Em Maringá, por exemplo, no noroeste do Paraná, o movimento do comércio, que costuma acelerar nesta época do ano, ainda não deslanchou. "O empresário do agronegócio de grãos não está confiante para investir. O mercado imobiliário está mais seletivo e pouco negócios foram fechados", conta o corretor João Granado, da Granado Imóveis, de Maringá.
Em Sorriso, no Mato Grosso, o quadro se repete. Na Via Norte, concessionária de veículos da GM, as vendas de carros para produtores rurais caíram 40% nos últimos dois meses, conta o operador da revenda Antonio Parola. Normalmente, nesta época do ano, os negócios com veículos zero quilômetro ficam aquecidos por causa da renda obtida com a safra de soja.
A rede Lojas Colombo, especializada em móveis e eletrodomésticos e com forte presença no Sul do País, onde predominam os grãos, não registrou crescimento de vendas nas cidades onde se planta mais soja.
"Ainda não sentimos o impacto da renda da soja", afirma o diretor de marketing da rede, Thiago Baisch. Ele ressalta que, neste momento, o excedente do grão provoca problemas de estocagem nos Estados do Sul porque o agricultor está segurando o produto na expectativa de que os preços melhorem.
O Brasil terá neste ano uma produção de 67 milhões de toneladas de soja, maior safra da história. Graças ao clima favorável, a produtividade média foi recorde e atingiu 2 mil quilos por hectare, segundo dados da consultoria Safras &Mercado.
Esse excedente de produto no Brasil e no mundo somado à boa perspectiva da safra a ser plantada nos Estados Unidos e à recuperação da produção na Argentina, além da redução especulação com o grão pelos fundos de investimento, fizeram o preço da soja despencar.
No Paraná, por exemplo, onde a safra já foi toda colhida, a saca de 60 quilos custava na última quinta-feira (01) R$ 33,79, segundo o Centro de Estudos de Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq). É uma cotação quase 30% menor que a registrada em igual período do ano passado.
Na expectativa de preços melhores, os produtores estão vendendo só o necessário para pagar as contas. Neste momento, apenas 25% da produção foi comercializada. "Tem muita produção, mas não necessariamente renda no bolso do agricultor de soja", diz o José Cícero Aderaldo, superintendente de comercialização da Cocamar, uma das maiores cooperativas de grãos do Paraná.
Nas projeções da RC Consultores, o quadro não é favorável para a soja e o milho. O preço em reais recebido pelo produtor brasileiro de soja neste ano deve recuar 13% em média em relação à cotação média de 2009.
No caso do milho, a perspectiva é de que o preço médio em reais pago ao produtor pela commodity caia neste ano 7% na comparação com a média registrada no ano passado.
A reportagem é do Estado de São Paulo, adaptada pela Equipe AgriPoint.
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