No Brasil, os problemas causados pelo La Niña estão concentrados no Sul e as previsões meteorológicas atuais indicam que as demais regiões do país não deverão ser afetadas de forma significativa. Na América do Sul, até agora a Argentina é o país mais prejudicado, mas há perdas no Uruguai. Paraguai e Bolívia também estão atentos ao fenômeno.
No Rio Grande do Sul, o governador em exercício, Beto Grill, afirmou ontem que vai estudar a possibilidade de baixar um decreto de situação de emergência em âmbito estadual, indicando os municípios atingidos pela seca. A Emater-RS promete divulgar hoje um levantamento com números mais detalhados sobre a quebra da safra de verão. No fim de dezembro, a entidade admitiu que pelo menos metade da área plantada de milho no Estado, que totaliza 1,2 milhão de hectares, já apresentava algum grau de "perdas irreversíveis" - em alguns casos, de até 40%.
Até agora, a previsão da Emater-RS é de produtividade de 4,6 toneladas de milho por hectare e de uma safra total de 5,3 milhões de toneladas no Estado.
A soja está com o plantio das lavouras praticamente concluído e, por enquanto, não há previsão de quebra. Mas, na semana passada, a Emater-RS informou que a falta de umidade já está prejudicando o desenvolvimento das plantas. A produção estimada do grão nesta safra chega a 10,3 milhões de toneladas, em 4,1 milhões de hectares.
Conforme Grill, 42 municípios gaúchos já decretaram situação de emergência e outros 24 enviaram notificações prévias à Defesa Civil do Estado. O governador em exercício estima que pelo menos mais 110 prefeituras seguirão esse rumo nos próximos dias e o recurso ao decreto estadual, sugerido a ele pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, pode acelerar trâmites como a liberação de ajuda federal para as regiões atingidas e também o acesso dos produtores ao seguro agrícola.
Em Santa Catarina, onde a falta de chuvas já levou 44 municípios a decretar situação de emergência, o extremo-oeste, na fronteira com a Argentina, é o mais castigado. A região reúne municípios que tiveram quebra de até 50% na safra de milho. Segundo Airton Spies, secretário em exercício da Agricultura do Estado, as perdas podem se agravar se a previsão da meteorologia se confirmar e Santa Catarina voltar a receber apenas em março chuvas em volumes adequados para a recuperação dos mananciais hídricos e reservatórios de água. Se o quadro for confirmado, a Defesa Civil estima que 132 municípios decretarão situação de emergência até o fim do verão.
As lavouras catarinense de milho são as mais castigadas, já que é época de floração da planta. Segundo relatório da Empresa de Pesquisa e Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a perda na produção do grão é estimada em 8,5% até o momento. A projeção inicial era de colheita de 3,84 milhões de toneladas, 6,4% mais que na safra 2010/11. Considerando o preço médio de dezembro do ano passado, o prejuízo ficará em R$ 129 milhões.
Segundo Spies, a soja não foi tão castigada no Estado porque a cultura ainda não entrou em fase de floração. A estimativa da Epagri é de que as perdas mais significativas ocorram no extremo oeste, onde a quebra média da região ficará entre 10% e 15%. Santa Catarina estimava produzir 1,4 milhão de toneladas.
A produção de feijão e leite também sofreu prejuízos com a seca. O relatório da Epagri avalia que a perda do grão até o momento é de 4% na média do Estado em relação ao volume inicialmente esperado, de 127,1 mil toneladas. No leite, o prejuízo é da ordem de 16%. A previsão de volume de produção para novembro e dezembro era de 165 milhões de litros.
Segundo Spies, uma comitiva liderada pelo governador em exercício, Eduardo Pinho Moreira (PMDB), deve visitar a região oeste na sexta-feira. Entre as medidas previstas está a aceleração na liberação de recursos do Proagro e convênio com as prefeituras para contratação de caminhões para o abastecimento humano nas cidades. O governo prevê também a liberação de financiamento, sementes e adubos para o plantio na safrinha, caso a chuva retorne antes de 15 de fevereiro.
No Paraná, o La Niña, que se caracteriza pelo resfriamento da água na região equatorial do Oceano Pacífico, também já maltrata as lavouras. Depois do déficit hídrico de dezembro, as lavouras de soja e milho estão, em geral, em piores condições do que em meados de dezembro.
A matéria é do Valor, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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