos os trabalhos já realizados pela academia, em relação à ovinocultura e buscar formas de que estas tecnologias comecem a chegar ao conhecimento do produtor. E temos ainda o desenvolvimento de um amplo programa de melhoramento sanitário da ovinocultura a ser executado pelo MAPA com a nossa colaboração.
ARCO - Quais as principais ações internas realizadas para melhoria do funcionamento da ARCO?
Paulo Schwab - Eu penso que temos duas importantes realizações. O treinamento dos Inspetores Técnicos da ARCO, em encontro nacional e depois em etapas regionais o que nos permitiu unificar procedimentos, e a modernização do nosso Centro de Processamento de Dados, que com sua ampliação nos permite agora mais agilidade no funcionamento do Serviço de Registro Genealógico, setor que pelo reconhecimento que a ARCO possui, nos foi delegado pelo Ministério da Agricultura para cuidarmos.
ARCO - Quais os investimentos realizados em equipamentos e/ou reordenamento administrativo? Qual o valor investido neste processo?
Paulo Schwab - No caso do reaparelhamento do SRGO, se formos contabilizar todo o processo eu creio que ultrapassa os R$ 600 mil. Isto foi na aquisição de novos equipamentos, de programas de computação, na realocação da equipe de trabalho, contratação de pessoal, entre outras coisas. Parte deste recurso também foi direcionado para a organização do Programa Carne de Qualidade da ARCO, que hoje conta com um selo de certificação dos produtos.
ARCO - Qual a visão das principais ações que a ARCO deve ter em 2010?
Paulo Schwab - Além destas ações citadas anteriormente e que precisam ter continuidade porque vão trazer muitas melhorias para o setor em médio prazo, a ARCO pretende trabalhar fortemente na questão de estruturação da atividade. Se olharmos para o setor da lã, da carne e do leite, ainda há muito que fazer, principalmente junto aos produtores. É preciso conseguir levar as tecnologias para dentro da porteira, melhorar os índices de produtividade e rentabilidade. É preciso mostrar aos representantes eleitos para as funções legislativas que esta é uma atividade de extrema importância para a economia, mas que ainda não conseguiu deslanchar por conta de alguns detalhes importantes, como por exemplo, falta de recursos governamentais direcionados a estruturação da cadeia produtiva. Este é o lado político, que eu penso que precisa ser trabalhado.
Há um outro setor no qual já avançamos, mas para o qual eu tenho um sonho. Quase realizado, é certo, mas não completo. Eu imagino os nossos inspetores técnicos, equipados com modernos celulares, acessando nosso sistema de registro lá mesmo dentro da fazenda do nosso associado, passando os dados do rebanho que ele acabou de vistoriar. E em minutos estar tudo registrado em nosso banco de dados. E para que isto? Para agilizar. Quando a ARCO se propôs a trabalhar com o Setor de Registros sabia que era uma prestação de serviço que necessita ser ágil, de uma precisão de relógio suíço, porque muitas pessoas dependem do resultado operacional deste setor. E por ter esta consciência, é que estamos e ainda iremos investir muito em tecnologia de informática, melhorando o site ou os sistemas de acesso de forma a facilitar para todos. É isto que penso ser necessário e que vamos realizar ao longo de 2010.
ARCO - Como está a representatividade do setor hoje? Já existem associações em todo o Brasil?
Paulo Schwab - Demorou bastante, foi um processo que nos tomou tempo e dedicação, mas hoje, felizmente já temos Associações Estaduais de Criadores em todo o Brasil. Isto é bom porque fortalece todo o setor e se criam formas de representatividade local, regional. Podendo cada uma buscar solucionar questões importantes do setor, junto às autoridades do seu estado, podendo contar sempre com o suporte de toda a equipe da ARCO.
ARCO - A ovinocultura tem de certa forma, quatro eixos de negócios. A lã, a carne, em fase de crescimento, a pele e o leite. Quais as ações feitas pela ARCO para cada um dos setores e como cada um pode ser trabalhado para aumentar sua participação no mercado interno e externo? Até que ponto a ARCO promoveria estas ações?
Paulo Schwab - A ARCO apóia e faz questão que sejam formadas, as Câmaras Setoriais da Ovinocultura em todos os estados. Porque elas se transformam em fóruns para debater o setor com todos os representantes da cadeia produtiva desta atividade. Veja que somos produtores de lã, carne, leite e pele, mas ainda em volume insuficiente para abastecer o nosso imenso mercado. De tal forma que precisamos comprar de outros países para complementar à demanda que temos internamente. Por ter esta visão, estamos estudando e temos buscado que nossa diretoria estude um pouco mais a fundo cada um destes segmentos de produtos resultantes da atividade a fim de propor ações específicas que garanta melhores colocações no mercado e, por consequência, remuneração adequada ao produtor.
A lã tem de certa forma, um modo de operação já estruturado. Apesar de que parece que ainda existem potenciais mercados compradores que não estão sendo explorados. A carne está passando por um momento de crescimento, mas ele ainda é desordenado. Estamos acompanhando o setor para ver algumas proposições de ordenamento da cadeia. O caso de leite é interessante porque se tornou um nicho de mercado para produção de queijos finos e que pode crescer muito se incentivarmos, por exemplo, que produtores familiares, já acostumados com a atividade leiteira, agreguem ovinos em suas propriedades. E para a pele precisamos mesmo é fazer um raio x para conhecer de perto a realidade deste segmento que, ao que se sabe, movimenta milhões de dólares.
ARCO - O que representa a ARCO chegar aos 68 anos?
Paulo Schwab - A alegria de uma jovem entidade que tem muita energia ainda para enfrentar os desafios de hoje e os que estão vindo amanhã!
A reportagem é Agropress Agência de Comunicação, resumida e adaptada pela Equipe FarmPoint.
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