Ao mesmo tempo, alguns fatos me deixam receosos, por exemplo, de como a Marfrig pretende estruturar a cadeia indo contra diversos modelos de sucesso onde a ovinocultura é estruturada como Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, França, Espanha, Irlanda, Uruguai. Parece que quer-se criar um novo modelo, com itens que aparentemente podem levar ao insucesso da atividade e trazer grande desanimo no setor.
Primeiramente, pela ideia de confinamento de cordeiros. Sabe-se que trabalhando com animais de genética melhorada, consegue-se em rebanhos comerciais, cordeiros que atinjam o peso de 30 a 40 kg com 90 a 120 dias, alimentados basicamente com o leite materno. A utilização destes animais melhora a lucratividade do produtor de carne, que gastará menos com alimentação concentrada.
Não podemos esquecer o fato da ovelha ser ruminante e temos de explorar a maravilhosa capacidade de transformar mato (fibra) em algo nobre como a carne (proteína). A utilização de alimentos como milho e soja encarecem a produção, podendo inviabilizá-la.
Materiais técnicos publicados inclusive neste site mostram a desvantagem econômica para o produtor de confinar, além do fato de vender animais antes do peso de abate não ser economicamente interessante ao produtor e o stress causado pelo deslocamento do cordeiro para o confinamento traz quebra de ganho de peso e retardo para atingir o peso final, encarecendo o produto final.
O confinamento em barracão traz um grande custo de mão de obra e uma alta concentração pode trazer diversos problemas sanitários, principalmente pela grande umidade acumulada no confinamento, trazendo problemas respiratórios e frieiras de casco.
Referente a utilização do Highlander e Primera, com certeza é uma estratégia operacional da empresa que não cabe a ninguém julgar, porém lembro de alguns detalhes que, novamente, fogem dos modelos de criação industrial de ovinos viáveis e rentáveis pelo mundo.
O programa da Rissington tem um ideal muito nobre e interessante, porém a quantidade de animais testados é inúmeras vezes menores quando comparado, por exemplo, ao programa Lambplan, que avalia, só da raça Poll Dorset, mais de 300 mil animais por ano, trazendo um resultado para produção de carne muito maior.
Outro fator é a existência de raças muito mais adaptadas ao cenário nacional e devido a extensão do Brasil aos cenários regionais. Será que a adoção e valorização das outras raças como Texel, Ile de France, Poll Dorset, em cima de raças maternas como Dorper, White Dorper, Morada Nova, Santa Inês não seria interessante a nível de ovinocultura nacional e não só empresarial?
Peço desculpas pelos comentários, mas pelo fato de acreditar no projeto de ovinos da Marfrig para a ovinocultura brasileira, coloco aqui algumas considerações que talvez sejam interessantes a nível da ovinocultura brasileira e mais uma vez parabenizo a Marfrig pela empreitada de verticalização da ovinocultura brasileira.
A ovinocultura brasileira é uma realidade e hoje, como diz Dr. Gabriel Jorge Neto, um grande nome da avicultura brasileira, tem todo o potencial que a avicultura brasileira apresentava a 30 anos atrás e atualmente o Brasil é o maior exportador de carne de frangos do mundo com um valor de mercado acima da média mundial. São projetos como este que alavancarão a atividade e farão da ovinocultura brasileira daqui a 30 anos o que hoje é a avicultura brasileira."
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Diogo J. Watanabe
São Paulo - São Paulo - Zootecnista
postado em 29/01/2010
Olá Pedro.
Você escreveu um ótimo artigo e também concordo que a verticalização da cadeia é a melhor opção para o crescimento da ovinocultura. Porém, a minha visão é outra.
O custo de implantação de um sistema extensivo é alto, porque a área utilizada é bem maior quando comparada a de um sistema semi-intensivo, havendo a necessidade de um gasto superior com a aquisição do terreno, sem falar no custo para formar essas pastagens.
-Qual seria o tamanho de uma propriedade com 1000 matrizes?
-Qual seria a taxa de lotação?
-Seria um sistema de pastejo rotacionado?
-Esses animais receberiam suplementação durante a seca?
-O custo de manutenção da pastagem não seria maior?
No sistema semi-intensivo, a utilização do creep-feeding propicia um desenvolvimento mais rápido das papilas ruminais e maior peso à desmama, além de antecipar o desmame e possibilitar o retorno da ovelha à reprodução (menor intervalo entre partos).
Quando os cordeiros são destinados ao confinamento, eles já estão acostumados a ingerir a ração, diminuindo o período de adaptação. Sem contar que o índice de conversão alimentar será menor utilizando uma ração balanceada.
No confinamento, podemos manipular as dietas para atingir os objetivos, e até mesmo contornar problemas com maior facilidade e agilidade.
Os dejetos provenientes do confinamento podem ser utilizados como fertilizantes, ajudando a diminuir o custo de manutenção da pastagem.
O objetivo deste comentário não é provocar discórdia, apenas acho interessante colocar os dois pontos de vista.